Pandemia: 60% dos brasileiros apoiam o “lockdown”, aponta Datafolha
Para 65%, é mais importante que as pessoas fiquem em casa do que retomar a economia com a volta às ruas e reabertura do comércio não essencial
Publicado 27/05/2020 14:05
Jair Bolsonaro continua a conduzir de forma irresponsável a crise da Covid-19. Mas a maioria da população brasileira segue indiferente ao discurso presidencial e apoia a adoção de medidas restritivas para conter a pandemia. É o que aponta a pesquisa Datafolha feita na segunda (25) e na terça-feira (26), por telefone, com 2.069 entrevistados. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Na opinião de 60% dos ouvidos, para combater a transmissão do coronavírus, é recomendável o “lockdown” – o confinamento radical em cidades ou estados onde a quarentena se revelou insuficiente. Apenas 36% são contrários, 2% não souberam responder e 1%, se dizem indiferentes.
O “lockdown” é alvo de discussão, por exemplo, na cidade de São Paulo. A medida é defendida pelo prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), depois do fracasso de seu megarrodízio de automóveis, que superlotou o transporte público, sem ganhos consideráveis em termos de isolamento social.
Os mais ricos – aqueles ganham acima de 10 salários mínimos – são os mais refratários à ideia: 50% são contra, empatados (na margem de erro) com os 47% a favor. O apoio à ideia é maior no Nordeste, região com maior oposição ao governo Bolsonaro, de maior preocupação com a economia e rejeição ao isolamento social. Lá, 69% são a favor do “lockdown”. Com 54% de apoio, a região Sul, reduto bolsonarista, é a menos favorável.
Apesar de apoiar o “lockdown” e manter o apoio à prioridade de permanecer em casa ante a necessidade de ir trabalhar em prol da economia, o brasileiro vem cada vez menos aderindo ao isolamento social. Dizem que se cuidam, mas estão saindo de casa, 35%. Nas três pesquisas anteriores, em 1º a 3 de abril, 17 de abril e 27 de abril, os índices eram respectivamente de 24%, 26% e 27%.
Já aqueles que dizem sair só quando é inevitável seguem sendo o maior grupo – 50%, com estabilidade ante o aferido anteriormente. Mulheres saem menos, e 25% estão na categoria “me cuido, mas saio”, ante 46% dos homens. Elas também são mais favoráveis ao confinamento, 68%, enquanto a ideia tem apoio de 52% deles.
Já os totalmente isolados oscilaram de 16% para 13%. Eles representam o grupo que mais apoia o “lockdown”, 78%. Os maiores de 60 anos, teoricamente mais vulneráveis a complicações da Covid-19, são os que mais ficam em casa o tempo todo: 21%.
Os benefícios do isolamento social são assim percebidos de forma majoritária. Para 65%, é mais importante que as pessoas fiquem em casa do que retomar a economia com a volta às ruas e reabertura do comércio não essencial. O número é estável em relação aos dois últimos levantamentos. Já aqueles que acreditam que seja hora de flexibilizar mais o isolamento são 28%.
Aqui, a ocupação do entrevistado fala alto. Empresários são os mais contrários a manter as pessoas em casas, mesmo que isso cause mais desemprego: 51%, enquanto 39% deles acham que a prioridade é o isolamento. O “lockdown” é rejeitado por 55% dos empresários, ante 38% que o aprovam. Estudantes estão no outro polo, com 83% de apoio a ficar em casa, enquanto 16% deles querem o relaxamento das regras de quarentena.
Por fim, o brasileiro está pessimista com a duração da crise, que afeta o cotidiano de grandes cidades brasileiras desde o fim de março. A maior fatia entre os ouvidos, 40%, crê que o país só voltará à normalidade num prazo de quatro meses a um ano. Para 9%, isso ocorrerá de um a dois meses, 10% veem a retomada de dois a três meses e 8%, de três a quatro meses. São mais pessimistas os jovens de 16 a 24 anos, aqueles com curso superior e os mais ricos.
Com informações da Folha de S.Paulo