Parlamentares repudiam governo por tentar mascarar mortes por covid-19
Após ameaçar sonegar dados, governo faz “confusão” e divulga informações divergentes. Parlamentares defendem transparência e condenam postura do governo Bolsonaro
Publicado 08/06/2020 11:45 | Editado 08/06/2020 12:17

Com o Brasil próximo das 40 mil mortes por Covid-19, a estratégia adotada pelo governo Bolsonaro foi a sonegação de dados. Em vez de anunciar e promover ações efetivas para o enfretamento da pandemia no país, o Ministério da Saúde promoveu uma “confusão” na divulgação dos dados sobre a doença no domingo (7).
No primeiro balanço, a Pasta apontava 1.382 mortes nas últimas 24 horas, elevando o total de óbitos para 37.312. Já num segundo balanço, o painel oficial do ministério informava 525 óbitos, somando 36.455 mortes desde o início da pandemia no Brasil. A diferença na apuração das mortes das últimas 24 horas entre os dois balanços é de 857 pessoas.
Para o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), “o governo Bolsonaro segue mostrando toda sua incapacidade e incompetência, fazendo confusão com dados importantes depois de tentar omiti-los”. “Essa é uma crise mundial e o mundo precisa de transparência com esses números”, apontou o parlamentar.
“Só no Brasil o governo decide mascarar dados totais de mortes por Covid-19. Onde vamos parar com a realidade da pandemia sendo escondida da população? Inaceitável”, afirmou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
A “confusão” do Ministério da Saúde se estendeu ao número de casos informados nas últimas 24 horas. Enquanto o primeiro balanço indicava 12.581 casos, levando o total de casos confirmados para 685.427, o segundo balanço apontava para 18.912 casos a mais da doença, somando 691.758 casos.
Recontagem
Os números de mortes e casos confirmados viraram motivo de polêmica desde a noite de sexta-feira (5), quando o Ministério da Saúde deixou de apresentar dados consolidados sobre a doença.
Desde então, uma série de ameaças de sonegação de dados e recuos, por meio de notas do Ministério da Saúde aconteceram.
Na ocasião, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) não poupou críticas às ações do governo Bolsonaro. “É digna de pena a indigência intelectual do governo Bolsonaro. A novidade é retardar o informe diário do número de mortos, como coisa que isso fosse esconder o fato irrefutável: estão morrendo mais de 1000 brasileiros por dia diante da omissão criminosa de Bolsonaro. Chega a ser constrangedor pensar que o presidente da República acredita que tal infantilidade, embora atente contra a transparência na administração pública, impedirá que a informação venha à tona. Seria risível, não fosse absurdo”, destacou.
O deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE) afirmou que manipular dados não irá tirar a responsabilidade do governo pelas vidas perdidas. “Pra enganar os brasileiros, Bolsonaro já atrasou a divulgação dos dados da pandemia, já cancelou as coletivas de imprensa e já maquiou não sei quantas vezes as planilhas. Agora quer recontar o número de mortos. Enquanto isso boicota o auxílio aos estados e o isolamento social. Omitir informações da pandemia não vai salvar vidas! Recontar número de mortos não vai diminuir a dor das milhares de vidas que perdemos”, afirmou.
Ações
As anunciadas mudanças na metodologia de compilação e divulgação dos dados da Covid-19 provocou reação de parlamentares, de especialistas e da justiça. O Ministério Público Federal instaurou um procedimento para averiguar o caso e deu um prazo de 72 horas para que o ministro interino, Eduardo Pazuello, apresentasse explicações.
Além disso, partidos da esquerda – PCdoB, PSOL e Rede – entraram com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) cobrando a divulgação dos dados de Covid-19 no Brasil.
Segundo a petição, a restrição de divulgação das informações pelo Poder Executivo é uma clara “violação a preceitos fundamentais da Constituição, sobretudo ao direito à vida e saúde do povo, bem como do dever de transparência da administração pública e do interesse público”.
Para a líder do PCdoB na Câmara, deputada Perpétua Almeida (AC), o governo não tem o direito de esconder as informações. “Exigimos que o governo cumpra os princípios da gestão e da administração pública de moralidade, da impessoalidade, da divulgação dos fatos e da transparência. A população brasileira tem direito de saber o que está acontecendo no país com essa pandemia. O governo Bolsonaro não tem o direito de esconder”, ressaltou.
“Só faltava essa, melhorar resultados escondendo os números. Foi para isso que os militares assumiram o Ministério da Saúde? O desespero de Bolsonaro, por não ter enfrentado a crise como deveria, está evidente. Depois do centrão a maquiagem”, disse a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).
O líder da oposição na Câmara dos Deputados, deputado André Figueiredo (PDT-CE), anunciou que vai apresentar nesta segunda-feira (6) um projeto de lei para determinar que os números de contaminados e mortos pela covid-19 sejam repassados pelas secretarias estaduais à Câmara dos Deputados ao mesmo tempo em que são enviados ao governo federal.
“Vamos sistematizar os dados pelo parlamento e daremos a publicidade que o governo não quer dar”, afirmou o líder.
O senador Humberto Costa (PT-PE) diz que acabou o tempo sombrio de dados escondidos da ditadura. “As instituições democráticas deste país não deixarão o seu governo jogar os dados da Covid-19 debaixo do tapete para mentir à população, como a ditadura militar fazia”, afirmou.
Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), manipular dados de mortes é prova da crueldade de Bolsonaro. “Já acionamos o STF e vamos representar em todos os lugares possíveis para que a verdade seja restabelecida. Não vamos permitir que esses covardes se escondam atrás da dor de milhares de famílias”, criticou.
Fonte: PCdoB na Câmara