Crise avança com Bolsonaro: 20 categorias ficam sem reajuste real
Cresceu o número de trabalhadores que não tiveram reajuste acima da inflação. Apenas metade das negociações teve algum reajuste real.
Publicado 23/01/2020 07:32 | Editado 23/01/2020 18:58
Em 2019, no primeiro ano sob o governo Jair Bolsonaro, cresceu o número de trabalhadores que não tiveram reajuste real (acima da inflação) nos salários. É o que apontam os dados do Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). De um total de 49 categorias que fizeram negociações salariais no ano passado, 20 só “empataram” com a inflação – ou seja, não tiveram perdas ou ganhos.
Segundo a Fipe, apenas metade das negociações teve algum reajuste real para os trabalhadores. Um ano antes, em 2018, o índice de categorias com reposição salarial acima da inflação era maior: de 75,5%.
As campanhas e negociações salarias mais duras refletem a crise do Brasil, marcada pela semiestagnação da economia, pelo desemprego elevado e pela subutilização da força de trabalho. Além disso, a nefasta reforma trabalhista, em vigor desde 2017, dificultou a ação dos sindicatos – que perderam atribuições formais e os recursos do imposto sindical.
Segundo o coordenador do projeto Salariômetro e professor da Universidade de São Paulo, Hélio Zylberstajn, outro fator a explicar os reajustes mais baixos foi o aumento da inflação no ano passado. A taxa pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) ficou em 3,4%, em 12 meses até dezembro. “No Brasil, existe uma cultura arraigada de que repor a inflação é direito do trabalhador. Nesse contexto de economia fraca, as empresas acabam conseguindo só repor a inflação do período”, diz Hélio.
Esse cenário reduziu a pressão sobre reajustes salariais e ajuda a explicar a estagnação na variação do rendimento. “Não tem tanto trabalho quanto antes. Poderia estar ganhando mais”, reconhece o motorista Reginaldo Tomás – uma das 20 categorias que não tiveram reajuste real em 2019.
O caso mais grave é o de trabalhadores que tiveram reposição abaixo da inflação. Quem trabalha no agronegócio da cana-de-açúcar, por exemplo, teve uma queda real de 1,07% no ano passado. Em seguida, vêm os empregados domésticos (0,44%) e os profissionais de lavanderias (0,11%). Na outra ponta, das 25 categorias que tiveram reajuste real, os maiores ganhos foram para funcionários de condomínios, de 1,08%, e limpeza urbana (0,7%).
Em 2020, segundo Hélio Zylberstajn, os reajustes devem voltar a ficar acima da inflação só a partir de abril. “Este ano deve ocorrer o mesmo que em 2019: poucos aumentos reais”, prevê.
O número de acordos e convenções caiu quase 16% depois da reforma trabalhista, no fim de 2017. Naquele ano, foram concluídas 34,8 mil negociações, ante 29,4 mil no ano passado, conforme dados preliminares da Secretaria do Trabalho. Com a reforma, o negociado pode prevalecer sobre o legislado, num ataque aos direitos previstos na própria legislação. Também houve flexibilização quanto à possibilidade de negociação entre empregado e empregador.
Com informações do Estadão
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