Duas frentes contra Bolsonaro

Seria bom revisitar o conceito de hegemonia. Exigirá menos fígado e mais frieza.

O Movimento Direitos Já! fez um histórico ato virtual suprapartidário no último dia 26 de junho. Apenas três dias depois, a OAB lançou uma campanha pela democracia, assinada por setenta entidades da sociedade civil.

É pouco provável que tantos atores importantes estejam se mobilizando em torno de uma causa fictícia. A democracia está ou não ameaçada?

A Frente Democrática já provou sua importância quando impediu a transferência de Lula para Tremembé. Está unida na defesa do jornalismo, vítima cotidiana de agressões. Impediu que o Planalto indicasse “Reitores biônicos” para as universidades federais durante a pandemia.

Foi ela que derrotou Guedes e impôs o auxilio emergencial de 600 reais por três meses. O caos econômico e social é o que desejam as milícias bolsonaristas.

É uma Frente eleitoral? Claro que não. Participar dela significa se submeter aos ditames de alguns de seus integrantes? Afirmar isso é uma grande bobagem. É fugir da disputa.

Muitos atores, descolados da lógica da disputa partidária, militam pela democracia. Vamos deixar que fiquem sob a influência exclusiva dos liberais? Seria um grande equívoco

As críticas mais ácidas à construção ampla partem dos que se agarram ao “congelamento da derrota” sofrida no impeachment de Dilma. Por essa visão míope, o Brasil estaria dividido entre golpistas neoliberais e “não golpistas portadores de uma moral superior”.

Votaram contra a saída de Dilma o PT, o PDT, o PCdoB e o PSOL. Apenas 136 votos. Vamos ficar chamando todos os outros de traidores da pátria e vagabundos? Num eventual segundo turno em 2022, vamos pedir o apoio deles contra Bolsonaro?

Por este raciocínio, o PSB estaria excluído até da Frente de Esquerda. O PDT e o PT estão em guerra. Considerando que o PSOL não participa nem da “Frente PT-PCdoB” Brasil Popular, quem sobraria?

Só pode conversar com os liberais se eles aderirem ao impeachment? Existem 19 pedidos no Congresso, por que não andam? É uma baita ilusão achar que a esquerda vai conseguir algo sozinha. A disputa real é dura, não é uma competição de bravura.

Além de inconsequente, este discurso não é razoável. Quem fez do banqueiro Henrique Meireles presidente do BC? Quem nomeou o “Chicago Boy” Joaquim Levy ministro da Fazenda? Dialogar com liberal agora é crime? É preciso ter um mínimo de respeito pela memória das pessoas.

Todos os partidos e ex-presidentes da República foram convidados para o ato virtual. Não é possível usar o espantalho da “tentativa de isolamento”. Seria mais honesto assumir o isolamento como uma estratégia política. É legítima, apesar de equivocada.

É um grave erro comparar a conjuntura atual com a dos anos 80, defendendo a recusa do “novo colégio eleitoral”. Sem entrar no mérito da decisão, vivíamos naquela época um momento de abertura e ascensão da luta democrática. A Constituição Cidadã é produto disto. É o mesmo ambiente e a mesma correlação de forças de hoje?

A condenação de Lula é um absurdo. Bolsonaro vai indicar dois ministros para o STF. A situação vai melhorar? A melhor forma de reverter este quadro é ganhando as próximas eleições. Seria bom revisitar o conceito de hegemonia. Exigirá menos fígado e mais frieza.

Frente Ampla ou Frente de Esquerda? As duas, concomitantes. Uma para barrar o autoritarismo e ampliar nosso diálogo com a sociedade. A outra para garantir um programa que recoloque o país no rumo do desenvolvimento com justiça social.

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Um comentario para "Duas frentes contra Bolsonaro"

  1. Maria da Pureza Sobrinha disse:

    Defendo e apoio a ideia da Frente Ampla, como forma de barrar a ofensiva autoritária e liberal do governo Bolsonaro, e construir um novo projeto de desenvolvimento econômico e social para o Brasil.

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