O Dia Mundial da Saúde, Mandetta e os fantasmas de Bolsonaro

Apesar da irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à Covid-19, Mandetta sobressai, principalmente no que diz respeito à paralisação das atividades públicas e privadas não essenciais e ao isolamento social

(Reprodução)

Desde que a pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil, o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, tem ganhado protagonismo por sua atuação prudente. Embora ele seja um político – com dois mandatos de deputado federal por Mato Grosso do Sul –, suas diretrizes na crise seguem rigorosamente as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Com isso, apesar da irresponsabilidade do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à Covid-19, Mandetta sobressai, principalmente no que diz respeito à paralisação das atividades públicas e privadas não essenciais e ao isolamento social. Países que não tomaram a tempo medidas restritivas como estas estão, agora, pagando um alto preço com a perda de milhares de vidas – vide o exemplo de Itália, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.

Tal destaque – pela posição que ocupa, pelo momento que o País passa e pelo que tem defendido – pôs o ministro na alça de mira do bolsonarismo. O primeiro motivo se deve ao egocentrismo imperial do presidente, que não admite ninguém a lhe fazer sombra. É algo que Sérgio Moro experimentou ao ficar “popular” demais, a ponto de Bolsonaro ter ameaçado dividir em dois o “superministério” da Justiça e da Segurança Pública. Moro se recolheu, e o superministério não foi desmembrado.

O segundo motivo seria uma patologia, da qual o presidente sofre muito, que é a síndrome da eleição antecipada. Bolsonaro não suporta ver sua reeleição para 2022 ameaçada. Por isso, quando Moro apareceu à sua frente nas pesquisas, logo tomou um “chega pra lá”. Mandetta é a vítima da vez. Por seu trabalho baseado na ciência médica – algo abominável pelo bolsonarismo –, ganhou credibilidade em todos os setores da sociedade: imprensa, meios acadêmicos vinculados a saúde, judiciário, economistas, Congresso e mesmo ministros, deixando Bolsonaro isolado dentro do próprio governo.

Mas o pior fantasma do presidente foi a pesquisa do Datafolha (3/4) que registrou 82% de aprovação popular ao desempenho de Mandetta na condução do combate à Covid-19. Rapidamente, a luz vermelha acendeu e Bolsonaro começou a fazer uma séria de ataques ao ministro no último fim de semana, usando a única arma que ele pode portar no momento contra Mandetta – a caneta que poderia abatê-lo e tirá-lo de cena.

Se o ministro recuar apenas para atender aos desejos eleitorais do presidente – ou mesmo se for substituído por um nome mais alinhado ao bolsonarismo –, as consequências para o povo brasileiro seriam as piores possíveis. Trocar alguém que está coordenando com autoridade todo o sistema de saúde durante a maior pandemia que a humanidade já passou deixaria o Brasil tão vulnerável quanto os países que ousaram brincar com a doença.

Demitindo ou mantendo o ministro da Saúde, Bolsonaro já disse que, em nome da reativação da economia, pensa em afrouxar a regras do tão necessário isolamento. Tudo para tirar proveito político, ainda que à custa da vida de milhares de brasileiros e brasileiras.

É uma luta da qual não podemos nos omitir. Entre a economia e a vida, a vida vem em primeiro lugar! É o que temos de gritar neste 7 de abril, Dia Mundial da Saúde.

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