Pandemia já fez setor cultural perder metade da receita
Pesquisa mostra como a crise sanitária atingiu trabalhadores e produtores de atividades culturais e comprova urgência dos recursos da Lei Aldir Blanc
Publicado 30/06/2020 21:53 | Editado 30/06/2020 23:06
Resultados preliminares da pesquisa nacional que tenta avaliar os impactos da pandemia do novo coronavírus no setor cultural comprovam perdas importantes em termos de receita, na projeção para o futuro e na contratação e compra de insumos e materiais. Divulgada nesta segunda-feira (29), o levantamento “Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil” adverte para um cenário “extremamente preocupante”, que pode ser atenuado temporariamente, com os recursos esperados após sanção presidencial da Lei Aldir Blanc, que ocorreu ontem.
Do total de 1.085 respostas já recebidas, de todo o país, todos foram unânimes em informar queda de receita. Entre março e abril, o faturamento do setor caiu 34% em relação ao período pré-pandemia. Entre maio e julho, foi de 44,7%. A projeção para o período de agosto a outubro é de perda de cerca de 50%.
Aberta no dia 10, até o momento a pesquisa abordou, em sua grande maioria, trabalhadores ligados a atividades culturais, ou seja, pessoas físicas – quase 70% responderam o levantamento. Os outros 30% incluem empreendedores, representantes de coletivos ou comunidades, registrados como pessoas jurídicas. O questionário permanece público para colher respostas até 16 de julho. Mas de imediato confirma que esse será o último setor a retomar a viabilidade econômica no pós-crise sanitária.
Impactos por estado e setor
Dados da Unesco, uma das parceiras da pesquisa, ressaltam que a previsão era de que os setores culturais e criativos participassem com R$ 43,7 bilhões do PIB brasileiro até 2021. No ano passado, os dois setores movimentaram R$ 171,5 bilhões, o equivalente a 2,61% de toda a riqueza nacional. Ao menos 837,3 mil profissionais estavam empregados.
Os dados preliminares indicam que a maior parte das respostas validadas estão distribuídas por São Paulo, Paraná, Pará, Amazonas e Pernambuco. Amapá, Roraima, Rio Grande do Norte, Rondônia e Tocantins são, em ordem decrescente, os estados com a menor participação na pesquisa. Até o momento, o maior impacto em termos de receita, segundo o levantamento, teria ocorrido no Rio do Grande do Sul, onde 63% disseram que não tiveram receita entre março e abril, assim como no Amazonas. Já os menos afetados teriam sido São Paulo, onde 31% responderam ter perdido toda a receita.
No geral, os setores de arte performática que inclui música, teatro, dança, festivais e festas, por exemplo, e o de artes visuais e artesanato são os que mais estão sofrendo.
Obstáculos na distribuição
A maioria dos atores, músicas e produtores disseram ter dificuldade em levar suas produções para o meio virtual. Em tempos de live, esse dado indica que, apesar de muitos artistas serem patrocinados na realização desses eventos –, a maior parte nem sequer tem acesso à estrutura. Algo preocupante do ponto de vista não só da manutenção e renda desses trabalhadores, mas em relação à difusão da cultura no Brasil.
O processo de mídia e de marketing não atinge a imensa maioria dos produtores e distribuidores culturais e criativos do país.
Lei Aldir Blanc
A pesquisa abre uma discussão sobre outros mecanismos que poderiam atenuar situação dos trabalhadores e produtores culturais nesse momento de crise. Ela é resultado do esforço coletivo de pesquisadores, da sociedade civil e instituições parceiras. Além da Unesco, também apoiam o levantamento o Sesc, o Fórum Nacional dos Secretários de Cultura e a Articulação Nacional da Lei Aldir Blanc. As secretarias de Cultura da Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Paraná, Sergipe e Pernambuco também assinam o projeto.
Nesta segunda, em meio à divulgação dos resultados preliminares em debate virtual, os participantes receberam a notícia de sanção presidencial à Lei Aldir Blanc. A medida destinará R$ 3 bilhões em auxílio emergencial aos trabalhadores e subsídios para a manutenção de espaços artísticos e culturais, microempresas e pequenas empresas e coletivos do setor.
Publicado em Rede Brasil Atual
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