Bolsonaro mente na ONU ao culpar indígenas pelas queimadas, diz Apib

A entidade interpelou o presidente no STF (Supremo Tribunal Federal) para que explique na Justiça “as mentiras que propagou e comunicou à ONU”

Foto: Peter Oxford

Em discurso nesta terça-feira (22), na abertura da Assembleia Geral da ONU, Bolsonaro disse que a floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. “Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, completou.

A Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) diz que ao culpabilizar novamente povos indígenas e comunidades tradicionais pelas queimadas na Amazônia, Bolsonaro consolidou a mentira como política de governo durante Assembleia Geral da ONU.

A entidade interpelou o presidente no STF (Supremo Tribunal Federal) para que explique na Justiça “as mentiras que propagou e comunicou à ONU, os ataques feitos aos povos indígenas.”

Com base numa nota técnica do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), a entidade explicou que apenas 6% das queimadas no ano passado ocorreram em terras indígenas.

Segundo relatório, as propriedades privadas responderam por 33% dos focos, 30% em áreas com destinação fundiária específica e 20% em florestas públicas, onde existiam um forte indicativo de grilagem de terras.

A pesquisa sobre temporada de fogo na região, realizada entre 1º de janeiro a 29 de agosto, revelou que terras indígenas e unidades de conservação são as categorias com menor incidência no ano, registrando 6% e 7% dos focos, respectivamente.

A coordenadora-executiva da Apib, Sônia Guajajara, afirmou que Bolsonaro mente. “Nos envergonha com sua subserviência, e culpa mais uma vez, os povos indígenas por crimes que na verdade são cometidos por seus compadres, que agora se sentem empoderados a desmatar e queimar nossos biomas. Quem não te conhece, que te compre!”, protestou na sua conta no Twitter.

Membro da organização indígena Univaja, que luta pela proteção de 16 grupos isolados no Vale do Javari no Amazonas, Beto Marubo disse que Bolsonaro culpa quem é vítima no processo. “Na ONU, o presidente da República sugeriu que queimadas são provocadas por índios e caboclos, justamente vítimas desse crime em série. Enquanto governo persistir em falácias e teses infundadas, o mundo e os próprios brasileiros ficarão sem resposta nessa questão ambiental”, criticou.

O ISA (Instituto Socioambiental) afirmou em nota que Bolsonaro voltou a negar a grave crise de queimadas e desmatamento e sua responsabilidade sobre ela. “Distorceu informações e, sem provas, acusou indígenas em plena ONU para tentar se defender do desmonte ambiental que promove no Brasil.”

Adriana Ramos, assessora do ISA, considerou que o discurso de Bolsonaro só piorou a imagem do país no exterior. “O presidente optou por aumentar a desconfiança sobre o Brasil, enchendo seu discurso de mentiras facilmente checáveis. O governo não assume sua responsabilidade com a reputação do país no exterior e depois quer culpar os satélites, os indígenas e as ONG”, criticou.

Fuga de investimento

Em nota, a coordenação do Observatório do Clima, rede composta por 50 organizações não governamentais e movimentos sociais, afirmou que o presidente mais uma vez expôs o país de forma constrangedora e confirmou as preocupações dos investidores internacionais que pensam em sair do Brasil. “Ao negar simultaneamente a crise ambiental e a pandemia, o presidente dá a trilha sonora para o desinvestimento e o cancelamento de acordos comerciais no momento crítico de recuperação econômica pós-Covid”, diz.

Para a entidade, o discurso de Bolsonaro não foi voltado à comunidade internacional, mas sim à claque bolsonarista nas redes sociais. “Não teve o objetivo real de prestar esclarecimentos sobre a situação do Brasil a parceiros comerciais e consumidores preocupados, muito menos de propor uma visão de país, como era a tradição, mas de combater a realidade e inventar inimigos imaginários. Bolsonaro usou a tribuna das Nações Unidas para fazer campanha à reeleição e não para promover o país”, acusou.

“Ao arrasar a imagem internacional do Brasil como está arrasando nossos biomas, Bolsonaro prova que seu patriotismo sempre foi de fachada”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

“Acusou um conluio inexistente entre ONGs e potências estrangeiras contra o país, mas, ao negar a realidade e não apresentar nenhum plano para os problemas que enfrentamos, é Bolsonaro quem ameaça nossa economia. O Brasil pagará durante muito tempo a conta dessa irresponsabilidade. Temos um presidente que sabota o próprio país.”

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