“Roque Severino: todo dia morre gente que nem vivia” estreia nesta quarta (16)
O espetáculo é baseado em duas grandes dramaturgias brasileiras, “O berço do herói” de Dias Gomes, e “Morte e vida severina” de João Cabral de Melo Neto, e entra em circulação em ambiente virtual.
Publicado 16/12/2020 12:32 | Editado 16/12/2020 12:33
Estreia nesta quarta-feira(16), nas telas, através da plataforma do portal MeVer, com dezenove atores em cena, entre estudantes, professores e fazedores de arte e cultura, o espetáculo “Roque Severino: todo dia morre gente que nem vivia” foi aprovado pela ManausCult, no Edital nº 002/2020 – Concurso-Prêmio Manaus de Conexões Culturais – Lei Aldir Blanc. A partir da formação de um grande coletivo, que tem integralizado universidades, professores, alunos e, sobretudo, comunidades, o espetáculo surgiu num contexto muito complexo, de isolamento, onde as pessoas estavam com aquela sensação de impotência, mas ao mesmo tempo, com aquele desejo enorme de transformar a realidade ao seu redor, afirma a coordenadora do projeto, Amanda Ayres,
“O projeto possibilitou encontros em oficinas de formação, num contexto em que professores e estudantes aprendem juntos, todos ensinam e todos aprendem, em prol de uma proposta que tem alimentado nossos corações, por possibilitar construir uma obra artística, colaborativa, em que todos e todas são criadores e criadoras”, diz e acrescenta:
“Foi a partir do desejo de aproveitar a potencialidade do teatro e a potencialidade das pessoas e formar um grande coletivo, aproveitando a dimensão das tecnologias contemporâneas, para pensar como a gente poderia estar juntos, todos e todas de mãos dadas, que surgiu o projeto guiado por um coletivo que reúne mais de quarenta pessoas, conteúdos de diversas disciplinas e a potencialidade de cada um dos professores, abrindo uma nova perspectiva, voltada para a pedagogia de projetos, como uma prática em que todos os conteúdos fazem sentido, em prol de um objetivo comum, que foi a montagem deste trabalho”.
Hoje, a professora de artes cênicas da Universidade Federal do Amazonas (UEA), Amanda Ayres, observa que é possível trazer a dimensão da educação e da arte conectada à vida. “Para além de uma perspectiva que impõe o aprisionamento das grades curriculares, a gente conseguiu abrir a ciranda, abrir o círculo de cultura proposto pelo Paulo freire e fazer uma grande brincadeira coletiva”, afirma.
O mais surpreendente para ela, é compreender que ao se lançar ao risco de experimentar novas possibilidades, muitos aspectos inovadores podem surgir. E foi com este desejo que o projeto “Roque Severino: todo dia morre gente que nem vivia” conseguiu integralizar vários professores, artistas, estudantes, atores, atrizes, fazedores de arte, formando essa dimensão de mais de 40 pessoas reunidas, na interconexão entre a floresta amazônica, Brasília, São Paulo, Rio Grande do Sul e Portugal, neste desejo de realizar.
Hoje o espetáculo, baseado em duas grandes dramaturgias brasileiras, “O berço do herói” de Dias Gomes, e “Morte e vida severina” de João Cabral de Melo Neto, entra em circulação e deve se manter em movimento. “Roque Severino: todo dia morre gente que nem vivia” é uma obra dinâmica, na qual o público também pode participar, interagir pelo chat, construindo a cada novo dia, uma nova dramaturgia. “Isso é o que o espetáculo traz de novo”, afirma Amanda Ayres.
“Todas as nossas expectativas foram superadas, tivemos total dedicação deste coletivo que verdadeiramente acreditou nesta proposta ousada e mergulhou nas possibilidades em que a gente se desafiou”, revela. O espetáculo, como resultado do período acadêmico, em contexto de pandemia, possibilitou visualizar a metodologia ensino-aprendizagem, para além da dimensão das atividades acadêmicas, dos prazos, notas, e conseguiu verdadeiramente dar sentido, para as ações que estavam se realizando, através de uma criação pautada na realidade vivida, integralizando ensino, pesquisa e extensão e, ao mesmo tempo, possibilitando uma prática profissional, na vida das pessoas envolvidas.
“Hoje estamos entrando em circulação, o que demonstra o quanto este envolvimento coletivo e a proposta de uma prática artística e pedagógica conectada a vida pode trazer muito significado para todas as pessoas envolvidas”, diz Ayres e acrescenta:
“Acreditamos que esta vivência deixará sementes que já começam a brotar, nesta proposta de práticas pedagógicas inovadoras. Sementes que irão florescer, e trazer novos frutos que vão gerar novas sementes. Ficarão muitos aprendizados e a confiança de que esse contexto coletivo vai se manter, através da utilização da tecnologia para conexão das pessoas, para a saída do contexto do isolamento, mantendo toda a precaução e a segurança, pensando na saúde física, mental e na democratização do acesso a arte e a cultura.
O lugar das universidades
Para o coordenador musical do projeto e preparador vocal, Luiz Augusto Martins, a universidade não deve voltar para o mesmo lugar de antes da pandemia. “Sinto que a universidade sem dúvida precisar rever o próprio lugar que ela ocupa, tanto em nível social, quanto ao nível da produção de conhecimento, na velocidade exigida hoje. “Acredito na mudança, inclusive das formas com que se constroem as verdades e construções científicas. De acordo com todo o movimento que a internet e as redes sociais trazem, desde seu advento, a universidade precisa mudar, começar a se rever e, sem dúvida, essa pandemia trouxe um chamado para enxergar essa necessidade de transformação nas metodologias de ensino-aprendizagem”.
Segundo ele, o projeto Roque Severino é um encontro de linguagens, uma desterritorialização de disciplinas, em função da execução de um projeto artístico. “Uma realidade que sem dúvida, muda a relação ensino-aprendizagem, no teatro, e abre mais possibilidades de pesquisa”, diz e acrescenta: “começamos com a pergunta: nada substitui a presença? É possível atuar em telepresença? Com o Roque Severino vimos que é possível vivenciar a dinâmica. Sinto que isto só abre mais possibilidades de desterritorialização da estética e friccionamento de realidades”.
Música e poesia
Sobre o projeto musical da peça, o professor de artes cênicas da UEA afirma que foi uma parceria maravilhosa com um grande diretor musical do Cerrado, o arte-educador, Diogo Cerrado. “Ele tem uma expertise muito grande no campo da teatralidade, muita experiência na criação de trilhas sonoras, de músicas cênicas para espetáculos teatrais”, revela.
Para ele, o espetáculo traz ao público atmosferas, tangencia lugares poéticos que estão dentro das obras, no discurso de uma arte e vida severina. “Não podemos esquecer que esta peça tem composição feita por Chico Buarque de Holanda, e foi premiada na França, também. Mas nós conseguimos trazê-la para um contexto nosso, uma realidade amazônica e amadurecemos nesta pesquisa musical, chegando o mais próximo possível de sonoridades amazônicas. Este foi o nosso convite”, diz.
Sobre a parceria da UEA e do coletivo Arte & Comunidade com o portal MeVer, Luiz Augusto afirma que trouxe, sem dúvida, um caráter de expansão e ineditismo. “Uma parceria com uma plataforma que pesquisa e faz teatro, nessa estética, nessa vertente, de maneira tão comprometida, sem dúvida trouxe pra UEA um lugar de projeção pelo alcance atual do portal MeVer. Isto traz uma perspectiva de continuidade para o espetáculo, num projeto como esse que surge numa universidade e já consegue uma circulação a nível municipal através do edital da ManausCult.
Destaca Luiz Augusto que esta obra quer tocar, quer relacionar com o público, com este pertencimento da escuta, pelo que os atores e o núcleo de criadores do espetáculo também traziam de paisagens sonoras. “Toda a trilha é feita a partir desse diálogo, de uma filtragem entre eu e o Diogo Cerrado, diretor musical da peça, que também criou exclusivamente para a obra.
Segundo ele, o projeto pretende seguir essa semente de experimento teatral que deu certo, numa dramaturgia completamente autoral, no encontro de outras duas grandes dramaturgias brasileiras. “A construção musical do espetáculo é completamente inédita. Veio a partir da descoberta de linhas estéticas, da adoção de formas animadas, de uma interpretação com base nos tipos. Esperamos você lá para conferir o conteúdo de Roque Severino”, dispara Luiz Augusto.
Plataforma teatral em cena
A direção cênica do espetáculo é assinada pelo fundador do Portal MeVer, Guilherme Carvalho, que trouxe avanços cênicos para o coletivo, na área da criação teatral em telepresença. “Sem dúvida, é o que há de mais radical, ao nível do ensino-aprendizagem, neste contexto de caos social e pandemia, afirma Guilherme Carvalho sobre a técnica.
Sobre um olhar para o futuro, quanto ao espetáculo “Roque Severino: todo dia morre gente que nem vivia”, o diretor afirma que olhando para o teatro, no início, quando era determinante a questão da possibilidade global que as companhias tinham que sair em trânsito, de diferentes cidades, e olhando agora para frente, o horizonte se amplia, o trânsito hoje é simultâneo e intercontinental, com as facilidades da internet e de levar arte de qualidade para outros cantos de forma antes inimaginável.
“A escala mudou e a inserção de comunidades na perspectiva do teatro-comunidade junto a UEA, em parceria com o Portal MeVer, é um convite para um casamento muito frutífero entre os profissionais e a formação”, afirma Guilherme Carvalho.
Fonte: Assessoria de Imprensa