Por menor dependência do Brasil e EUA, China comprará soja da Tanzânia
A China e os Estados Unidos travam uma guerra por hegemonia, com o governo norte-americano buscando barrar o avanço econômico e geopolítico da China.
Publicado 29/10/2020 17:08
Maior importador de soja do mundo, a China está buscando novos mercados, com o objetivo de reduzir sua dependência do Brasil e dos Estados Unidos na compra da oleaginosa. A soja é considerada estratégica pelo país asiático, pois é usada na fabricação de ração animal.
Nesta quinta-feira (29), uma matéria do South China Morning Post informou que a China assinou acordo com a Tanzânia para que o país africano comece a exportar soja em grão para os chineses.
Segundo Wu Peng, diretor de Negócios Africanos no Ministério das Relações Exteriores da China, a assinatura está alinhada ao compromisso de Pequim de apoiar as nações africanas por meio da expansão de suas exportações, assumido durante o Fórum de Cooperação Sino-Africana em 2018.
Segundo estimativa da Embaixada da Tanzânia em Pequim, a demanda da China por grãos de soja é estimada em 103 milhões de toneladas por ano, das quais 15 milhões são produzidas internamente e o restante importado. A maior parte vem do Brasil, Estados Unidos e Argentina.
À reportagem do SCMP, Mark Bohlund, analista de avaliação de crédito sênior na REDD Intelligente, disse que há sinais que as exportações agrícolas de países como Quênia e Tanzânia estão crescendo, mas elas ainda atingem uma escala muito pequena.
“Eu acho que, em parte, deve-se ao desejo da China de eliminar sua dependência de importação de soja em grão dos Estados Unidos e Brasil, embora os níveis de produção africanos sejam muito baixos para fazer uma diferença real”, afirmou.
A China e os Estados Unidos travam uma guerra por hegemonia, com o governo norte-americano buscando barrar o avanço econômico e geopolítico da China. No capítulo mais recente, os EUA têm tentado afastar a gigante tecnológica chinesa Huawei do fornecimento de equipamentos para o mercado 5G no Brasil. Existe a chance de Jair Bolsonaro ceder à pressão, devido ao seu alinhamento com o governo de Donald Trump.
Em entrevista recente ao Portal Vermelho, Victor Young, professor doutor do Centro de Relações Econômicas Internacionais da Unicamp, afirmou que o Brasil deveria ter em vista os seus próprios interesses ao decidir a questão, e não os dos Estados Unidos. Ele disse ainda que a China é um país que traça estratégias de longo prazo e poderia investir em transferência de tecnologia e acordos com os países da África como novas fronteiras agrícolas.