Unidade da esquerda para reconquistar o Rio de Janeiro
Com Crivella, Witzel, Maia e Bolsonaro, o Rio é hoje o berço das ideias atrasadas que tomaram conta de todo o Brasil. A unidade eleitoral da esquerda não foi possível, mas isso não significa dizer que uma unidade política entre as três candidaturas não possa existir.
Publicado 27/10/2020 20:22 | Editado 28/10/2020 00:26
Cidade cosmopolita, espaço da diversidade e de experiências políticas inovadoras como os Conselhos Governo-Comunidade na gestão de Saturnino Braga e Jó Rezende em fins da década de 1980, o Rio de Janeiro se tornou nos últimos anos a capital do conservadorismo brasileiro. Com Marcelo Crivella (PRB) na prefeitura da cidade, Wilson Witzel (PSC) no governo do estado, Rodrigo Maia (DEM) na presidência da Câmara dos Deputados e Jair Bolsonaro (PSL) na presidência da República, o Rio é hoje o berço das ideias atrasadas que tomaram conta de todo o Brasil.
O que a eleição municipal de 2020 nos oferece é a possibilidade concreta de virar esse jogo. Não obstante as pesquisas de opinião indiquem que o atual prefeito Crivella e o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) estejam na liderança da corrida eleitoral, as mesmas pesquisas também apresentam as fortes chances das candidatas do campo popular democrático de chegarem ao segundo turno e até mesmo vencer as eleições. Benedita da Silva (PT-PCdoB) e Martha Rocha (PDT-PSB) praticamente empatam com Crivella e podem com algum esforço ultrapassar o atual prefeito nas próximas duas semanas.
Infelizmente, por diversas razões que não cabem ser esmiuçadas, a unidade eleitoral entre os partidos de esquerda não foi possível no Rio de Janeiro. Nós, do PCdoB, envidamos todas as energias possíveis nessa direção. Sempre dissemos, em documentos, resoluções, e intervenções públicas, que o melhor para a cidade seria uma Frente Ampla de todos esses partidos, com a inclusão de até mesmo outros mais ao centro do espectro político, no embate contra as forças conservadoras representadas na chapa Crivella-Bolsonaro. Não obtivemos sucesso e nosso campo começou a eleição em setembro com três candidaturas legítimas: Benedita, Martha e Renata Souza (PSOL).
A unidade eleitoral, como dissemos, não foi construída. Mas isso não significa dizer que uma unidade política entre essas três candidaturas não possa existir. No entanto, não é isso o que temos assistido. Nas ruas e nas redes, lideranças políticas dos partidos das três candidatas se atacam mutuamente. Como se, para chegar ao segundo turno, fosse necessário atacar a companheira que pertence ao nosso mesmo campo. Nessa luta interna fratricida do campo progressista, quem sorri e festeja é a entourage de Crivella.
O chamado que nós, do PCdoB, fazemos aos companheiros do PT, do PDT, do PSB e do PSOL é para que cessem os ataques mútuos entre nossas candidaturas. Se somarmos nossas forças e priorizarmos a denúncia contra o desgoverno reacionário de Crivella, ele certamente estará fora do segundo turno. Nós, do PCdoB, estamos na campanha de Benedita da Silva e batalhamos para que ela vá ao segundo turno e vença a eleição. Mas, se por acaso outra candidatura progressista lá estiver, como Renata ou Martha, também contará com nosso mesmo entusiástico apoio.
Não tenhamos dúvida de que nossa vitória é possível. Ela depende apenas da nossa construção coletiva, generosa e fraterna. Em 2020, vamos reconquistar o Rio de Janeiro para em 2022 reconquistar o Brasil.
Rodrigo Weisz é presidente municipal do PCdoB no Rio de Janeiro
Theófilo Rodrigues é dirigente do PCdoB no Rio de Janeiro
Apesar do que ocorreu em 2018, com as urnas de todo o Brasil desmentindo as pesquisas eleitorais de forma absolutamente surpreendente, percebemos que pesquisas menos confiáveis que aquelas, porque restritas a consultas telefônicas, estão pautando mais uma vez as expectativas. No Rio de Janeiro, não surpreenderá a ida de Marcelo Crivela para o segundo turno, como consequência do esforço do consórcio eleitoral que envolve as milícias e a maioria dos neopentecostais cariocas, esforço a ser realizado nos 3 últimos dias (essa foi a principal marca dos atos que fizeram virar a intenção de voto para Bolsonaro, uma concentração de ataques nas redes e nos espaços sob a influência dos bolsonaristas, como quartéis, territórios sob seu dominio através das milícias, e Igrejas neopentecostais, nos 3 últimos dias antes das eleições), para levar Crivela ao segundo turno. A unidade das oposições a Bolsonaro, principalmente no Rio de Janeiro, cidade que tem 60% de seu território sob dominio de perigosos milicianos, teria que ter ocorrido desde o 1° turno, em torno de uma única candidatura, que explicitasse com clareza o propósito de retomar os territórios do Rio de Janeiro sob o domínio das milícias, posto que não há como desenvolver nenhuma política publica em regiões dominadas por bandidos. Não tendo ocorrido esse acordo orientado pela lucidez política, dificilmente Crivela deixará de ir para o segundo turno. Restará à esquerda unir-se em torno daquele que será o concorrente de Crivela, exigindo que se posicione em relação a medidas que tomará para retomar os territórios da cidade dominados pelos milicianos, pois sem esse propósito que, no Rio de Janeiro, é a condição primeira para a realização de qualquer programa de governo, nada poderá ser transformado. Nenhum acordo com milicianos, sejam eles vereadores eleitos ou não, poderá ser permitido. Essa deverá ser a condição inegociável de apoio àquele que vier a ser o concorrente de Crivela no 2° turno.