Investidores abandonam o país e saldo negativo chega a R$ 134 bilhões
O risco seria comprar o ativo hoje e o real se desvalorizar ainda mais; ou a Bolsa embicar para baixo em um eventual quadro de desarranjo macroeconômico
Publicado 07/10/2020 10:29 | Editado 07/10/2020 17:16
Os investidores estrangeiros estão abandonando as aplicações de risco no país este ano. De janeiro a dezembro, o saldo negativo ficará em US$ 24 bilhões (R$ 134 bilhões). Trata-se da diferença entre as aplicações e retiradas nesse período. Segundo reportagem desta quarta-feira (7) do jornal Folha de S.Paulo, a fuga de capital deve dobrar. Em 2019, as saídas somaram US$ 11,1 bilhões (R$ 62 bilhões).
Outro dado preocupante na matéria se refere aos investimentos direcionados ao setor produtivo, geralmente de longo prazo e voltados à ampliação de empresas comerciais e industriais. Esse será de aproximadamente US$ 49 bilhões, ante US$ 73 bilhões em 2019. “Somando diferentes tipos de entradas e saídas, o Brasil terá um fluxo positivo de dinheiro estrangeiro em 2020 de apenas US$ 11 bilhões, bem abaixo dos US$ 59 bilhões de 2019.”
As previsões IIF (Institute of International Finance), que reúne 450 bancos e fundos de investimento em 70 países, as maiores saídas de capital do Brasil estão concentradas em ações e outros títulos de empresas, cujo saldo entre entradas e saques somará cerca de US$ 18 bilhões em 2020.
Para os investidores, o risco seria comprar o ativo hoje e o real se desvalorizar ainda mais; ou a Bolsa embicar para baixo em um eventual quadro de desarranjo macroeconômico provocado pelo alto endividamento do setor público.
O chefe do departamento de pesquisas do IIF para a América Latina, Martín Castellano, diz que a desvalorização do real em relação ao dólar até tem tornado os ativos brasileiros baratos para os investidores. No acumulado deste ano, o dólar se valoriza quase 40% frente ao real. Em uma situação normal, seria a hora de os estrangeiros comprarem ações e títulos brasileiros, desembolsando menos dólares para adquirir ativos em reais. A situação das contas públicas do Brasil, no entanto, tem desencorajado esse movimento —e estimulado os saques.
Teto de gastos
Segundo Castellano, esse capital mira a política de teto de gastos que compromete e limita os investimentos brasileiros em questões como educação e saúde. “A fragilidade fiscal continua sendo o calcanhar de Aquiles do Brasil. Ao contrário de outros países na região, o mecanismo de controle do gasto público brasileiro ainda é muito novo e está para ser testado. A percepção dos investidores sobre a habilidade do governo brasileiro em manejar a situação fiscal no resto deste ano e em 2021 será fundamental para determinar o comportamento dos investidores mais à frente”, diz.
As últimas semanas, marcadas por desentendimentos dentro do governo Jair Bolsonaro sobre manter ou não o teto de gastos para criar programas sociais, não ajudaram. Para Castellano, o Brasil entrou na pandemia da Covid-19 bem mais fragilizado do que outros emergentes devido ao seu alto endividamento público como proporção do PIB (Produto Interno Bruto). Embora a reação do governo e do Congresso tenha sido efetiva para conter uma queda acentuada da atividade, medidas como o auxílio emergencial pago a mais de 60 milhões de brasileiros levaram a uma explosão do déficit estatal e ao rápido aumento da dívida pública.
Com informações da Folha de S.Paulo