Médicos pedem mais cuidados em momento de altíssimo risco
Médicos cearenses defende uma comunicação mais ostensiva sobre o tema, que alerte as pessoas para o grave risco que todos correm com a segunda onda da pandemia.
Publicado 16/12/2020 15:26 | Editado 17/12/2020 00:19
O atual momento da pandemia, com repetidas e consistentes elevações nas curvas de infecções por coronavírus e de óbitos por Covid-19, com hospitais fortemente pressionados e grande número de casos graves da doença, precisa ser melhor percebido pela população cearense, para que todos voltem a tomar medidas de máxima prevenção. A avaliação é de médicos e médicas cearenses do Coletivo Rebento, que apontam como extremamente preocupantes os níveis crescentes dos indicadores epidemiológicos, com novos casos e suspeitas se multiplicando nos círculos familiares e profissionais, entre outros.
Os médicos e médicas do coletivo alertam que é preciso haver uma comunicação mais direta, presente e enfática do Poder Público, quanto a termos entrado em um novo momento de alto risco para todos e todas. A preocupação é que, diante da ausência de comunicação mais ostensiva sobre o tema, ainda não esteja claro para as pessoas o grave risco que todos correm, com a segunda onda da pandemia, que vem castigando até mesmo países como a Alemanha, entre os mais preparados para implementar medidas preventivas e de tratamento.
O coletivo cearense é formado por médicos e médicas de diversas especialidades, incluindo infectologistas, pneumologistas e epidemiologistas. O grupo vem atuando desde o início da pandemia na defesa do SUS e na tentativa de contribuir com divulgação de informações técnicas baseadas nas melhores evidências científicas sobre Covid-19 para todos e todas, além de cobrar providências do poder público, em especial do Governo Federal, para que os números de infectados e de vítimas fatais não fossem tão vergonhosamente altos.
Pessoas não “acordaram”: riscos estão sendo subestimados
Para eles, os elevados riscos do atual momento estão sendo subestimados pela sociedade, seja por falta de informação clara, explícita e enfática quanto ao grave cenário atual no Ceará e em todo o Brasil, seja por falta de suporte econômico e social do governo para que mais pessoas possam ficar em casa. Ou ainda pelo boicote do Governo Federal às políticas de prevenção, tratamento e vacinação. Pela falaciosa “escolha” entre “vidas ou economia”, ou ainda por cansaço, após nove meses de tentativas de que mais pessoas incorporem medidas de prevenção a seu dia a dia.
Cresce a preocupação com o contágio familiar
Nas últimas semanas, além de dois grandes eventos que chamaram as pessoas a sair de casa, que foram as eleições em 1º e 2º turno, a imprensa mostrou em inúmeras matérias praias, praças e ruas lotadas. Mais recentemente, o comércio ganhou impulso com a proximidade das compras de Natal, com grande movimentação popular no último sábado, 12/10, por exemplo.
Também aumentaram visivelmente, nos plantões em hospitais, os atendimentos em que vários membros de uma mesma família contraíram Covid. A avaliação é de que está crescendo, na prática, a transmissão familiar, por jovens que estão trabalhando presencialmente ou participando de festas e outros eventos sociais e acabam contaminando, em almoços de domingo ou outras visitas, pais e avós que estavam guardando o devido isolamento.
O que fazer? Comunicar é preciso e urgente
Diante da omissão do Governo Federal, os médicos e médicas do Coletivo Rebento sugerem a imediata realização de uma grande campanha de comunicação, em nível estadual e municipal, com alerta enfático sobre os riscos reais do atual momento, a necessidade de que quem puder fique em casa e que as famílias isolem, de fato, seus integrantes idosos e/ou que apresentem comorbidades que elevam o risco de quadros graves de Covid-19. Também é urgente evitar visitas a pais e avós, bem como festas de natal e ano novo, mesmo com “poucas pessoas”, caso estas residam em domicílios diferentes.
O coletivo destaca que seria necessário muito mais do que uma campanha de comunicação, e sim condições reais, incluindo apoio social e econômico, para que todos os profissionais não essenciais neste momento pudessem ficar em casa, para que houvesse de fato um “lockdown”, que não chegou a haver realmente sequer nos piores meses da pandemia em sua primeira onda. Em vez disso, o fim do pagamento do auxílio emergencial, já reduzido para 50% nos últimos três meses, estimula o movimento contrário, de necessidade de trabalho presencial para sobrevivência material.
Dentro do atual contexto, porém, a comunicação clara e explícita por parte do governo, para que mais pessoas compreendam os riscos do atual momento, é uma medida urgente. Voltar a comunicar o “fique em casa”, “lave as mãos”, “evite aglomerações”, “não se exponha a risco”, acrescentando instruções como “evite visitas a parentes idosos”, “evite sair para compras de Natal”.
Também é preciso lutar para que mais pessoas tenham acesso aos testes RT-PCR para detecção do coronavírus. E da batalha para que as vacinas sejam disponibilizadas a todos e todas o quanto antes – outra tarefa da luta contra a pandemia dificultada pela ação desordenada do Governo Federal. O momento é de reforçar os cuidados e a conscientização sobre a corresponsabilidade, o dever que a pandemia cobra de cada um, para a proteção da vida de todos.