Desonerar importação de arroz é tapar sol com peneira, diz economista
Segundo Flauzino Antunes,do Corecon-DF, zerar tarifa de importação não adiantará, uma vez que o dólar está muito valorizado.
Publicado 15/09/2020 14:07 | Editado 15/09/2020 18:50
“O Estado tem a obrigação de organizar políticas públicas que reduzam os preços dos alimentos no país e que protejam a população da especulação das commodities, que prejudica principalmente os consumidores mais pobres”, disse o economista Flauzino Antunes, membro do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), ao criticar a omissão do governo para conter os preços dos alimentos, que dispararam novamente nesta semana.
“Apelar para o patriotismo de redes de supermercado que na sua maioria são de origem estrangeira, como Carrefour, Extra, Big e Pão de Açúcar, por exemplo, é querer tapar o sol com a peneira. Eles são a favor do seu lucro”, afirmou.
Arroz
Segundo Flauzino, “também não tem lógica importar arroz. O governo vai zerar a taxa de importação, mas isto não vai resolver porque o dólar está alto”.
“A gente vai ao supermercado, vai nas vendas, e tudo está mais caro. É um absurdo ver o preço do arroz variando de R$ 23 a R$ 44. Você tem uma queda do PIB de 9,7%, a gente está em recessão, com um desemprego oficial de 13,6% da população economicamente ativa, e se você juntar aqueles que estão no subemprego e fazendo um bico e tudo mais, a gente têm 40 milhões de pessoas nesse sentido. Então, isso força em geral que os preços caiam e a inflação fique controlada porque a gente não tem demanda interna”.
Carestia
“A inflação de alimentos está bem focada nos itens da cesta básica, que é o leite, farinha de trigo, arroz, açúcar, o frango, carne bovina, carne suína e o óleo de soja. Como explicar isto? O que acontece é uma falta de estrutura de políticas públicas para nos preparar para este momento, porque a gente está vivendo uma entressafra e o governo federal tinha toda uma estrutura montada que foi sucateada, que foi se acabando, que era a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], que tinha estoques reguladores. Ela comprava na safra e depois nesse período de entressafra a Conab distribuía, vendia, fazia cesta básica, tinha políticas como a do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) – que comprava alimentos da agricultura familiar para estocar e depois fazer cesta básica mais barata. Isso acabou”.
Agricultura familiar
“A agricultura familiar corresponde por 70% da produção agrícola que vai para nossa mesa”, diz Flauzino Antunes, ao denunciar que o governo Bolsonaro virou as costas para os pequenos produtores. “Os itens da cesta básica no Brasil são produzidos pela agricultura familiar”. “O agronegócio, a questão da exportação, e tudo mais, foi ocupando áreas agrícolas da agricultura familiar”. “[O agronegócio] foi indo para cima dessas áreas, expandindo a cana-de-açúcar, soja milho, café, laranja, e isso vai acarretar, como hoje, em algum problema de descompasso”.
“A agricultura familiar não está no Plano Safra que foi inaugurado pelo governo federal, e este plano não teve uma ação contundente, o Crédito Rural, o Pronaf e PENAE, deixaram de existir ou ficaram em segundo e terceiro plano nas políticas agrícolas do governo federal. Então, nesse momento em que a inflação vai disparando, é comum a gente ver na mídia quais são os vilões que fazem que isso aconteça, o culpado é o arroz, o feijão, mas não foi isso, tem uma questão estrutural, que primeiro é a falta de políticas públicas que eu já falei, a segunda é o dólar alto e a terceira a cotação de preços das commodities no mundo que é vinculado à bolsa de Chicago nos Estados Unidos”.
Commodities
“As commodities aumentaram muito de preço neste período de pandemia, o mundo todo teve uma quebra de produção e o Brasil não, o Brasil sustentou a agricultura de produtos de commodities para o mundo todo. [O agronegócio] está expandindo e aumentando a produção em áreas agricultáveis e isso inibe a produção da agricultura familiar. Com o dólar a mais de cinco reais é mais vantajoso o agricultor de qualquer espécie, de qualquer tamanho, querer exportar porque está muito mais vantajoso vender para fora do que vender para o mercado interno e isto ajuda fazer essa pressão inflacionária”, afirmou o economista.
Fonte: Hora do Povo