De Olho no Mundo, por Ana Prestes
A eleição presidencial na Polônia e a tensão entre China e EUA são temas centrais da análise internacional de Ana Prestes nesta segunda-feira (13). O agravamento da pandemia de Covid-19 na América Latina e na Flórida (EUA) também é analisada por Prestes, assim como a visita do presidente mexicano, López Obrador, à Donald Trump e a ofensiva deste contra Anthony Fauci, o mais respeitado infectologista norte-americano.
Publicado 13/07/2020 16:17
Neste domingo (12) foi realizado o segundo turno eleitoral na Polônia. O atual e ultraconservador presidente Andrzej Duda, candidato pelo PIS (Lei e Justiça) venceu com pouco mais de 51% dos votos com 99,97% dos votos apurados. Seu adversário, Rafal Trzaskowski, pelo PO (Plataforma Cívica) atual presidente da Câmara de Varsóvia (que exerce a função de prefeito), ficou com 48,79% dos votos. Uma eleição bastante polarizada. A participação também foi alta, pois quase 70% dos votantes compareceram. A plataforma política de Trzakowski defendia restabelecer as relações com a União Europeia, reverter a reforma judicial de Duda, restabelecer as liberdades democráticas, permissão da adoção de crianças por casais homoafetivos. Um dos grandes debates da eleição se deu sobre a influência da Alemanha no país. Líderes do PIS alegam que a oposição quer transformar a Polônia em um “apêndice da Alemanha”. Pela estreita margem da vitória, é possível que a eleição vá parar nos tribunais, apontam alguns analistas da Universidade de Varsóvia. (Agências europeias)
O Embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, respondeu ontem via sua conta no Twitter a uma provocação do Embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman. O embaixador americano havia compartilhado uma notícia, também no Twitter, com a seguinte opinião: “esterilização em massa de mulheres uigures pelo Partido Comunista Chinês – silêncio não é uma opção”. Ao que o embaixador chinês respondeu: “olha, esse homem vem ao Brasil com a missão especial que é atacar a China com boatos e mentiras, aconselhamos que pare de fazer atividades desse tipo e faça bem o seu trabalho. Uma formiga tenta derrubar uma árvore gigante, ridiculamente exagerando em sua capacidade”. O ataque à China por parte dos EUA ganhou mais um elemento recente. Trump assinou uma lei aprovada no Congresso americano sobre os direitos humanos dos Uigures (Uighur Human Rights Act). A legislação permite que os EUA promovam punições, como apreensão de bens que tenham no país e proibição de entrada nos EUA, indivíduos chineses que supostamente estejam envolvidos em ataques aos Uigures ou outras minorias étnicas. Os Uigures, minoria étnica muçulmana proveniente originalmente do Turcomenistão, estão presentes principalmente na província chinesa de Xinjiang. Uma série de matérias na imprensa ocidental e relatórios no âmbito da ONU apontam para tentativas de aculturação de seus hábitos muçulmanos por autoridades chinesas. Nesta manhã (13), a China anunciou medidas de sanções contra três parlamentares americanos (Marco Rubio, Ted Cruz e Chris Smith) e um alto funcionário do Departamento de Estado como forma de revidar as sanções às autoridades chinesas de Xinjiang. O porta-voz da chancelaria chinesa disse sobre a medida: “as ações dos EUA interferem seriamente nos assuntos internos da China, violam seriamente as normas básicas das relações internacionais e prejudicam seriamente as relações entre os dois países”.
No final da semana passada, foi anunciado mais um relatório da ONU para a América Latina em tempos de pandemia. Alguns dados que estão no relatório dão conta do impacto do coronavírus na região. A contração esperada do PIB regional é de 9,1%, o maior em um século. O desemprego passará de 8,1% (2019) para 13,5 (2020). O número de desempregados chegará a mais de 44 milhões de pessoas, um aumento de mais de 18 milhões em relação a 2019. A taxa de pobreza passará dos 37%, chegando a 230 milhões no total. A pobreza extrema deve passar dos 15%, chegando a 96 milhões de pessoas. O relatório também aponta que a crise afetará mais fortemente as mulheres, já que elas representam mais de 60% da mão de obra em setores como hotelaria e serviços de alimentação, 72,8% nos serviços de assistência médica e ocupam mais postos no mercado informal do que os homens. As mulheres ficaram mais sobrecarregadas com o acúmulo de trabalho e cuidados da casa, crianças e idosos. Também aumentou a violência sexual e de gênero e a incidência de feminicídio. Também serão desproporcionalmente atingidos os indígenas (60 milhões de pessoas) e os afrodescendentes (134 milhões de pessoas). Igualmente os migrantes e refugiados sofrem por estarem em maior vulnerabilidade. O documento sugere como medidas urgentes, a provisão de renda básica universal, negociação e perdão das dívidas públicas por parte dos credores, amplos programas multilaterais de segurança alimentar. (ONU Brasil)
O Estado da Flórida, nos EUA, foi um dos mais apressados para sair do isolamento social desde que pandemia do novo coronavírus estourou no país. Só ontem, domingo (12), o estado registrou 15.300 novos casos de infectados, mais do que qualquer outro estado americano desde o início da crise. Se fosse um país, estaria em quarto lugar no mundo em número de novos casos, atrás apenas dos EUA, Brasil e Índia. A Flórida já perdeu 4200 pessoas para a Covid-19. Enquanto isso, o estado está abrindo os parques temáticos ao público, como o Walt Disney World e outros. (Meio)
Os Estados Unidos podem abandonar o terceiro grande acordo sobre arsenais balísticos e nucleares com a Rússia desde o início do governo Trump. Eles já se retiraram do Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance Intermediário (NIF) e também do Tratado de Céus Abertos. O primeiro bania mísseis com capacidade de levar ogivas atômicas de alcance entre 500 km e 5500 km e o segundo permitia voos de reconhecimento sobre os países signatários como forma de transparência sobre operações militares. Agora ameaçam sair do Novo Start, acordo firmado por Obama e Medvedev em 2010 que impôs medidas mais estritas de controles de arsenais ao reduzir a permissão para manutenção de mísseis e ogivas. Este acordo está para expirar em 2021 e sua não renovação pode estar amparada em um gesto curioso dos EUA. Eles tentam a todo custo incluir a China no acordo. E a não adesão da China pode ser usada por Trump para não renovar o acordo. Diante da pressão, está na imprensa a declaração do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian: “a posição da China, que se opõe a essas supostas negociações trilaterais, é totalmente clara. Os americanos a conhecem perfeitamente”.
A visita do presidente mexicano López Obrador a Trump na semana passada foi vista por muitos como um “mal passo”. Alguns viram até como ingênua. Para outros foi desnecessária. O motivo da visita foi a entrada em vigor do acordo que substitui o antigo Nafta, o T-MEC, um acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá. A visita se dá em um momento de escalada dos casos de coronavírus na América Latina, o que por si só já justificaria não faze-la. O acordo já está assinado e entrou em vigor, nem mesmo a justificativa da assinatura estava presente na visita. A visita não serviu para o anúncio de nenhum outro acordo de monta ou mesmo algum passo importante dentro do T-MEC. E AMLO foi além na inconveniência da visita. Agradeceu ao “bom trato” com que Trump “brinda nossos compatriotas mexicanos”. No momento em que a própria população dos EUA se levanta contra os “maus-tratos” contra a população negra e latina. E AMLO se complicou mais. Disse: “mas, o que mais aprecio, é que você nunca buscou nos impor nada que viole ou vulnere nossa soberania… Você não pretendeu nos tratar como colônia, mas, pelo contrário, tem honrado nossa condição de nação independente. Por isso estou aqui para expressar ao povo dos EUA que seu presidente tem se comportado conosco com gentileza e respeito”. Enquanto isso, Trump segue a construção do muro e a brutal deportação não só de mexicanos, mas dos centro-americanos e latino americanos em geral que tentam chegar ao país. Nem mesmo os estudantes latinos regulares que estão estudando nos EUA poderão permanecer no país quando da adoção de aulas a distância. Sem dizer que o país virou uma bomba epidemiológica e que seguramente ameaça diretamente a vida dos mexicanos.
Uma última notinha sobre Trump, é que ele resolveu atacar o epidemiologista Anthony Fauci. O especialista trabalhou também com os 5 presidentes norte-americanos anteriores a Trump. Em um processo parecido com a fritura de ministros da saúde no Brasil por Bolsonaro. Primeiro o presidente americano suspendeu as coletivas dadas na Casa Branca ao lado de Fauci, depois o afastou das reuniões no Salão Oval, disparou nos bastidores uma campanha #FireFauci levada a cabo por seus apoiadores e atribuiu a ele o desastre da pandemia no país.