“Da cor da tua cor”, um manifesto de Joãozinho Ribeiro
Poeta, cantor e compositor, Joãozinho Ribeiro é um dos mais gravados do Maranhão
Publicado 07/06/2020 22:12
“Meu país, meu continente
Minha nação varonil”
Afirmei e continuo afirmando, mais convicto ainda, que, se o Brasil fosse um verbo só admitiria ser conjugado no plural. Impossível singularizar tantas identidades, tantas culturas, tantas diversidades, num formato homogêneo e único. O resultado seria uma exclusão cultural sem precedentes, conjugado com a ampliação das desigualdades em todos os gêneros e sentidos.
“Minha América Latina
Meu pedaço de Brasil”
Penso nos últimos episódios cometidos pelo ex-atual e inexpressivo presidente da Fundação Palmares, injuriosos e difamatórios contra o Movimento Negro e contra uma das maiores expressões da música negra brasileira e mundial – a cantora maranhense Alcione Nazareth – em plena onda de indignação e combate ao racismo, impulsionada pelo covarde assassinato do negro americano George Floyd, na cidade de Minneapolis.
“Minha tribo, minha gente
Minha raça, meu amor”
Temos urgentemente de desafinar o coro dos genocidas, dos racistas e dos fascistas, com as nossas criatividades e alegrias! Eles não suportam a felicidade!. De um samba recente, que fiz em parceria luxuosa com o compositor Zeca Baleiro, lembrei de um verso bem apropriado para o momento: “Na roda de samba / O mal não se cria / Shalom, eparrei / Saravá, Aleluia!”
As raízes do mal têm de ser extirpadas, com a queima das suas possibilidades de propagação, em fogo alto, para evitar que os elogios das tragédias anunciadas tomem corpo e se materializem neste terreiro chamado Brasil, que não lhes pertence!
“Meu futuro, meu presente
É da cor da tua cor”
E pra não dizer que não falei de poesia, os versos que estão distribuídos ao longo do texto pertencem a uma composição que fiz, faz um bom tempo, com outro valoroso parceiro e admirador da Marrom, o cantor, compositor e agora artista visual Betto Pereira.
Do povo negro maranhense, do povo negro brasileiro, minha cara e estimada Marrom – Cidadã do Samba, da Mangueira, de São Luís do Maranhão e do mundo – receba essas modestas divagações dominicais deste poeta, como uma forma de convocação para a resistência, valorização e combate a todas as formas de violência e discriminação, contra os negros e todos os povos que compartilham da vida e de suas circunstâncias nesse Brasil, pois aprendemos com o professor Milton Santos que o lugar do negro é onde ele quiser, na música, no esporte, na academia, na direção das empresas, na Presidência da República…E mais, que “lugar é o espaço do acontecer solidário.”
Vamos ampliar nossos lugares, defender nossas dignidades, e fazer acontecer nossa arte e nossa solidariedade por toda parte desta Pátria que se encontra muito desamada, afinal de contas
Quem roçou, plantou
Penou nesse País
Agora também
Tem de ser feliz!
*Joãozinho Ribeiro é poeta, cantor e compositor, um dos mais gravados do Maranhão, com mais de 40 anos de carreira.