Maradona – O gênio que escolheu ficar ao lado do povo
Morreu, nesta quarta-feira (25), Diego Armando Maradona, sócio emérito do clube dos gênios da pelota e integrante titular do time do povo.
Publicado 25/11/2020 20:28 | Editado 25/11/2020 22:56
Foi no dia 22 de junho de 1986 no Estádio Azteca. Jogavam Argentina e Inglaterra pelas quartas-de-final da Copa do Mundo. Um jogo cercado de tensões extra-campo. No dia 14 de junho, 9 dias antes, haviam se completado apenas quatro anos do fim da guerra das Malvinas, que marcou uma dolorosa derrota da Argentina contra o império britânico. Nas arquibancadas, as câmeras registravam brigas, pipocando aqui e ali entre ingleses e argentinos, no campo, a Argentina contava com uma arma monumental: Diego Armando Maradona. Aos seis minutos do segundo tempo Maradona marca o primeiro gol, de mão (“la mano de Dios”, segundo ele). Quatro minutos depois ele arranca do seu campo, dribla quem estava no caminho, inclusive o goleiro, e marca o que muitos consideram um dos gols mais bonitos da história das Copas do Mundo.
Vale a pena ver o vídeo acima, não só pelo gol, mas também pela narração do locutor argentino que, alucinado, ameaça chorar e pergunta: “De que planeta ele (Maradona) é?”. A Argentina foi campeã mundial e ninguém discorda que tal feito seria impossível naquela Copa se Maradona não estivesse em campo.
De fato, quem viu Maradona jogar sabe que foi um gênio do futebol, que só a paixão clubística cega pode comparar com qualquer outro contemporâneo, brasileiro ou estrangeiro, que por mais craque que tenha sido, está tão distante de Maradona como o brilho do sol está distante de uma lâmpada. Maradona é do nível de um Garrincha, de um Pelé, e neste clube seleto, onde Maradona é sócio com honras, poucos merecem entrar.
Mas não foi só nos campos que Maradona encantou. Afinal, são raros os jogadores que, vindos da pobreza, resistem aos paparicos da mídia hegemônica e ao assédio dos poderosos, esquecendo suas origens e, como peixes ingênuos, deixam se arrastar para onde os leva a corrente. Já Maradona não. Resolveu nadar contra a corrente. Amigo de Fidel Castro, de Hugo Chávez e de Lula, sempre que havia um “jogo” do povo contra o imperialismo e seus representantes, “Dieguito” sabia qual era o lado certo do campo em que deveria estar.
Não à toa, o Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo lançou a seguinte nota:
“O Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo lamenta o falecimento de Diego Armando Maradona, um desportista extraordinário, que sempre esteve ao lado dos povos”.
Em 2015, escreveu Maradona a Fidel Castro:
“Fidel, se algo aprendi contigo ao longo dos anos de amizade sincera e bela, é que a lealdade não tem preço”.
Maradona é como Deus para alguns argentinos (tem até uma igreja). E como um bom Deus tem vários nomes, um deles é “El Pibe de Oro”. Pois bem, El Pibe de Oro morreu, nesta quarta-feira (25/11), na mesma data em que morria seu amigo, Fidel Castro, há quatro anos. O Destino, um Deus caprichoso, talvez queira sinalizar algo com isso. Como não temos o dom para interpretar os sinais divinos, vamos nos consolar com o fato de que Cuba continua altiva e soberana e que “El Pelusa” (outro dos nomes do “Deus” Maradona) declarou, em sua última entrevista, que era um homem feliz.
Que bom Dieguito que você foi feliz, pois fez feliz a milhões de homens e mulheres amantes do futebol e que fazem parte, como você, do time do povo.
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