Piñera cogita voltar a decretar Estado de exceção no Chile
Em entrevista ao canal TVN neste domingo (1), presidente chileno disse não se sentir intimidado “por ações judiciais impulsionadas pela esquerda”.
Publicado 02/03/2020 17:24 | Editado 02/03/2020 19:49
Desde o começo da crise social, Chile já teve 31 mortes e outros abusos cometidos por agentes do Estado, segundo a Anistia Internacional.
Por Victor Farinelli
Uma entrevista ao telejornal dominical do canal público TVN mostrou que o presidente do Chile, Sebastián Piñera, está disposto a decretar novamente Estado de exceção no país, durante os próximos meses, período em que se realizará a campanha pelo plebiscito constitucional – votação que está marcada para o dia 26 de abril.
Perguntado sobre as violações aos direitos humanos cometidas durante o Estado de exceção decretado entre os dias 20 e 27 de outubro, dias depois do estopim da crise social no país, o empresário neoliberal desconversou, e disse que “eu enfrento dezenas de processos na Justiça, impulsionados por diferentes organizações de esquerda, mas se alguém pensa que isso me fará duvidar caso seja necessário decretar novamente um Estado de exceção está equivocado”.
Segundo um informe publicado na semana passada pela Anistia Internacional, houve no Chile, desde o início da crise social (em 18 de outubro), 31 casos de mortes e desaparecimentos nos quais há agentes do Estado investigados como principais suspeitos. Desses pelo menos 21 ocorreram durante o Estado de exceção decretado por Piñera.
Além disso, os casos de abuso sexual (desde desnudez forçada até estupros) já são 97, os de torturas são mais de 700, e são quase 500 os de lesões oculares graves, muitas delas incluindo perda de visão de um ou ambos os olhos. A exceção dos casos de lesões oculares, todos os outros abusos tiveram a maioria dos casos cometidos durante o Estado de exceção.
Segundo a Anistia Internacional, os números mostram o pior panorama vivido pelo país, em termos de direitos humanos, desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Um Estado de exceção decretado agora condicionaria bastante a campanha pelo plebiscito, que foi iniciada no dia 26 de fevereiro. As organizações sociais chilenas prometem um março repleto de manifestações em todo o país. A primeira delas é a marcha feminista, marcada para o dia 8 de março.
Fonte: Revista Forum