Petroleiros reagem à pressão do TST e anunciam continuidade da greve
Ministro aderiu à versão “oficial” da Petrobras e do governo Jair Bolsonaro, declarando que a greve dos petroleiros é “abusiva e ilegal”
Publicado 18/02/2020 09:45 | Editado 18/02/2020 10:15
Como era esperado, o ministro conservador Ives Gandra Martins, do TST (Tribunal Superior do Trabalho), aderiu à versão “oficial” da Petrobras e do governo Jair Bolsonaro, declarando que a greve dos petroleiros é “abusiva e ilegal”. Nesta segunda-feira (17), a paralisação completou 17 dias.
Gandra Martins, histórico defensor das pautas patronais contra os trabalhadores, autorizou a Petrobras a “adotar as medidas administrativas cabíveis” e até mesmo “sanções disciplinares” aos funcionários que não retornarem ao trabalho. Mas a aliança entre a empresa e o setor mais duro do Judiciário não intimidou a categoria.
Ainda na noite de segunda, a Comissão Permanente de Negociação da FUP (Frente Única dos Petroleiros) reafirmou continuidade da paralisação. “A greve é um direito garantido a todos os brasileiros pela Constituição de 1988, dentre eles os petroleiros”, afirmou o comunicado da Comissão.
“A FUP e seus sindicatos irão recorrer da decisão. A orientação é que os petroleiros mantenham a greve e sigam as recomendações dos sindicatos em relação às tentativas de intimidação e assédio dos gestores da Petrobras”, afirma a nota.
Para pressionar os trabalhadores, a Petrobras propaga a farsa da “motivação política” do movimento. Gandra Martins não ficou atrás e reclamou até – pasmem – do sucesso da paralisação. Segundo ele, os sindicatos vêm “se gabando da maior adesão ao movimento, em completo descaso para com a população”.
Conforme a FUP (Federação Única dos Petroleiros) – que reúne 13 sindicatos –, 21 mil funcionários de áreas operacionais da Petrobras e suas subsidiárias aderiram à paralisação em 121 unidades da Petrobras, num total de 13 estados. Os trabalhadores exigem o cumprimento do ACT (Acordo Coletivo de Trabalho) de 2019/2020 – sistematicamente ignorado pela Petrobras.
Os sindicatos também criticam o fechamento da Fafen-PR (Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná). Segundo o movimento, o anúncio da Petrobras foi feito sem diálogo e à revelia dos sindicatos. A medida resultará na demissão de mil trabalhadores.
Nesta segunda-feira, a greve dos petroleiros recebeu o apoio de mais uma organização. Desta vez, o Fórum Interinstitucional de Defesa do Direito do Trabalho e da Previdência Social (FIDS) manifestou “integral solidariedade aos trabalhadores petroleiros em luta hercúlea contra as forças que atentam contra o processo civilizatório e contra o Estado Social que a Constituição Cidadã de 1988 buscou construir”.
O FIDS é composto por “entidades de representação do mundo do trabalho e do campo social, organizações de trabalhadores, professores e pesquisadores”. Em nota, o grupo repudiou a tentativa de intimidação da categoria petroleira e reafirmou “sua defesa na democracia, em favor do patrimônio brasileiro e na necessária retomada do crescimento econômico com respeito aos direitos conquistados e aos princípios constitucionais da dignidade humana e dos valores sociais do trabalho”.
Da Redação, com agências
O apoio aos petroleiros é tarefa urgente de todos os que somos democratas e patriotas. Precisa ser o primeiro bloco a ganhar as ruas, como um abre alas de um carnaval que certamente será marcado por gigantescos protestos, transfigurados em fantasias e marchinhas debochadas pela irreverência e criatividade do brasileiro. Essa greve pode e deve ser uma greve histórica. A violência da repressão que se anuncia contra ela precisa ser enfrentada com apoio e protestos nas ruas, mobilização permanente das entidades e partidos democráticos, que, no meu entender, deveriam estar focados nessa luta, pelo caráter de defesa da democracia e da soberania nacional que ela encerra, e tirados da dispersão das narrativas secundárias diversionistas tão comuns nos dias de hoje.