MEC anuncia realização do Enem em janeiro de 2021; entidades criticam
Decisão contraria o resultado da enquete conduzida pelo órgão
Publicado 09/07/2020 13:11 | Editado 09/07/2020 13:12
A edição de 2020 do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foi oficialmente reagendada. A prova impressa será realizada em 17 e 24 de janeiro de 2021, enquanto a prova digital ficou para 31 de janeiro e 7 de fevereiro, conforme anúncio do MEC (Ministério da Educação) feito nesta quarta-feira (8).
A decisão contraria o resultado da enquete conduzida pelo órgão, na qual a maioria dos estudantes, consultados online, pediu que a prova fosse realizada apenas em maio de 2021. Na opinião de entidades ligadas à Educação, a escolha ignora os impactos e os riscos da pandemia do novo coronavírus, além de desprezar a opinião de estudantes, professores e trabalhadores da Educação.
“Não existe um diálogo verdadeiramente democrático com os estudantes, profissionais da educação e saúde. Durante o período em que foi realizada uma consulta cujo resultado não foi levado em consideração, o diálogo aberto com todos os segmentos poderia nos ter apresentado a saída”, afirmaram, em nota conjunta, a UNE (União Nacional dos Estudantes), a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e a ANPG (Associação Nacional dos Pós-Graduandos).
“Vamos continuar lutando, além de recorrer por todos meios cabíveis, para que haja a formação de uma Comissão de Crise para discussão das novas datas, que envolva não só Reitores e Secretários de Educação”, agregaram as entidades. “Enquanto estudantes brasileiros continuam aflitos, o Ministério da Educação permanece sem ministro, o que nos preocupa ainda mais sobre a decisão das datas.”
A Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) cobrou do MEC as “condições de realização” das provas do Enem. “A primeira e necessária condição é justamente a biossegurança dos candidatos e profissionais envolvidos em todo o processo, sobretudo na aplicação das provas. Portanto, as autoridades têm a responsabilidade de prover os meios necessários à proteção da saúde de todos”, afirmou a Andifes, também em nota.
“A segunda condição é a maior equidade possível entre os candidatos. Afinal, os 6 milhões de candidatos inscritos precisam ter oportunidades reais de aprendizado dos conteúdos demandados no Enem”, acrescenta a nota. Para a Andifes, “todas as soluções buscadas nesse período de pandemia devem orientar-se, assim, pela solidariedade e pela ciência. Situações distintas certamente demandam respostas distintas; em todo caso, devem ser privilegiadas as alternativas que permitem a flexibilização na atuação das pessoas e das instituições no processo educacional.”
Frei David Santos, diretor da Educafro (Educação e Cidadania de Afro-descendentes e Carentes), defende o cancelamento da edição de 2020 do exame . A organização – que oferece cursos gratuitos para alunos negros e de baixa renda – irá à Justiça pedir a suspensão da prova.
“Não dá para o Brasil ir adiante e deixar os pobres para trás. Isso que o MEC está fazendo chama-se racismo estrutural”, afirmou o frade. Para ele, o atual calendário é irresponsável e promoverá falta de isonomia entre os candidatos: “É um atentado contra a Constituição o MEC fazer uma prova em que os brasileiros pobres estão totalmente em desvantagem em relação aos brasileiros ricos”.
Segundo Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a escolha reflete o caráter antidemocrático da gestão Jair Bolsonaro. “Um governo autoritário, insatisfeito com o resultado de uma consulta democrática, optou por ignorar a posição dos estudantes”, declarou. “Em janeiro, não teremos segurança sanitária nem estudantes preparados para prestar o Enem.”
Da Redação, com agências