Família enfrenta “muito ódio” desde assassinato de Marielle, diz irmã

“Ela foi assassinada às 21h32. No mesmo dia, às 23h45 já tinha uma fake news da Marielle espalhada em alguns sites de extrema direita”, conta Anielle Franco.

Anielle Franco, irmã da vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018 - Reprodução

A escritora, professora e palestrante Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, assassinada em março de 2018, afirmou nesta sexta-feira (14) que a família tem sido tratada “com muito ódio” desde a morte da vereadora do PSOL, tanto nas redes sociais quanto presencialmente. Apesar dos ataques e das tentativas de intimidação, a irmã de Marielle Franco afirma que a família não vai se calar.

“Desde o assassinato da minha irmã, em 2018, a gente tem sido tratada não só nas redes sociais, mas pessoalmente, com muito ódio por conta de pessoas que votaram e defendem o atual presidente [Jair Bolsonaro]. Ela foi assassinada às 21h32. No mesmo dia, às 23h45 já tinha uma fake news da Marielle espalhada em alguns sites de extrema direita. Eu não saberia dizer quem colocou e como aquilo surgiu”, relatou, durante live da Semana de Economia da Unicamp.

A mesa virtual da qual Anielle participou, sobre democracia e o ódio como política, também teve a presença da ex-presidenta Dilma Rousseff e da cientista política Esther Solano.

Segundo Anielle, que também é diretora do Instituto Marielle Franco, organização criada para defender a memória da vereadora e apoiar mulheres, pessoas negras e faveladas, os ataques aumentaram conforme se aproximava a campanha presidencial. “No dia da eleição, eu com minha filha mais velha, na época tinha três anos, fui cuspida. Eram quatro homens, dois mais velhos, dois mais novos, que cuspiram na minha cara com uma criança de colo”, contou.

A irmã da vereadora assassinada afirma que não pretende se calar diante das manifestações de ódio. “Eu queria deixar claro, por conta de todos esses ódios que eu tenho vivido desde 2018, que a gente não se cala e não vai se calar. Quando a gente perdeu a Marielle, a gente entendeu que a gente devia seguir lutando e que tinha uma missão de gritar para outras pessoas que se inspiram na Marielle. Enquanto estão criando tanto ódio a gente trabalha com amor, com afinco, com força e com garra.”

Anielle disse ainda que gostaria de dialogar com outras faixas do espectro político por meio do instituto. “Eu ainda tenho o sonho de dialogar com direita, com o centro. A gente segue criando campanhas para fazer pelos nossos e pelas nossas coisas que esse governo não faz. A gente está aqui indo de favela em favela, entregando cesta básica. Assim como minha irmã não se calou, minha família não vai se calar diante desse ódio”, afirmou.

Milícias

A ex-presidenta Dilma Rousseff manifestou solidariedade pessoal e política a Anielle Franco e disse que Marielle representava um questionamento às milícias do Rio de Janeiro.

“Ela enfrentou as bases da milícia e por isso tinha que ser calada. Até hoje, nós temos essa grande incógnita sobre o mandante. Não haverá democracia no nosso país enquanto não for elucidado o crime praticado contra Marielle Franco. Assim como não haverá democracia enquanto não for resolvida a questão de todos os julgamentos do presidente Lula”, declarou.

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