BID crê que América Latina sofrerá forte recessão devido a pandemia
A pandemia do novo coronavírus causará uma forte recessão na América Latina neste ano, já que as condições que já existiam de baixo crescimento se somam ao grave impacto na China e nos Estados Unidos, afirmou o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, em entrevista à agência Efe.
Publicado 01/04/2020 22:09 | Editado 01/04/2020 22:10
“A América Latina vai ser afetada pelo que acontece como as pessoas mais afetadas pelo vírus, que são aquelas com condições pré-existentes. A América Latina, infelizmente, já tinha condições pré-existentes em um ambiente de baixo crescimento. E, obviamente, este choque tanto da oferta quanto da demanda vai afetar muito“, declarou Moreno por telefone.
“Isto vai sem dúvida significar uma recessão muito grande na América Latina. Quão grande? Isso depende da rapidez com que conseguirmos achatar a curva e colocar as economias de volta nos trilhos“, completou.
Embora o BID não faça projeções específicas, o presidente do banco comentou que as estimativas mais recentes da instituição, de quatro semanas atrás, apontaram que, a cada ponto de declínio no crescimento econômico da China, a América Latina seria afetada por seis décimos.
“Mas, obviamente, isso foi quando o contágio vinha principalmente da China. Hoje o contágio está chegando através de todas as economias do mundo. Claro, precisam ser levados em conta os Estados Unidos, maior economia do mundo, e as economias europeias, que fazem investimentos“, disse Moreno, presidente do BID desde 2005 e que deixará o cargo no final deste ano.
As últimas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), publicadas em janeiro, contemplavam um crescimento econômico na América Latina de 1,6% até o fim 2020, depois de ter registrado um avanço de 0,1% no ano passado.
Nesta segunda-feira, o Banco Mundial previu que a expansão da atividade econômica na China variaria de 2,3% no cenário base para apenas 0,1% no pior cenário, colocando um forte freio no crescimento de 6,1% registrado em 2019. Moreno também destacou o desafio adicional de retomar a atividade após a súbita interrupção da pandemia.
“As economias não são como ‘liga e desliga’. Elas estão paralisando por causa das decisões tomadas, mas reiniciá-las será o mais difícil“, afirmou.
Na América Latina, há mais de 15 mil casos de coronavírus confirmados, mas a tendência seja para cima, segundo o mapa mundial que mostra a evolução da pandemia em tempo real, elaborado digitalmente pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
Segundo o BID, os países da América Latina têm US$ 3 bilhões em fundos de emergência disponíveis para enfrentar a pandemia. Além disso, Moreno informou que US$ 9 bilhões são para programação regular e cada nação está repensando como usar esses recursos. Há ainda US$ 5 bilhões disponíveis do BID Invest, a janela para o setor privado.
“Nenhuma parte do mundo estava preparada para isso porque é um vírus que excede a capacidade de saúde de todos os países, devido ao enorme número de pessoas que têm de ir aos hospitais“, destacou.
Na opinião de Moreno, o mais importante agora é fortalecer os sistemas de saúde, já que, como no resto do mundo, há escassez de equipamentos médicos, apoiar os mais vulneráveis e dar suporte às pequenas e médias empresas na crise.
Nas últimas semanas, como lembrou o presidente do BID, houve também uma grande saída de capital dos mercados emergentes, o que significa que os problemas de liquidez só se agravaram.
Finalmente, Moreno lamentou que a magnitude da pandemia tenha significado uma ruptura na cooperação internacional, lembrando que muitos países produtores de material médico proibiram suas exportações a fim de proteger a população.
“Espero que quando tudo isso acontecer e houver uma cabeça fria, voltemos a pensar que é necessário mais multilateralismo e não menos“, concluiu.
Por Alfonso Fernández para a agência Efe