Mato Grosso é sufocado pelo fogo, calor e fumaça do agronegócio
Cuiabá bate record de temperatura alta e enfrenta a fumaça vinda das queimadas no cerrado
Publicado 15/09/2020 16:54 | Editado 15/09/2020 17:24
Enquanto o fogo avança sobre o cerrado e o pantanal, abrindo espaço para a boiada e o agronegócio, os moradores de Cuiabá são sufocados pelo calor e a fumaça. Depois de registrar a maior temperatura da história no fim de semana, o calor continua nas alturas na capital do Mato Grosso, um reflexo das queimadas, como mostrava na manhã de hoje o seu céu enfumaçado.
No domingo, 13, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) divulgou às 17h a máxima de 42,7°C, que bateu o recorde histórico de 42,6°C registrado 16/9/2019 e em 10/9/2020. Desde 1911 não se tinha registro de uma temperatura tão alta em Cuiabá. O recorde histórico considera todas as temperaturas, de todos os meses, de todos os anos, desde o início das medições.
Além do forte calor, Cuiabá sofre também com os baixos índices de umidade relativa do ar. Na tarde do domingo, o aeroporto local chegou a registrar apenas 4% de umidade do ar, o que caracteriza situação de emergência. Pelo INMET, a menor umidade do dia foi de 7%.
Por coincidência, o Pantanal mato-grossense enfrenta sua pior crise das últimas décadas justamente no governo Bolsonaro, que abriu a porteira para a devastação. E, além do fogo a região enfrenta um longo período de seca, expondo o bioma que já teve cerca de 15% de sua área devastada pelas chamas, segundo dados do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo).
Fiscalizações
Mesmo diante desta situação, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) reduziu o ritmo das operações de fiscalização em Mato Grosso do Sul em 2020. Com isso, a queda se reflete nas multas aplicadas. As autuações relacionadas à vegetação (como desmatamento e queimadas ilegais) caíram 22% em 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Entre janeiro de 2020 até a segunda-feira, 14, o Ibama aplicou 50 multas contra infratores do Mato Grosso do Sul por violações envolvendo a vegetação. No mesmo período de 2019, foram registrados 64 autos de infração. A maior parte (65%) do bioma do Pantanal fica no território sul-mato-grossense. O restante da área do bioma (cerca de 35%) fica no Estado de Mato Grosso, onde a queda nas multas foi ainda maior: em 2020, foram 173 infrações relacionadas à flora, ante 361 em 2019. Uma redução de 52%. Juntando os dados das infrações nos dois estados que abrigam o Pantanal, a queda é 48%.
Conforme dados consolidados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados na segunda-feira, os incêndios na região do Pantanal cresceram 210% em 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado. A região registrou 14.489 focos de calor este ano, contra 4.660 em 2019.
De acordo com levantamentos locais, os incêndios já destruiu uma área de 2,3 milhões de hectares no Pantanal, pouco mais que o Estado de Sergipe ou quase quatro vezes a área do Distrito Federal, conforme o Prevfogo. Lamentável, porque o Pantanal é a maior área úmida continental do mundo, e é um local de grande biodiversidade. São cerca de 2 mil espécies de plantas, 582 espécies de aves, 132 de mamíferos, 113 de répteis e 41 de anfíbios.