Para Laura Carvalho, cenário social tende a piorar

Segundo a economista, prioridade é evitar o colapso e teto de gastos precisa ser “redesenhado”.

A economista Laura Carvalho

Como chegar a um “novo ciclo de crescimento” era o tema proposto pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, à professora Laura Carvalho e ao pesquisador Samuel Pessoa. Para ela, o cenário socioeconômico no início de 2021 tende a se agravar com o fim do auxílio emergencial. É preciso, defendeu, uma “agenda de crescimento”. Já o economista da FGV espera por recuperação fiscal no próximo ano para dar condições de um novo “contrato social” em 2022.

A primeira pergunta do mediador, o jornalista Fernando Canzian, da Folha de S.Paulo, foi justamente sobre o efeito do término do auxílio emergencial. Um cenário nada promissor, comentou a professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Ela lembra que a desigualdade caiu durante a pandemia devido ao benefício. Agora, o efeito deverá ser contrário. E rápido.

Desigualdade e incerteza

“Aquilo que foi neutralizado durante 2020 vai vir, já está vindo, e vai vir de uma vez só em 2021”, afirmou Laura, lembrando que o país teve aumento de desigualdade a partir de 2016, mas de forma gradual. “Agora, o impacto vai ser de uma hora pra outra. A gente vai ter uma situação muito difícil, social e econômica. E é difícil imaginar uma retomada rápida.”

A economista observa ainda que o país nem conseguiu aprovar o orçamento para o próximo ano. A incerteza aumenta com a “segunda onda” da pandemia, que afeta a decisão de investimento das empresas. Além disso, houve uma “devastação” entre micros e pequenas empresas, no comércio e nos serviços.

Laura propõe um “redesenho” do teto de gastos, com discussão transparente no Congresso Nacional. E observa que em outros países isso geralmente é estabelecido de forma plurianual, com previsão de crescimento, arrecadação e gastos, entre outros itens. No Brasil, se prevê apenas um reajuste pela inflação, sem considerar a arrecadação e sem garantir a estabilidade da dívida em relação ao PIB. “O teto está colapsando”, afirma. “É isso que faz com que a gente não consiga aprovar o orçamento para o ano que vem.”

Já o pesquisador considera que o país de certa forma “perdeu” o momento ideal de discutir um teto plurianual. Poderia ser em 2005, diz Pessoa, quando a situação fiscal era melhor. Agora, ele acredita que primeiro é preciso “virar a página da pandemia” para então repensar o contrato social, em 2022.

Colapso social

Laura ponderou que, de fato, seria melhor discutir em outra situação, assim como a reforma administrativa, apresentada, segundo ela, com objetivo único de aumentar arrecadação. “O fato é: estamos nesse impasse. O que é mais urgente numa situação como essa? Me parece que o colapso social se coloca no topo das prioridades.”

Dizendo-se “mais otimista” que sua colega economista, Pessoa avalia que a crise se concentra em algumas áreas ligadas a serviços que conseguirão se recuperar no pós pandemia. “É verdade que os pequenos negócios quebraram. Mas acho que a reconstrução vai ser muito mais rápido do que em crises normais”, afirma o pesquisador, acrescentando que se trata de uma crise “de fora pra dentro” e apostando na renegociação.

Mas Laura afirma que alguns setores que tenham retomada vão sofrer com a retirada do auxílio emergencial. E observa que a economia brasileira estava em “situação rastejante” mesmo antes da crise provocada pela pandemia.

O presidente consegue?

Canzian quer saber se o presidente da República, que costuma ser “errático nas declarações”, conseguirá ter sangue-frio suficiente para conduzir o país em um processo de recuperação. Pessoa observa que a popularidade do presidente vai cair com o fim do auxílio. Para Laura, começa a perder força a percepção de que era preciso “se livrar do Estado” para acabar com a corrupção.

A última pergunta é sobre o emprego. Ambos concordam que o que determina uma recuperação é a taxa de crescimento econômico. Laura avalia que o desemprego crescerá no início do ano e começará a cair no segundo semestre, dependendo do ritmo da atividade. “Mas a gente está caminhando para duas décadas perdidas em termos de renda per capita, duas décadas para recuperar a renda de 2014 . Acho que precisamos de uma agenda de crescimento, de retomada. Não temos nesse governo.”

Fonte: Rede Brasil Atual

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