Dilma advertia há 4 anos que senadores colocavam em risco a democracia
Senado aprovou, em 12 de maio de 2016, o afastamento temporário da presidenta, eleita com 54,5 milhões
Publicado 12/05/2020 10:21 | Editado 12/05/2020 11:34
Às 6h30 da manhã de 12 de maio de 2016, o Plenário do Senado Federal aprovava a abertura de processo contra a presidente Dilma Rousseff por crime de responsabilidade. Injustamente e sem provas, num processo repleto de irregularidades e fraudes, ela foi acusada de infringir normas fiscais em 2015.
Dos 78 senadores presentes à sessão, 55 votavam favoravelmente ao relatório pró- impeachment de Antonio Anastasia (PSD-MG), relator da denúncia na Comissão Especial do Senado. Outros 22 votaram contra. Às 10h, Dilma era afastada, temporariamente, do cargo de presidente da República, para o qual foi eleita com 54,5 milhões em 2014.
Começava também ali o calvário da democracia brasileira, agredida com o impeachment, machucada pelos atentados contra a Constituição e ferida pela retirada sucessiva de direitos sociais e dos trabalhadores.
Por fim, vilipendiada pelo governo de Michel Temer, que chegava ao poder com o apoio da mídia e das classes dominantes brasileiras, interessadas em impor uma agenda neoliberal ultraortodoxa que transformou o frágil estado social sob o mais rigoroso arrocho fiscal da República.
Foi o Golpe de 2016 que permitiu à ascensão de Jair Bolsonaro ao poder, numa dobradinha urdida pela mídia e o juiz Sérgio Moro, que prendeu Lula e ganhou como recompensa o cargo de ministro da Justiça ainda em 2018, entre o primeiro e o segundo turno das eleições, na mais suspeita e escandalosa barganha criminosa ocorrida em 35 anos de redemocratização.
Por volta das 11h daquele dia 12 de maio, Dilma Rousseff se encaminhou até o Palácio do Planalto para fazer um pronunciamento à Nação. Ali, diante de jornalistas e dos correligionários, ela reiterou que o impeachment era um “golpe” e alertou o que a decisão tomada pelo Senado representava um risco para o país, suas instituições e ao povo brasileiro.
“O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição. O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos: os ganhos das pessoas mais pobres e da classe média, a proteção às crianças, os jovens chegando às universidades e às escolas técnicas, a valorização do salário mínimo, os médicos atendendo a população, a realização do sonho da casa própria, com o Minha Casa Minha Vida. O que está em jogo é, também, a grande descoberta do Brasil, o pré-sal. O que está em jogo é o futuro do País, a oportunidade e a esperança de avançar sempre mais”, alertou.
Oposição inconformada
O discurso histórico de Dilma foi contundente, com ataques aos partidos de oposição que perderam as eleições presidenciais por quatro vezes consecutivas: em 2002 e 2006, com Lula; e em 2010 e 2014, com a eleição e reeleição dela ao cargo máximo da República.
“Desde que fui eleita, parte da oposição, inconformada, pediu recontagem de votos, tentou anular as eleições e depois passou a conspirar abertamente pelo meu impeachment. Mergulharam o país em um estado permanente de instabilidade política, impedindo a recuperação da economia com um único objetivo: de tomar à força o que não conquistaram nas urnas”, lembrou a presidenta.
Dilma ressaltou que seu governo era alvo constante de intensa e incessante sabotagem. “O objetivo evidente vem sendo me impedir de governar, e, assim, forjar o meio ambiente propício ao golpe. Quando uma presidente eleita é cassada, sob a acusação de um crime que não cometeu, o nome que se dá a isto, no mundo democrático, não é impeachment: é golpe”, denunciou.
“Não cometi crime de responsabilidade, não há razão para um processo de impeachment”, reiterou, lembrando que tinha uma vida limpa.
“Não tenho contas no exterior, nunca recebi propinas, jamais compactuei com a corrupção. Esse processo é um processo frágil, juridicamente inconsistente, um processo injusto, desencadeado contra uma pessoa honesta e inocente. É a maior das brutalidades que pode ser cometida contra qualquer ser humano: puni-lo por um crime que não cometeu.”
“Queria me dirigir a toda a população do meu país dizendo que o golpe não visa apenas me destituir, destituir uma presidenta eleita pelo voto de milhões de brasileiros, voto direto em uma eleição justa”, destacou.
“Ao destituir o meu governo querem, na verdade, impedir a execução do programa que foi escolhido pelos votos majoritários dos 54 milhões de brasileiros e brasileiras. O golpe ameaça levar de roldão não só a democracia, mas também as conquistas que a população alcançou nas últimas décadas”.
Emocionada, a presidenta disse que tinha orgulho de ser a primeira mulher eleita presidenta do Brasil. “Nestes anos, exerci meu mandato de forma digna e honesta. Honrei os votos que recebi”, afirmou.
“O destino sempre me reservou muitos desafios, muitos e grandes desafios. Alguns pareciam intransponíveis, mas eu consegui vencê-los. Eu já sofri a dor indizível da tortura; a dor aflitiva da doença; e agora eu sofro mais uma vez a dor igualmente inominável da injustiça. O que mais dói, neste momento, é a injustiça. O que mais dói é perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política.”
“Lutei a minha vida inteira pela democracia, aprendi a confiar na capacidade de luta do nosso povo. Já vivi muitas derrotas e vivi grandes vitórias, confesso que nunca imaginei que seria necessário lutar, de novo, contra um novo golpe no meu país. Nossa democracia jovem, feita de lutas, feita de sacrifícios, feita de mortes não merece isso”, disse.
E completou: “A luta contra o golpe é longa. É uma luta que pode ser vencida e nós vamos vencer. Esta vitória, esta vitória depende de todos nós. Vamos mostrar ao mundo que há milhões de defensores da democracia em nosso país”. Suas palavras continuam atuais.
PT Nacional