O ataque do vírus a profissionais de saúde em SP e RJ
Um quarto dos profissionais de saúde da rede pública do estado do Rio de Janeiro apresentam taxas de infecção pelo coronavírus. Ao menos 3.346 profissionais dos principais hospitais privados e públicos da capital paulista já foram afastados por quadros de síndrome gripal ou respiratória, em pouco mais de um mês.
Publicado 09/04/2020 01:17 | Editado 09/04/2020 12:35
O impacto do contágio entre profissionais de saúde brasileiros é elevadíssimo, se comparado com o registrado em Espanha e Portugal —ambos de 20% —e ainda superior ao da Itália (15%).
Os dados levantados pelo jornal O Globo são de pesquisa de uma força-tarefa pioneira para testagem molecular de Sars-CoV-2, que reúne mais de 60 pesquisadores, médicos e enfermeiros da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em São Paulo, o levantamento foi feito em cada um dos hospitais públicos e privados que têm atendido a maioria dos casos.
O alto percentual de infecção evidencia a falta de equipamentos de proteção (EPIs) para os profissionais e a ampla disseminação do coronavírus na população. Os profissionais de saúde estão vulneráveis porque muitos têm trabalhado sem os EPIs e em locais de grande aglomeração, os hospitais. Com isso, médicos sugerem que a contaminação entre a população seja bem maior que o comprovado pelos órgãos oficiais, já que os profissionais são mais cuidadosos que a população nas ruas.
O coronavírus está solto pelas cidades e muita gente não encara a doença com a gravidade que ela tem ao desrespeitar o isolamento. Tão absurdo quanto o avanço exponencial do contágio, criticam os médicos, é o descaso de parte da população. Quem não faz isolamento mostra descaso pelo sofrimento dentro dos hospitais ao se achar no direito de passear na praia, desrespeitando a quarentena.
Em São Paulo, além de concentrar a maior parte dos casos no país, os hospitais acumulam profissionais que precisam deixar o serviço no momento mais difícil, devido à contaminação. Dos mais de três mil afastados, 737 tiveram a Covid-19 confirmada.
O Conselho Federal de Enfermagem recebeu, até agora, 17 notificações de morte de profissionais por suspeita de Covid-19, oito das quais já tiveram diagnóstico confirmado. Três das mortes aconteceram em São Paulo, duas em Brasília, uma em Recife, uma em Mossoró (RN) e uma em Taubaté (SP). Metade das vítimas eram mulheres, metade homens.
Veja o levantamento feito em hospitais paulistanos:
Local | Afastados | Diagnósticos |
Rede municipal de saúde | 1.935 | |
Hospital Israelita Albert Einstein | 348 | |
Hospital das Clínicas da USP | 233 | 108 |
Hospital Alemão Oswaldo Cruz | 66 | 38 |
Hospital Sírio-Libanês | 441 | 104 |
Hospitais São Camilo | 33 | |
Hospital Santa Marcelina | 219 |
Vetores de contágio
Atualmente, não há informações oficiais sobre a quantidade de profissionais de saúde infectados no país. Expostos ao risco de contaminação, eles podem se tornar vetores de contágio. Anteontem, dois médicos morreram por decorrência do Covid-19 no Rio.
Os profissionais entrevistados por O Globo estimam existir de sete a dez vezes mais casos que os notificados oficialmente. O tempo de espera está muito alto, pois demora cerca de sete dias até ter o resultado. Nesse meio tempo, a pessoa já se curou ou ficou em estado grave, o que não permite estabelecer medidas preventivas.
Veja no vídeo da BBC como se protegem os profissionais de saúde na Coreia do Sul: