Coronavírus: a ciência contra as fake news, por David Uip
Em São Paulo, decisões como a quarentena são baseadas na ciência, no conhecimento e na expertise do centro de contingência
Publicado 07/05/2020 08:29 | Editado 07/05/2020 13:42
O mundo vive uma pandemia grave, de um vírus novo, ainda pouco conhecido, mas que tem uma transmissão veloz e é capaz de causar doença multivisceral e, por vezes, morte.
Senti os efeitos da Covid-19. Sofri bastante ao longo de duas semanas, em isolamento domiciliar. Tive pneumonia e fiquei muito angustiado, mas felizmente me recuperei. E posso dizer com todas as letras: a doença não é brincadeira.
O governo de São Paulo está levando muito a sério o enfrentamento desta epidemia. Desde a confirmação do primeiro caso, em 25 de fevereiro, de um paciente que havia retornado da Itália, o governador João Doria (PSDB) decidiu criar um Centro de Contingência do Coronavírus no estado.
Esse centro, coordenado por mim, é formado por especialistas em saúde, entre cientistas, médicos, professores universitários, virologistas e pesquisadores com larga experiência nos setores público e privado. Um time que está auxiliando o governo paulista a tomar as melhores decisões para conter a transmissão e evitar, ao máximo, óbitos.
O grupo tem uma missão clara: acompanhar a evolução da epidemia no Brasil e no mundo, projetar cenários epidemiológicos, discutir os dados científicos disponíveis, consultar a literatura médica e, com isso, elaborar sugestões de medidas que são encaminhadas para o governador e ao vice-governador e compartilhadas com outras secretarias.
As decisões tomadas até aqui – a mais conhecida é a quarentena para ampliar o isolamento social e, com isso, evitar o contágio – são baseadas na ciência, no conhecimento e na expertise do centro de contingência, cujos membros mantêm conversas diárias e participam de coletivas de imprensa todos os dias no Palácio dos Bandeirantes, sempre com a atualização do boletim epidemiológico de casos, óbitos e taxas de ocupação hospitalar.
Inúmeras medidas anunciadas pelo governo de São Paulo partiram de sugestões do comitê de especialistas, mediante avaliação técnica. O estado montou uma verdadeira operação de guerra, não somente para achatar a curva de infecções —o que vem ocorrendo, mas também para preparar a rede do SUS para atender os pacientes.
O HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP) isolou seu Instituto Central com 900 leitos, dos quais 200 de UTI, para atender exclusivamente casos de coronavírus. Como a demanda é crescente, mais 100 leitos devem ser colocados à disposição.
A Secretaria da Saúde montou contêineres que funcionam como centros de triagem para pacientes com sintomas da Covid-19. Foram ativados 1.881 novos leitos de UTI em hospitais estaduais, municipais e filantrópicos.
O Instituto Butantan, que coordena a Plataforma de Laboratórios para Diagnóstico de Coronavírus, formada por 42 serviços públicos, privados e universitários, zerou em menos de 20 dias a demanda reprimida de exames do tipo RT-PCR. O instituto importou 1,3 milhão de testes da Coreia do Sul para auxiliar na força-tarefa e disponibilizar o resultado dos exames em até 48 horas a partir da chegada das amostras nos laboratórios.
O Hospital de Campanha do Complexo Desportivo do Ibirapuera, com 268 leitos, começa a funcionar nos próximos dias, somando-se às estruturas de campanha montadas pela Prefeitura de São Paulo no Anhembi e no estádio do Pacaembu.
Nesses tempos de pandemia, as fake news se alastram exponencialmente. São um crime contra a humanidade e custam vidas. Por isso a comunicação do governo e do centro de contingência têm trabalhado de forma exaustiva para levar informação de qualidade à população, via imprensa e mídias sociais, e combater ferrenhamente as informações falsas que circulam nas redes.
Vamos em frente. O caminho é longo, tortuoso e com muitos obstáculos. Mas, com a união de esforços e auxílio da ciência, São Paulo tem dado bons exemplos no enfrentamento da Covid-19.
Publicado originalmente na Folha de S.Paulo