Complicações da Covid-19 podem sobrecarregar especialidades médicas

Especialistas do sistema de saúde estão apreensivos com os efeitos crônicos do novo coronavírus sobre o atendimento médico. Em países onde a doença chegou primeiro, se observa um retorno dos recuperados da Covid-19 com sequelas neurológicas, entre outras. Devido à dimensão massiva da pandemia, isto tem sobrecarregado os sistemas de saúde, o que acende um alerta para o Brasil, com seus quase quatro milhões de doentes.

Segundo reportagem do The Guardian (jornal britânico), o mundo começa a se preocupar com efeitos da Covid-19, a longo prazo, sobre o sistema nervoso central. Particularmente, problemas de saúde mental começaram a ser detectados em pacientes que foram internados e sobreviveram.

Um estudo italiano mostrou que mais de 50% dos pacientes internados e recuperados fizeram relatos de estresse pós-traumático, ansiedade, depressão, distúrbios do sono, e sintomas relacionados a transtorno obsessivo-compulsivo.

Para o infectologista Marcos Boulos, várias outras epidemias de coronavírus apresentaram problemas semelhantes, na medida em que, em indivíduos mortos de H1N1, por exemplo, o vírus foi encontrado até em órgãos como o coração. O que diferencia a Covid-19 é o superdimensionamento que o alto contágio da pandemia tem, segundo ele.

“Teremos que esperar para ver como a recuperação dos doentes vai se manifestar no Brasil. Mas, é possível que algumas especialidades médicas fiquem sobrecarregadas com esses efeitos pós-covid”, disse o médico, em entrevista ao portal Vermelho. Boulos acredita que o sistema de saúde brasileiro esteja preparado para o atendimento desses casos.

O cientista Miguel Nicolelis defende que o sistema comece a se preparar, treinando profissionais, para o atendimento em larga escala de problemas de saúde mental que podem se tornar demanda em todo o país.

Na Inglaterra, espera-se que quase 3.000 estagiários comecem cursos de terapia psicológica e ex-funcionários estão sendo solicitados a considerar o retorno às funções de linha de frente em preparação para um número crescente de pessoas que sofrem de ansiedade, depressão e condições relacionadas. O sistema público de saúde do país espera aumentar o número de clínicos avançados, psiquiatras e enfermeiros de saúde mental nos próximos meses.

O estudo italiano sugeriu que os pacientes da Covid-19 com níveis mais altos de marcadores de inflamação no sangue eram mais propensos a desenvolver depressão e ansiedade depois. Alguns argumentam que ambos surgem porque esses pacientes estão mais indispostos, mas a explicação alternativa seria que as substâncias inflamatórias estariam afetando o cérebro e causando distúrbios psiquiátricos.