De Olho no Mundo, por Ana Prestes
A especialista em Relações Internacionais Ana Prestes destaca, nesta quinta-feira (21), os novos ataques de Trump à China, no mesmo dia em que o governo local de Taiwan tomou posse para um segundo mandato. As notas tratam também dos planos da União Europeia para recuperar a economia do bloco e o fato de o Vietnã ter controlado a pandemia do coronavírus, entre outros temas.
Publicado 21/05/2020 10:42 | Editado 21/05/2020 11:41
Trump voltou a atacar a China. Em uma mensagem via twitter publicada ontem (20) ele diz: “Um louco da China acaba de publicar uma declaração culpando a todos menos a China pelo vírus que até agora já mantou centenas de milhares de pessoas. Por favor, expliquem a este estúpido que foi a ‘incompetência da China’, e nada mais, que provou essa matança global massiva!”. A pessoa que Trump destrata é o porta-voz do ministério das relações exteriores da China, Lijian Zhao. Hoje (21) mais cedo, Trump renovou os ataques: “A China está em uma massiva campanha de desinformação porque estão desesperados para ver o Dorminhoco Joe Biden ganhar a corrida eleitoral para que possam continuar assaltando os Estados Unidos, como fizeram por décadas, até que eu chegasse!”.
O ataque de Trump se deu em um dia bastante sensível para a China. O governo local de Taiwan tomou posse ontem (20) para um segundo mandato. Alguns governos em tom de provocação aproveitaram para parabenizar a governadora Tsai Ing-wen por sua posse pela segunda vez como “presidente de Taiwan” como se este fosse um país independente, algo que não é reconhecido pelas autoridades chinesas e a maioria dos países do mundo. Um exemplo das provocações foi a declaração de Mike Pompeo que parabenizou Tsai por sua “coragem e visão em liderar a vibrante democracia de Taiwan”, ao que autoridades chinesas reagiram dizendo que “o gesto dos Estados Unidos interfere seriamente nos assuntos internos da China e afeta a paz e a estabilidade” (Ministério da Defesa). O governo chinês considera Taiwan, assim como Hong Kong, como parte inseparável da China em um regime de “um país, dois sistemas”.
Ainda sobre China, está na imprensa internacional que membros do governo estão pedindo às empresas de processamento de alimentos que aumentem seus estoques de grãos e oleaginosas para o caso de uma possível segunda onda do coronavírus e o agravamento das taxas de infectados em outros países que impacte sobre as linhas de suprimento globais. Nas próximas semanas devem aumentar as compras de soja, óleo de soja e milho. Um dos traders citado em uma reportagem da Reuters comentou inclusive sobre o Brasil ao dizer que foi aconselhado pelas autoridades chinesas a “aumentar os estoques, manter os suprimentos mais altos do que normalmente temos. As coisas não parecem bem no Brasil”. A reportagem cita ainda como uma das maiores preocupações da China o fornecimento de feijão pela América do Sul.
Será lançada no próximo dia 29 de maio, pela OMS, uma plataforma que foi sugerida ainda no início da pandemia pelo presidente da Costa Rica, Carlos Alvarado Quesada, para dar suporte às inovações científicas na área das pesquisas sobre formas de combater no novo coronavírus Sars-CoV-2 que causa a Covid-19. Será uma forma de compartilhamento aberto de dados científicos para que várias empresas públicas ou privadas possam acessar informações necessárias para produzir novas tecnologias em matéria de equipamentos de segurança, medicamentos e vacinas. O objetivo é ter uma ferramenta de acesso igualitário aos produtos de saúde para a Covid-19. No mundo de hoje, é difícil crer que algo assim possa funcionar, seria um grande avanço.
Na União Europeia, França e Alemanha chegaram a uma proposta de fundo de recuperação econômica para o bloco. A proposta de Macron e Merkel é a criação de um fundo de reconstrução de meio trilhão de euros no âmbito do Marco Financeiro Plurianual (MFP) 2021-2027. O fundo possui um fator inédito, pois os países beneficiários não terão que reembolsar as ajudas e isso vai contra o que pregam alguns países como a Holanda e outros do norte que gostariam que essa ajuda viesse em forma de empréstimos reembolsáveis aos países mais afetados pela pandemia. A chanceler Angela Merkel, que a princípio estava mais propensa às propostas dos países do norte, disse que o “objetivo é tratar de que a Europa saia desta crise mais coesa e solidária”. Outras propostas ainda podem chegar até o dia 27 de maio, quando a Comissão Europeia deve apresentar uma proposta coletiva. O plano apresentado se juntará ao anterior já aprovado (falei dele aqui) e que destina outro meio trilhão de euros, mas em empréstimos, para sustentar os sistemas de saúde, mercado de trabalho e empresas do bloco.
Um conjunto de supermercados britânicos, cerca de 40, entre eles, as redes Sainsbury’s, Tesco, Morrisons e Marks&Spencer, assinaram uma carta aos parlamentares brasileiros pedindo para rejeitarem o projeto de lei de regularização fundiária proposta pelo governo Bolsonaro. Na carta é dito que, uma vez aprovada, a lei “incentivará a apropriação de terras e o desmatamento generalizado que colocará em risco a sobrevivência da Amazônia e o cumprimento das metas do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, além de prejudicar os direitos das comunidades indígenas e tradicionais”. Em outro trecho há uma ameaça: “acreditamos que isso também colocaria em risco a capacidade de organizações como as nossas de continuar comprando do Brasil no futuro”. A carta se refere à MP 910/2019 que tratava da regularização fundiária de ocupações em terras da União e que ao caducar por não ser votada foi substituída pelo projeto de lei PL 2633/20.
O presidente palestino Mahmoud Abbas denunciou esta semana (19) a nulidade dos acordos com Israel e EUA. Em seu anúncio ele disse que “a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e o Estado da Palestina estão liberados de todos os acordos e entendimentos com os governos estadunidense e israelense e de todas as obrigações baseadas nesses entendimentos e acordos”. Abbas convocará uma reunião de emergência para discutir qual será a estratégia diante do “Plano do Século” de anexação da Palestina, promovido por EUA e Israel desde janeiro deste ano. A União Europeia também se pronunciou sobre o tema. O diretor de política externa do bloco, Josep Borrell, disse que Israel não deve continuar com sua decisão unilateral de anexar partes do território palestino ocupado, dizendo que o bloco europeu não reconhecerá nenhuma mudança unilateral nas fronteiras estabelecidas em 1967.
Amanhã (22) é o Dia de Jerusalém ou o Dia de Al-Quds em árabe. Um dia criado há algumas décadas pelos iranianos como forma de dar destaque à luta pela libertação da Palestina. Este ano a data será lembrada de forma diferente, sem grandes marchas, por conta da pandemia do novo coronavírus. Na Palestina já começaram a ser expostas bandeiras e cartazes nas janelas e as comunidades islâmicas de várias partes do mundo já anunciaram que comemorarão via redes sociais e pelas janelas a passagem da data que este ano possui um significado ainda maior, dada a ofensiva israelense sobre o território palestino com o apoio de Trump.
O Vietnã, país asiático muito próximo geograficamente da China, não registra nenhuma infecção pelo novo coronavírus por via comunitária desde o dia 16 de abril. O número de infectados era de 320 no dia 18 de maio, sendo 180 deles importados, ou seja, trazidos por pessoas que estavam no exterior. Por enquanto, não há nenhum registro de falecimento por covid-19 no país. Por falar no país, foi comemorado no último dia 19 de maio o aniversário de 130 anos do nascimento de Ho Chi Minh. Reconhecido como o grande lutador contra a colonização do país, foi o primeiro presidente da independente República Democrática do Vietnã em 1945 e morreu lutando contra os EUA na terrível Guerra do Vietnã.
Há tempos não falo aqui nas notas da situação da Líbia. Mas há uma guerra ocorrendo por lá e de forma intensa há mais de um ano quando Khalifa Haftar (um antigo general do exército nos tempos de Gaddafi) resolveu tomar a capital Trípoli com seu Exército Nacional Líbio. As últimas notícias são de que Haftar perdeu a Base de Watiya da Força Aérea ao oeste da capital no movimento de maior alcance das forças oficiais do Governo do Acordo Nacional (GNA), apoiados pela ONU, neste um ano de conflito. No entanto as forças de Haftar dominam outras bases aéreas. Algo que chama atenção nesta guerra é que ela virou fortemente um combate entre drones e nesse quesito está se destacando a tecnologia turca de drones não tripulados. Segundo Sacha Petitot, líder dos Médicos sem Fronteiras (MSF) na região, entrevistado por um jornal português (jornal i), “as frentes de combate estão muito ativas, tanto com ataques aéreos e de drones como com tropas no terreno”. Ainda segundo Petitot, só em março devem ter sido danificadas 27 instalações médicas na Líbia, fora as constantes perdas civis. E isso em meio a uma pandemia.
Na Síria, circula um vídeo em que o exército sírio mostra que encontrou um grande número de armas israelenses e mísseis de fabricação norte-americana nas regiões de Daraa e Al-Sweida, reduto de terroristas do ISIS. O governo sírio deu a entender que material bélico foi sistematicamente adquirido de países como EUA, Turquia e Israel nos territórios liberados, antes ocupados por forças terroristas. Na Síria os drones turcos também fizeram muitos estragos recentemente, principalmente no conflito em Idlib que provocou uma intervenção russa. Esta semana, no dia 20 de maio, foi o dia da já tradicional Marcha do Silêncio no Uruguai. Dia de recordar as vítimas da ditadura no país. Este ano o ato foi diferente, sem marchas. Foram expostas as fotos das vítimas em cavaletes na principal avenida de Montevideo, além de bandeiras e cartazes nas janelas.