Greve dos motoboys e entregadores de aplicativos expõe precarização
A coluna Semana Vermelha (28.06 a 04.07) destaca a greve dos motoboys e entregadores de aplicativos que expôs as condições de trabalho precário desse segmento durante a pandemia do coronavírus
Publicado 05/07/2020 18:24 | Editado 05/07/2020 18:38
Entregando comida de barriga vazia – A greve dos motoboys e dos entregadores de aplicativos de propriedade de empresas na internet, expôs não apenas a extensão e importância destes profissionais para o capitalismo moderno, mas sobretudo a precariedade do trabalho desses verdadeiros heróis nesta pandemia, que muitas vezes, de barriga vazia, entregam comida em domicílio. Precariedade acentuada desde a reforma trabalhista reacionária de Michel Temer, e expressão acabada do neoliberalismo predominante. A greve dos entregadores confronta justamente o neoliberalismo – e daí decorre sua importância fundamental: são trabalhadores que se rebelam conta a pretensa modernidade que os rotula de “empreendedores” (classificação que com razão eles rejeitam). A pretexto da mentira da alegação que são “patrões de si mesmos”, as empresas de aplicativos os reduzem a situação semelhante a que existiu no século 19, quando não havia leis sociais ou trabalhistas, e o que valia era o cada um por si. A greve retoma a luta dos trabalhadores pela legislação trabalhista e social destruída desde 2016. Houve também a divulgação, pela Agência Pública e o The Intercept Brasil, de gravações de promotores da Lava Jato que demonstram a intervenção ilegal de autoridades dos EUA nas operações que, a pretexto de combater a corrupção, destruíram empresas brasileiras estratégicas. No mundo, foi a semana em que se acentuou a luta palestina contra a anexação por Israel de territórios ocupados – foi o dia da Raiva.
A greve dos motoboys contra a precarização do trabalho e a falta de direitos – A paralisação nacional do dia 1º, cobrou melhores condições de trabalho para entregadores de aplicativos delivery. A categoria – que já lidava com a falta de direitos básicos – viu o cenário piorar com a pandemia: considerada atividade essencial, o serviço segue com alta demanda e baixos salários. Motoboys e ciclistas reivindicam mais segurança, alimentação durante a jornada, taxas justas, licença remunerada em caso de acidentes, além do fim do sistema de pontuação e de bloqueios indevidos. Os aplicativos de entrega são a principal fonte de renda de mais de 3,8 milhões de brasileiros. O IBGE estima que os entregadores cadastrados em aplicativos são 17% dos 23,8 milhões de trabalhadores informais – isto é, cerca de 4 milhões de trabalhadores, cuja situação foi muito degradada depôs da reforma trabalhista, aprovada pelo governo de Michel Temer em 2017.
Lava Jato as ordens dos EUA – Os procuradores da “Lava Jato”, em Curitiba, combinavam com os EUA extradições ilegais, sem passar pelas autoridades brasileiras, mas diretamente com autoridades estrangeiras, mostram conversas divulgadas na quarta-feira (1º) pela Agência Pública e o The Intercept Brasil. O material divulgado revela que a prática de negociar a extradição diretamente com as autoridades estrangeiras (dos EUA) era um procedimento normal entre procuradores da Lava Jato.
Num quadro de piora do covid-19, Bolsonaro sabota o confinamento – Quando o Brasil registrou aumento na taxa de transmissão da covid-19, tem mais de 1,3 milhões de infectados e mais de 63 mil mortos na pandemia, o presidente Bolsonaro foi para internet se manifestar contra o isolamento e pela reabertura das atividades econômicas.
Cresce o apoio à democracia e a oposição contra Bolsonaro – Pesquisa Datafolha revela que 75% apoiam a democracia, indicando crescimento em meio ao agravamento da crise política do governo Bolsonaro, e atingiu o maior índice da série histórica do instituto: em dezembro passado, 62% apoiavam a democracia, ou seja, desde então o apoio cresceu 13 pontos percentuais. Outra pesquisa do DataPoder360 mostra que 52% querem que Bolsonaro fora do governo. Datafolha revela também que 81% dos entrevistados consideram que espalhar fake news contra políticos e ministros do STF ameaça à democracia; 68% têm a mesma avaliação sobre as ações de rua pelo fechamento do Supremo e do Congresso.
Falta emprego e renda para 43,1 milhões de brasileiros – Com o governo Bolsonaro sem rumo, a economia brasileira em recessão e uma pandemia sem precedentes, há uma explosão de desemprego, subutilização de trabalhadores e desalento, diz a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Mensal, do IBGE, divulgada na terça-feira (30). De acordo com o IBGE, o nível de ocupação é de 49,5% – isto é, metade dos trabalhadores, o menor da série histórica iniciada em 2012. Perda de renda atinge mais autônomos e informais, aponta uma análise do Ipea sobre o impacto da pandemia no mercado de trabalho, revela ainda que a renda média da população caiu para 82% da renda habitual em maio. Os trabalhadores por conta própria e informais foram mais atingidos. O estudo, divulgado na quinta-feira (2), baseia-se na Pnad Covid-19 do IBGE.
Com poucos avanços, projeto de fake news é aprovado no Senado – O Senado aprovou na terça-feira (30) o projeto de lei das fake news, que cria uma série de medidas para coibir a disseminação de conteúdo falso e mentiras nas redes sociais e mensageiros privados, como o Whatsapp.
TSE dá mais tempo para investigação contra Bolsonaro e Mourão – O TSE decidiu na terça-feira (30) reabrir a fase de produção de provas nas duas ações protocoladas por partidos de oposição para cassar a chapa vencedora da eleição de 2018, de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão.
STF dá mais 30 dias para apurar interferência de Bolsonaro na PF – O ministro do STF, Celso de Mello, prorrogou por mais 30 dias o inquérito que investiga a interferência política do presidente Bolsonaro na Polícia Federal, segundo denúncia do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro. Com prazo estipulado até quarta-feira (8) da próxima semana, o inquérito ainda tem pendente o depoimento de Bolsonaro solicitado pela PF. O decano do STF pediu que a PGR se manifestasse, o que ainda não aconteceu.
Mais mentiras na propaganda do governo – Bolsonaro usa fotos de bancos de imagens como se fossem de nordestinos – O vídeo da campanha “Alô Presidente”, divulgada por Bolsonaro no Twitter usa falsamente fotos de banco de imagens como se fossem de eleitores do Nordeste interagindo com ele por telefone. As imagens, que se passam por uma mulher e de um homem do Ceará e do Rio Grande do Norte, são na verdade imagens obtidas num banco de imagens iStock na internet.
Palestina: dia da raiva contra Israel – Protestos impediram plano israelense de começar, em 1º de julho, a anexar o Vale do Jordão, como o primeiro ministro direitista Benjamin Netanyahu anunciou. Na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupadas, houve protestos na quarta-feira (1º), o “Dia da Raiva”, contra o plano de anexação israelense. O anúncio de Netanyahu é um momento de viragem, em que são abertamente rasgadas décadas de promessas de resoluções internacionais e mesmo de acordos assinados por Israel e EUA que, no papel, aceitavam a perspectiva dum Estado Palestino.