Coronavírus na China: a luta pode se prolongar até julho

Enquanto o Brasil começa a viver de perto os efeitos do coronavírus e a combater a sua propagação no país, nós, aqui na China, estamos alguns meses mais adiante nessa dura e longa batalha contra esse inimigo comum da humanidade. Por isso, olhar para o exemplo chinês pode nos fornecer algumas pistas de para onde o futuro aponta.

Equipes de apoio começam a deixar Whan, epicentro da epidemia na China l Foto: Diário do Povo

O vírus foi detectado primeiramente na China ainda em dezembro de 2019, com as medidas de quarentena e fechamento de cidades sendo implantadas em janeiro deste ano. Em fevereiro, vivemos o pico da doença, com duas semanas inteiras vendo o número de infecções no país passar da casa dos 2 mil novos casos por dia. Várias vezes esse número chegou a passar dos 3 mil novos casos diários. Dadas as duras, mas acertadas, medidas de quarentena, superamos o pico da doença e entramos em março com a estabilização do número de transmissões e a queda no número de novos infectados. Atualmente, estamos registrando praticamente zero novos casos de infecção comunitária e um número cada vez maior de pessoas curadas recebendo alta dos hospitais.

O atual estágio da luta contra o vírus na China não é mais em relação à transmissão interna, nem mesmo em Wuhan, o epicentro da doença. Pode-se dizer que a China, no geral, já venceu a batalha contra o vírus. Entretanto, isso não significa que a luta acabou, ao contrário, estamos no estágio mais crucial desta longa batalha. Ao mesmo tempo em que vencíamos o vírus aqui dentro, o mundo começava a experimentar a propagação da doença. Isso fez com que o foco do controle da doença na China passasse então a ser o exterior, o que em termos práticos significa que a fase atual da luta é impedir a entrada do vírus vindo de fora do país e uma nova onda de infecções. 

Para tal, a China já implementou diversas medidas que podem ser aprofundadas nos próximos dias como um possível cancelamento de todos os voos internacionais operados pelas companhias aéreas chinesas. E como o estágio atual é o combate ao vírus vindo de fora, as cidades de Pequim e Xangai e a província de Guangdong são o foco principal dessa batalha. Em Pequim, por exemplo, todos os voos internacionais com destino ao aeroporto internacional de Daxing foram transferidos para o aeroporto internacional de Pequim (PEK), onde o controle das pessoas que chegam está sendo feito de forma estrita.

Passado esse período de combate e controle dos casos vindos de fora, é provável que o governo chinês comece a abertura de Wuhan. Isso colocará o país em alerta por pelo menos um mês, período durante o qual será observado se a mobilidade das pessoas não se traduzirá em uma nova e inesperada onda de transmissão no país. Se tudo ocorrer bem, esse processo deverá se completar mais ou menos em junho. Ou seja, a China poderá dizer que está totalmente segura a partir de julho, a depender é claro da capacidade dos governos ao redor do mundo de combater a doença nos seus países.

Até lá, é provável que a ajuda chinesa no combate ao coronavírus aumente exponencialmente. E essa ajuda e expertise não deve ser ignorada. A experiência, os dados e capacidade de gerenciamento de crise acumulados pela China podem ser de grande valia para o mundo. 

É claro que cada país terá de aprender a sua própria lição, e que não existe um único modelo eficaz para se combater o vírus. Mas, ter humildade para aprender com a China neste momento poderá valer muitas vidas e muito tempo. Se estamos falando de um vírus que começou em dezembro passado e deverá ser finalmente combatido mais ou menos em junho aqui na China, a pergunta que devemos fazer é se o mundo terá a mesma organização e resiliência econômica para aguentar tanto tempo de pressão. Por isso mesmo é que o exemplo da China nessa batalha deve ser observado de perto, afinal, ninguém melhor do que a China para nos ensinar algo neste momento sobre essa grande luta. 

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