Witzel e Pastor Everaldo “vestiram a camisa” de Bolsonaro em 2018
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) lembra que a separação de Witzel e Bolsonaro não foi feita por princípios éticos
Publicado 29/08/2020 10:30 | Editado 29/08/2020 12:41
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou, nesta sexta-feira (28), o afastamento imediato do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), além da prisão do presidente do PSC, Pastor Everaldo. Hoje investigados, ambos já foram “fiéis escudeiros” do presidente Jair Bolsonaro.
O governador foi afastado do cargo por conta de acusações de irregularidades em contratos na área de saúde. A ordem judicial determina afastamento por 180 dias. Everaldo, candidato à Presidência da República em 2014 e também ao Senado em 2018, é um dos alvos dos 17 mandados de prisão expedidos.
O ex-juiz federal Wilson Witzel entrou na disputa para o governo do estado entre os últimos colocados. Entretanto, durante a campanha, associou sua imagem e ideias às do então candidato à Presidência Jair Bolsonaro, dizendo-se a favor de “abater” pessoas suspeitas e que daria “defesa jurídica” a policiais que matassem em confronto.
“Mesma camisa”
Apesar de Jair Bolsonaro se apresentar como “neutro” na disputa do governo fluminense no primeiro turno, Witzel costurou um apoio com Flávio Bolsonaro, filho de Jair e candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro nas eleições de 2018.
Em uma das carreatas do ex-juiz, em Nova Iguaçu, Flavio Bolsonaro estava presente e disse: “Todos nós vestimos a mesma camisa, que é a camisa do Brasil, da decência, da moralidade e do respeito com o dinheiro do contribuinte”, disse.
Após passar para o segundo turno, com 41,28% dos votos válidos, Witzel disse, durante debate realizado pela Rede Globo, que recebeu um telefonema de Flávio o “autorizando a divulgar o apoio” à sua candidatura e acrescentou: “Estou feliz”.
Na época, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) proibiu o candidato do PSC de veicular, em propaganda eleitoral, o apoio do filho de Bolsonaro, já que as legendas não tinham aliança formal.
A relação dos dois só azedou no segundo semestre 2019, quando o nome de Jair Bolsonaro foi mencionado por um porteiro do condomínio onde ele morava, no Rio de Janeiro, no curso das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018.
Na época, Witzel avisou Bolsonaro, de maneira informal, sobre o processo. O presidente da República acusou o governador de ter vazado informações à imprensa sobre a investigação e afirmou que “era uma tentativa de incriminação”.
Everaldo é meu pastor
Há três décadas na política brasileira, Pastor Everaldo é acusado pela operação Lava Jato de receber R$ 6 milhões da Odebrecht para ajudar Aécio Neves (PSDB) em um debate presidencial, em 2014.
Além disso, também ficou famoso por batizar um de seus aliados, o presidente Jair Bolsonaro, em uma cerimônia nas águas do rio Jordão, em Israel, no dia 12 de maio de 2016 – quando o processo de impeachment de Dilma Rousseff foi aberto na Câmara.
Antes de filiar-se ao PSL, o presidente foi recebido por um lotado auditório, na Câmara dos Deputados, para sua filiação ao PSC, em 2016. Neste dia, Everaldo foi uma das figuras que lançou Jair Bolsonaro como pré-candidato à Presidência da República.
Repercussão
As redes sociais lembraram do elo criado tanto entre Bolsonaro e Everaldo, quanto do presidente da República com o governador afastado do Rio. O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) lembra que a eleição de 2018 foi pautada pelo discurso falso de “anticorrupção”.
“Pastor Everaldo, aquele que batizou Bolsonaro em Israel, e Witzel foram presos. A gente falou, não falou? Que nunca foi contra corrupção? Que era só discurso pra ganhar eleitorado? Pra onde foi a moral e os bons costumes ninguém sabe, mas deve ter ficado lá no Rio Jordão mesmo”, disse no Twitter.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) lembra que a separação de Witzel e Bolsonaro não foi feita por princípios éticos.
“O governo federal também é corrupto e precisa ser investigado. A família inteira envolvida em esquemas, do filho até a primeira-dama. A “separação” entre Bolsonaro e Witzel não é por questão ética, é por motivação política”, disse, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, nesta quarta (28).
A escritora e colaboradora da revista Piauí, Daniela Abade, critica a falta de ação contra a família Bolsonaro. “Acho incrível a derrocada e prisão dos ex-aliados de Bolsonaro, Witzel e Pastor Everaldo. Tudo bandido. Mas infelizmente é só sinal de que o miliciano aparelhou lindamente a Polícia Federal. Pros inimigos: cadeia. Pros filhos e família: cheques do Queiroz”, publicou.
Fonte: Rede Brasil Atual