Bolsonaro ataca a educação e quem a valoriza
Para o coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, o governo federal desestimula o trabalho do magistério e o ensino público
Publicado 04/02/2020 23:26 | Editado 05/02/2020 10:13
Na inauguração da pedra fundamental do Colégio Militar de São Paulo, nesta segunda-feira (3), Bolsonaro criticou governadores do Nordeste que não aderiram ao seu programa de militarização do ensino. “Para eles, a educação vai indo muito bem, formando militantes e desinformando, lamentavelmente”, afirmou.
O ex-presidente da Comissão de Educação na Câmara dos Deputados, Danilo Cabral (PSB-PE) contestou: “Bolsonaro mostra mais uma vez o seu total desconhecimento da educação pública no Brasil. Pernambuco tem a melhor política de ensino médio do país. O Maranhão tem a melhor política de remuneração dos profissionais da educação básica. Ao invés de aproveitar as experiências exitosas da educação no Nordeste, o Governo segue o caminho equivocado com acusações miúdas, rasteiras, como tem feito em todas as questões relacionadas à educação brasileira”.
O governo federal promoveu o corte de 30% para universidades federais, corte de pesquisa, corte de bolsa, proibição de professores participarem de eventos fora do país e seu ministro da Educação se mostra um verdadeiro inimigo do ensino público. “O professor está sendo demonizado, tratado como vilão, como o que doutrina, o que manipula. O obscurantismo e o moralismo acabam inibindo os profissionais a tocar em temas sensíveis e importantes para os alunos.
No país, 14% dos professores dizem ter se arrependido da escolha da profissão”, denuncia o coordenador-geral da Contee, Gilson Reis. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), considerou que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, representa a “bandeira do ódio”.
No mesmo dia em que Bolsonaro atacava os governos nordestinos, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), anunciou o aumento para R$ 6.358,96 do piso salarial para professores que trabalham 40 horas semanais nas escolas do Estado (o piso nacional é de R$ 2.886,24) e afirmou: “Aqui no Maranhão não ‘inauguramos’ pedra fundamental de escola. Aqui a gente inaugura escola. Pronta”.
Seu governo expandiu o ensino integral a 74 escolas (25 a mais que no ano passado) e criou primeira Escola Bilíngue do Estado, com educação infantil. “A decisão de fixar o piso dos professores 40h em R$ 6.358 tem um efeito positivo no conjunto da nossa economia. Ajudamos o setor de comércio e serviços a gerar empregos. Maranhão teve saldo positivo de empregos por três anos consecutivos. Estamos trabalhando para 2020 ser melhor”, justificou o governador.
Carreira desvalorizada
Levantamento do Instituto Ayrton Senna, do fim de 2019, apontou que, nos próximos cinco anos, o Brasil formará cerca de 1,5 milhão de professores. O balanço também mostrou que a nota de corte para cursos de licenciatura no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) costuma ser menor do que a média de todas as graduações.
No Distrito Federal, entre 2014 e 2018, a pontuação mínima para as graduações em licenciatura foi, em média, 644,6, enquanto para o conjunto de cursos foi 685,7. No Pará, estado que teve a maior diferença, a nota de corte para licenciatura, no mesmo período, foi 649,3, enquanto a média das outras graduações foi de 661,1 pontos.
“O problema das notas de corte inferiores à média ocorre por causa da desvalorização da carreira docente, seja no serviço público, seja no privado. Após o golpe que destituiu Dilma Rousseff da Presidência da República, Temer e Bolsonaro investiram contra os direitos laborais e as aposentadorias, agravando ainda mais a situação dos que trabalham no ensino. O contrato temporário e a terceirização estão sendo utilizados como forma de rebaixar direitos, retirar conquistas e prejudicar ainda mais os profissionais da área. A desvalorização da carreira, as condições precárias de trabalho e os salários baixos são fatores para que a profissão não seja atrativa”, acusa Gilson.