Bolsonaro tira a máscara e revela o que fará pelo vírus, diz Sakamoto
O colunista do UOL comenta o veto de Bolsonaro a lei aprovada no Congresso Nacional obrigando o uso de máscara em todo o território nacional
Publicado 04/07/2020 12:08
O jornalista Leonardo Sakamoto escreveu que o vírus aplaude e grita “mito” para Bolsonaro pelos vetos que o presidente fez a lei aprovada no Congresso que obriga o uso de máscara em todo o território nacional. “Não tivemos a sorte de contar com um governador que tenha articulado um plano de enfrentamento nacional à pandemia. Infelizmente, o ocupante do Palácio do Planalto possui uma rota de fuga”, diz o colunista do UOL.
Confira o artigo na íntegra:
Jair Bolsonaro foi criticado por escolher leis de leis aprovadas pelo Congresso Nacional, obrigando o uso de máscara em território nacional durante uma pandemia de coronavírus. Ele excluiu a necessidade de proteção em instituições de ensino, templos e igrejas e estabelecimentos comerciais. Enquanto isso, o Brasil registrou, nas últimas 24 horas, 1.290 novas mortes por doença, segundo o Ministério da Saúde, totalizando 63.174 óbitos e 1.539.081 casos, mantendo-se na vice-liderança global da covida.
Também verificar multas e a obrigação do governo federal de distribuir máscaras para os mais pobres. Questionado sobre a mortalidade por pandemia, o presidente já disse, em mais de uma ocasião, que “todos nós morreremos um dia”. Portanto, com os vetos está apenas ajudando os brasileiros – principalmente os negros e as pessoas imunodeprimidas, vítimas mais frequentes – encontrando mais rapidamente “destino”.
Ironicamente, chama-se “Moros” ou deus do destino e da morte na mitologia grega. Mas, por aqui, destino e morte não ficam à carga de um deus e sim de um Messias.
O apoio explícito ao presidente deu ao vírus não anula como legislação local, como em São Paulo, que prevê multa de R $ 500 para quem não usa máscara em locais públicos. Mas atinge os locais sem uso próprio.
Não tivemos a sorte de contar com um governador que tenha articulado um plano de enfrentamento nacional à pandemia. Infelizmente, o ocupante do Palácio do Planalto possui uma rota de fuga. E, enquanto percorre, culpando governadores e prefeitos, vende uma ideia de que não pode legislar sobre espaços públicos de natureza privada. Quer ser visto como defensor da liberdade. O vírus ou aplaude e grita “mito!”
“Claramente, na saúde pública, você precisa ter uma única liderança que atue em qualquer país, que pode acontecer. Singapura, Coreia do Sul, China foram regiões que resolveram ou problemas mais rapidamente porque havia uma voz que articulava e comandava. Aqui, não” , afirma o infectologista Marcos Boulos, professor titular da Faculdade de Medicina da USP e integrante do comitê de contingência de coronavírus no Estado de São Paulo.
De acordo com ele, uma capital paulista conta com 98% de uso de máscara, índice que não foi atingido no interior do Estado. Esse é um dos elementos que foram levados em conta para a permissão de funcionamento de bares e restaurantes a partir da segunda (6). “Caso isso mude após uma flexibilização, haverá um reflexo negativo nos números”, afirma.
Uma reabertura de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro acabou sendo influenciada pela pressão de Bolsonaro, inegavelmente.
Mas não apenas. Muitos justificaram o fato de grandes cidades da Europa e os Estados Unidos estarem reatando. Esses locais, exceto, estão semanas à frente das grandes metrópoles brasileiras do ponto de vista epidêmico. Estamos longe da curva descendente de França, Espanha, Itália ou mesmo Nova York.
São Paulo e Rio de Janeiro, com isso, uma decisão que não é apenas baseada na saúde pública, mas também na economia e política – como registrada no post anterior. Bolsonaro sente-se satisfeito. Para ele, é uma vitória, ainda que parcial.
O problema que acontece nas duas maiores cidades acaba por influenciar uma reabertura de cidades no interior do país – regiões que, por sua vez, ainda veem uma infecção escalando no número de mortos.
“Cada lugar tem um tempo epidêmico diferente. Há processos diferentes em cidades do interior e nas capitais do Brasil da mesma forma que existe um outro tempo epidêmico em outros países”, explica Diego Xavier, pesquisador do Laboratório de Informações em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz.
Ele concorda com uma cobrança intensiva pelo poder público de uso da máscara neste momento de relaxar as quarentenas nas duas cidades, mas também reforça a necessidade de aplicação de testes em massa.
“Os países que reabrem aumentam muito a sua testagem. Eles podem ser afetados, mas são isolados, como aconteceu em Pequim. Caso contrário, ou ocorrer descontrola e tudo será fechado novamente”, afirma. “Uma segunda onda de contaminação trará impactos ainda mais graves, não apenas para as pessoas, mas também para a economia.”
Mas o Brasil precisa voltar a funcionar normalmente, “morra quem morrer”, como bem retomar o prefeito de Itabuna (BA). Justo. Todo mundo morre. Até a dignidade. Até democracias.