As tensões entre Estados Unidos e China – Parte I
A agressividade norte-americana não é recente e é preciso considerar uma série de aspectos ao abordar a escalada na tensão entre os dois países.
Publicado 03/08/2020 20:41
O consulado-geral da China no Rio de Janeiro, representado pelo cônsul Li Yang, realizou na quinta-feira (23/07) uma coletiva de imprensa. As perguntas, que foram enviadas dias antes ao Consulado, não chegaram a tocar no notável lançamento do foguete “Long March 5 Y4” que ocorrera horas antes, quando o relógio do Centro Espacial Wenchang marcava 12:41.
Enquanto Washington D.C. dormia, o gigante asiático enviava a Marte uma espaçonave cujo objetivo é orbitar, pousar e explorar o Planeta Vermelho. Se a cobertura da missão espacial chinesa não recebeu a mesma atenção que outras parecidas, como a Mars Rovers, ou até mesmo o envio da “Dragon”, espaçonave particular da SpaceX, os holofotes se voltam todos para o conflito com os Estados Unidos.
No dia anterior à coletiva (22), os norte americanos determinaram o fechamento do consulado da China em Houston, Texas. Embora nenhuma declaração oficial tenha sido feita nesse sentido, a ordem da Casa branca veio logo após o surgimento de denúncias sobre uma suposta tentativa de roubo de dados de uma vacina para a covid-19 por hackers chineses.
Como resposta, Pequim declarou de imediato que se tratava de uma medida “sem precedentes”. A sua retaliação veio nessa sexta (24), com o anúncio para que o consulado estadunidense em Chengdu, na província de Sichuan, seja fechado. Trata-se de uma base de representação diplomática estratégica, já que é a mais próxima do centro industrial de Chongqing (guarde esse nome, ele será retomado futuramente).
Com os ânimos acirrados entre os dois países, muito tem se falado sobre uma “Guerra fria 2.0”. Mas ao contrário do que muitos pensam, o perigo parece partir de Washington, e não de Pequim. O insuspeito Henry Kissinger disse certa vez que a chave para compreender o século XXI está em como os Estados Unidos lidarão com a ascensão chinesa, e não como o gigante asiático se comportará na condição de potência[1]. Até agora, tudo indica que o ex-Secretário de Estado dos Presidentes Gerald Ford e Richard Nixon estava certo.
A agressividade norte-americana não é recente e é preciso considerar uma série de aspectos ao abordar a escalada na tensão entre os dois países. Assim, no decorrer da semana o Portal Disparada publicará uma série de artigos envolvendo assuntos abordados na coletiva de imprensa com o cônsul-geral Li Yang.
As considerações sobre o futuro das relações Brasil-China você encontra aqui.
[1] Henry Kissinger, Niall Fergunson, Fared Zakaria, David Li. O século XXI pertence à China? São Paulo, Elsevier, 2012, p. 28
Fonte: Portal Disparada