Clã Bolsonaro ataca a China e prejudica interesses nacionais
Nesta quarta-feira (18) o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos membros do “clã Bolsonaro” que comanda a República, partiu para o ataque contra a China. A resposta do gigante asiático, através de sua embaixada, foi imediata e contundente. Por Wevergton Brito Lima*
Publicado 19/03/2020 12:02 | Editado 19/03/2020 12:03
Eduardo Bolsonaro, em seu Twitter, logo depois de divulgar a mensagem de um seguidor que atribuía a culpa da pandemia de Coronavírus ao Partido Comunista da China, escreveu:
“Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas A culpa é da China e liberdade seria a solução”.
A reação não tardou e, igualmente pelo Twitter, a Embaixada da China respondeu:
“Lamentavelmente, você é uma pessoa sem visão internacional, sem conhecer a China nem o mundo. Aconselhamos que não corra para ser o porta voz dos EUA no Brasil, sob a pena de tropeçar feio”.
Em outra mensagem, a Embaixada dizia que Eduardo Bolsonaro estava infectado com um vírus:
“(As palavras de Eduardo Bolsonaro) são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos”.
Finalmente, o embaixador Yang Wanming manifestou-se também pelo Twitter:
“A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e a Câmara dos Deputados”.
Para quem não está habituado com a linguagem corrente na diplomacia talvez deixe de perceber quão dura foi a reação. Normalmente, o embaixador acreditado em um país amigo jamais faz exigências categóricas a não ser se considera que algo muito sério está em jogo.
O Moleque e o Gigante
A China, atingida por uma epidemia que causou mais de três mil óbitos e derrubou a produção industrial do país, tomou providências imediatas e eficientes em coordenação constante com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Este órgão da ONU registrou publicamente, diversas vezes, seus elogios pelos esforços coordenados e transparentes da China no combate ao surto de coronavírus.
Em fevereiro, o diretor-geral da OMS Tedros Adhanom Ghebreyesus disse, segundo a rede britânica BBC, “que as medidas adotadas pela China para combater o vírus em seu epicentro são a melhor maneira de impedir sua disseminação”. E continou: “Há uma janela de oportunidade por causa das fortes medidas que a China está adotando no epicentro, na fonte. Então, vamos aproveitar esta oportunidade para evitar uma maior disseminação”, enfatizando que os países desenvolvidos não estavam compartilhando dados sobre o surto adequadamente.
Ao proteger de forma eficaz seus mais de 1,38 bilhão de cidadãos, o país asiático deu também uma importante contribuição ao mundo na contenção da epidemia. Para o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, a rápida resposta da China à crise servirá para “restaurar a ordem econômica mundial rapidamente, a qual não só serve os interesses do povo chinês, mas representa também um importante contributo para o mundo”.
De fato, mais e mais povos se dão conta disso e da capacidade da China em, sem quaisquer pré-condições, prestar auxílios a terceiros países no combate à epidemia. Foi assim com países como a Itália, Espanha, Sérvia, etc.
Para estender sua mão solidária, a China não pergunta qual é a ideologia do governante de ocasião. É assim que, no dia 13 de março, o ministro das Relações Exteriores italiano, Luigi Di Maio, agradeceu a ajuda chinesa no combate ao coronavírus, segundo a agência Efe: “Isso é o que chamamos de solidariedade e tenho certeza que virão mais. Não estamos sozinhos. Existem pessoas no mundo que querem ajudar a Itália”. Registre-se que o governo da Itália está nas mãos da extrema-direita.
No entanto, o governo Trump tenta manipular a crise para travar sua guerra geopolítica contra a China, no que está tendo grandes dificuldades, pois mesmo aliados tradicionais dos EUA veem com reserva esta estratégia. A China tem reagido aos ataques do Governo Trump com grande assertividade, pois julga, com razão, que os EUA tentam transformar a pandemia em uma oportunidade para deslocar a China de suas posições no cenário mundial.
Já no Brasil, com a economia em frangalhos graças à dupla Bolsonaro-Guedes, a situação agravada pela paralisia provocada pelo coronavírus e ainda tendo no horizonte a possibilidade de uma recessão mundial, o clã Bolsonaro resolve, movido unicamente pelo ódio ideológico, sem qualquer compromisso com os interesses nacionais, atacar a China. Este é um país com o qual não temos qualquer contencioso e que é simplesmente o principal parceiro comercial do Brasil, destino de boa parte de nossas exportações.
A China, como vimos, reagiu com firmeza e dignidade, mas não tomará medidas precipitadas. Não é da tradição da diplomacia chinesa, como não era, antes de Bolsonaro, da tradição da diplomacia brasileira, hoje comandada por patriotas de bandeiras alheias.
Infelizmente, o clã Bolsonaro age como um moleque que não sabe brincar com fogo e periga incendiar toda a casa. É urgente que o Brasil, através da ação decidida de seu povo, detenha essa escalada de insanidade que coloca em sério risco o futuro do gigante latino-americano.
*Wevergton Brito Lima é o vice-presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (CEBRAPAZ)
Fonte: Cebrapaz