USP de Santos perde curso de Engenharia de Petróleo

Baixa procura pelo curso levou à transferência e redução das vagas, assim como crise da pandemia. Cidade teme retrocesso do campus da USP no litoral.

Plataforma P-52 no Campo de Roncador. Foto: Stéferson Faria

No ano que vem, o curso de graduação de Engenharia de Petróleo da Escola Politécnica (Poli) da USP, um dos poucos cursos públicos oferecidos no país, passará a ser oferecido em São Paulo. A justificativa é que o campus de Santos, que desde 2012 abriga as atividades de ensino e pesquisa da Poli, ganhará mais espaço para o desenvolvimento de ciências e tecnologias relacionadas a óleo e gás.

A novidade é vista como um retrocesso em Santos, provocado pelo Governo do Estado, pois a instalação da USP na Baixada Santista foi considerada uma conquista sem precedentes, uma luta histórica e a realização de um antigo sonho da região em abrigar o campus de uma universidade pública renomada. Houve, inclusive, o anúncio da construção de um novo prédio para ampliar as vagas das atuais 50 para 250, que não e concretizou devido à prospecção de atividades na bacia de Santos que não concretizada.

Quem conta mais sobre a mudança é a professora Patrícia Matai, do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Poli. A professora conta que o curso de Engenharia de Petróleo começou no campus da capital em 2002, onde se manteve até 2011. E, então, “no fim daquele ano, houve uma demanda por parte da Reitoria e da diretoria da Poli, naquele momento, de transferir o curso para a cidade de Santos, por conta das atividades do pré-sal e da proximidade com essas operações. E, então, a primeira turma foi a de 2012, contando inclusive com grande concorrência no vestibular”, retoma.

Neste ano, foi tomada a decisão de transferir apenas o curso de graduação de Engenharia de Petróleo de volta para São Paulo, para os ingressantes de 2021. Atividades de pós-graduação e laboratórios de pesquisa continuam em Santos, e quem começou o curso em Santos continuará estudando na cidade até se formar. A mudança será gradual, a partir do ingresso de novas turmas.

A mudança também levará à redução no número de vagas ofertadas por meio do vestibular, passando de 50 para 35. A professora admite que tem havido uma baixa procura pelo curso, e as remanescentes serão redistribuídas para outras graduações da Escola Politécnica. A crise no preço do petróleo, assim como as mudanças na política para o setor no país, com transferência da exploração para países estrangeiros têm incidência também na procura pela carreira. O curso também tem concorrência mais antiga na Unisantos.

Políticos da região são contra a mudança por considerar este o início de um processo de esvaziamento da USP na cidade, quando deveria se estar expandindo o ensino superior público em Santos. Especialistas também avaliam que o setor ainda é promissor e observam o desânimo dos alunos num momento em que a economia do país está sob o impacto da pandemia. A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico será cobrada a explicar a mudança na Assembleia Legislativa.

A estrutura curricular consiste em uma formação básica para todos os alunos até o quarto ano e, no quinto ano, o estudante pode optar por fazer qualquer curso da Poli. “Nesse último ano, um aluno de Petróleo pode fazer um módulo na Elétrica ou na Civil, por exemplo, mas o diploma dele é de engenheiro de petróleo. É uma escolha feita pelos próprios estudantes”, explica Patrícia. Além disso, também é possível se matricular em disciplinas optativas.

O curso de Engenharia de Petróleo é voltado para o estudo de reservatórios e poços e, para isso, o discente terá uma forte formação em geologia, mecânica de rochas e fluidos, entre outros assuntos. É um curso bem específico, segundo a docente, e sua importância reside no fato de otimizar a retirada do petróleo com técnicas que auxiliem a retirada do potencial de um poço de petróleo. Com técnicas convencionais, apenas 30% do petróleo é extraído, para melhorar isso, é preciso utilizar técnicas mais avançadas.

“Pelo conhecimento que se tem, essa ainda será uma forma de energia com muita vida útil pela frente, apesar do desenvolvimento de outras formas sustentáveis, pois mesmo não sendo usado como combustível, ele é necessário nas indústrias química e petroquímica, desenvolvendo insumos indispensáveis para certas indústrias”, aponta Patrícia, afirmando que correntes de estudo apontam a perda gradual do petróleo como combustível.

Mas há, além disso, junto do petróleo líquido, o gás natural, sua versão gasosa, que também é de grande importância do ponto de vista industrial, e permanecerá tendo grande importância como combustível de queima limpa, e será o intermediário até chegar às energias renováveis. Ele pode ter aplicações combustíveis como gasolina sintética, óleo diesel sintético, entre outras aplicações industriais.

Com informações da Rádio USP

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