Dieese: pandemia pode durar até 2 anos e deixa “rastro de incertezas”
Em nota técnica, entidade criticou insuficiência de pacote de Paulo Guedes e insistência em agenda de desmonte do Estado.
Publicado 18/03/2020 18:33 | Editado 18/03/2020 18:34
Em nota técnica divulgada nesta quarta-feira (18) sobre o novo coronavírus, Covid-19, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) afirma que as perspectivas de duração da pandemia do novo vírus variam de quatro meses a 2 anos.
Ainda segundo o Dieese, a pandemia tem potencial para deixar “um rastro de incertezas sem precedentes”, em especial no Brasil, mal recuperado da recessão de 2014 e, até o momento, com índices medíocres de crescimento e altas taxas de desemprego.
“Novo mergulho na recessão poderá causar prejuízos insuportáveis para toda a população”, avalia a entidade, que também faz considerações sobre as medidas anunciadas pelo Ministério da Economia para combater os impactos. Na avaliação do Dieese, elas não contemplam a gravidade da situação.
Na segunda-feira (16), o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou medidas totalizando R$ 147 bilhões. Diversos especialistas já criticaram o pacote por trazer, em sua maior parte, remanejamento de recursos, sem dinheiro novo. Além disso, entre as medidas enviadas ao Congresso Nacional como emergenciais, está a privatização da Eletrobras.
Na nota técnica, o Dieese criticou “a insistência, mesmo em cenário de crise de saúde pública, em querer aprovar a agenda de desmonte do Estado, enquanto em outros países do mundo já se discute abertamente a estatização de inúmeras empresas, como ocorrido com os hospitais privados na Espanha”.
“A insistência nessa pauta demonstra a completa ausência de uma estratégia articulada e alinhada com o tamanho do desafio colocado pela pandemia, vendendo as ‘reformas’ como ‘salvação’ do país”, ressalta ainda a entidade, que também critica a falta de recursos novos no pacote.
Na terça (17), o governo federal decidiu finalmente sinalizar um aumento do investimento para combate à pandemia, pedindo ao Congresso para decretar estado de calamidade. Com a classificação, o governo poderia descumprir a meta fiscal e gastar mais. No entanto, ainda está em vigor o teto de gastos, que limita os gastos públicos à inflação oficial do ano anterior.
“A insistência em manter o ‘Teto dos Gastos’ vai destruindo cada vez mais o já combalido Estado brasileiro. Portanto, o pacote do governo é genérico, típico de construção de ‘última hora’, e parece subdimensionar o real impacto do coronavirus na já frágil economia brasileira”, critica o Dieese.
A entidade ressalta ainda que as medidas do governo não contemplam trabalhadores informais.
“[A proposta] trata de forma generalista os informais e a população mais vulnerável socialmente, expondo-os totalmente a uma conjuntura ainda mais desfavorável do que aquela em que vivem”.
Na avaliação dos técnicos do Dieese, é “imperioso uma correção de rota”. Segundo eles, a proposta de Guedes “é insuficiente para a complexidade do cenário que o país atravessará nos próximos meses”. “Este plano não estabiliza a economia e pode custar milhares de vidas”, conclui a nota.
Nesta quarta-feira (18), Paulo Guedes anunciou um voucher de R$ 200 para trabalhadores informais em coletiva ao lado de Jair Bolsonaro e de outros ministros. O benefício ficaria disponível por quatro meses.