Diretor do Ibama é demitido após defender terras indígenas
Diretor do Ibama é exonerado após ação contra garimpo ilegal para evitar avanço de pandemia entre três terras indígenas.
Publicado 14/04/2020 20:26 | Editado 14/04/2020 22:38

Uma operação de combate ao garimpo ilegal em terras indígenas levou à exoneração do diretor de Proteção Ambiental do órgão, em Brasília, Olivaldi Borges Azevedo, nesta terça-feira (14). Major da Polícia Militar de São Paulo, Azevedo era considerado homem de confiança do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que assina o ato da exoneração.
A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB –AC) considera muito ruim esta demissão. “O governo Bolsonaro tem um método pra ficar no poder que é cometer uma besteira atrás da outra. Quem acerta sai ou ele precisa demitir. É como a situação do Mandetta, ministro da Saúde”, disse ela, em entrevista ao Portal Vermelho.
A megaoperação em três terras indígenas no interior do Pará (Apyterewa, Araweté e Trincheira-Bacajá) foi desencadeada para reprimir garimpos ilegais, desmatamentos, caça ilegal de animais silvestres e, ao afastar os invasores, impedir a chegada da Covid-19 às aldeias indígenas.

“O presidente sabota as ações de saúde do país e seu governo sabota a saúde dos povos indígenas, que é ainda mais vulnerável que qualquer outra população. Essa doença pode se configurar numa verdadeira dizimação dos povos indígenas, pois esses povos não têm imunidade sequer para uma gripe simples. O governo pode protegê-los e não faz isso porque não quer”, alertou a deputada.
Há rumores no Ibama de que outros servidores em cargos de chefia estão ameaçados de demissão por causa da mesma operação. Seriam os dois chefes imediatamente subordinados a Azevedo, responsáveis em Brasília pela coordenação de todas as grandes operações do órgão no país.
Na avaliação da deputada, o ministro pode estar cometendo um crime de responsabilidade ao impedir a ação do servidor público, que faz seu trabalho. “Isso sinaliza algo muito ruim para os demais servidores que querem cumprir sua tarefa e ficam preocupados”, apontou.
A operação foi mostrada em reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo (12), o que desagradou ao governo. Entre fiscais ambientais, a sensação é que Azevedo foi exonerado porque “não conseguiu segurar a fiscalização” que continuou, ao longo de 2019, aplicando o decreto que permite a queima de equipamentos flagrados em operações do Ibama. Diversos equipamentos ilegais também foram queimados na última ação no Pará, com base no mesmo decreto de 2011.
Em um trecho da reportagem, o posseiro Arilson Brandão, que representa uma associação que pretende ocupar parte da terra indígena Trincheira-Bacajá, disse que se sentiu estimulado “com aquela conversa que saiu do governo federal, do ministro, de redução de 5% das áreas indígenas”. “A gente está com essa esperança, essa expectativa, para que um dia aconteça isso e para realmente o governo legalizar o pessoal aqui dentro, né. Enquanto isso, a gente está ocupando aqui”, disse Brandão. Segundo a reportagem, ele foi expulso junto com outros invasores.
Perpétua conta que assistiu a reportagem e se surpreendeu positivamente, porque viu uma ação do governo em defesa da saúde do povo e em defesa das terras indígenas. “Como saiu a matéria e em seguida a demissão do servidor, claramente foi uma punição”, critica a parlamentar.
Com informações do UOL