Artistas reagem a convite de Bolsonaro a Regina Duarte na Cultura
Classe artística critica a falta de preparo e até a “inocência” da atriz, que pode ir para a Secretaria Especial de Cultura. Mas há quem fale em “mal menor” e prefira uma colega na Cultura a um evangélico
Publicado 19/01/2020 11:01 | Editado 19/01/2020 14:55
A possível ida da atriz Regina Duarte para a Secretaria Especial de Cultura foi comentada por artistas no Rio e em São Paulo. Direitista e abertamente conservadora, Regina foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro na última sexta-feira (17), após Roberto Alvim ser demitido por um pronunciamento oficial de inspiração nazista. A atriz global pediu um encontro “olho no olho” com Bolsonaro, que deve acontecer nesta segunda-feira (20).
Uma das mais conhecidas atrizes do país, Regina sempre se posicionou contra o PT. Durante a campanha presidencial, anunciou apoio a Bolsonaro – o que gerou confrontos com boa parte de seus colegas. Neste sábado, ela reforçou o endosso ao presidente com um post nas redes sociais. A classe artística critica a falta de preparo e até a “inocência” de Regina Duarte. Alguns, porém, falam em “mal menor” e dizem preferir uma colega na Cultura a um evangélico.
A atriz Mariana Lima, que já trabalhou com Regina, repudia, antes de tudo, o envolvimento de Regina Duarte com Bolsonaro. “Não entendo uma pessoa como a Regina, o Vereza e outros artistas se alinharem com esse governo ultraconservador”, diz ela. “Não entendo você estar do lado daqueles que estão fazendo de tudo para acabar com a arte, a imprensa, o pensamento, a universidade pública, as conquistas democráticas, as instituições democráticas, os direitos humanos, a nossa liberdade de expressão.”
Marido de Mariana, o também ator Enrique Diaz torce para que Regina recuse o convite. “Não tenho a menor impressão de que ela seja preparada para isso, ainda mais num governo como esse que está, no fundo, minando toda produção artística. Acho dificil que alguém realmente interessante aceite estar do lado desse governo.”
O ator vê na saída de Roberto Alvim uma oportunidade para discutir a Cultura com a população. “Esse episódio do Alvim é, por um lado, um péssimo sinal de que ponto a gente chegou. Por outro, é bom que isso esteja sendo visto em toda a sua tragédia. A saída do Roberto pode fazer com que a população perceba em que cilada entrou.”
A coreógrafa Deborah Colker espera a vinda de um novo nome para a pasta não faça com que o flerte de Alvim com o nazismo seja esquecido. “Como artista judia, como cidadã, fiquei assustada, apavorada. Nunca pensei que na minha existência algo ia chegar tão perto (do nazismo) da maneira que foi”, diz Deborah. “Meus quatro avós são judeus que fugiram de maneira terrível. Vieram pra um país bacana, acolhedor. A saída dele pelo menos deu um alívio.”
Deborah diz não conhecer Regina como gestora e, por isso, não opina sobre o potencial dessa indicação. “Ela é uma pessoa ativa no mundo do teatro e da televisão – isso é um ponto positivo. Mas como artista é uma coisa, outra é fazer gestão de um setor. Espero ter esperança. Pior do que onde chegou é impossível.”
Já Zélia Duncan lamentou o alinhamento da atriz com um governo “fundamentalista” como o de Bolsonaro. “Respeito a trajetória de Regina Duarte como atriz, mas considero uma temeridade que ela assuma um cargo de tamanha importância, estando tão encantada com um governo de extrema-direita e violento.”
O ator Bruno Fagundes, filho do veterano Antonio Fagundes, afirma que um posto com tamanha responsabilidade deveria ser ocupado por alguém com mais experiência do que Duarte. A seu ver, “o desafio de assumir a Cultura é enorme, porque é uma secretaria com orçamento esquálido que abrange muito mais do que o teatro – mas também a dança, artes plásticas”.
Fundador do Teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa não acredita que a atriz teria sucesso à frente da pasta, muito menos num cenário de mobilização popular. “Estamos vivendo uma primavera cultural, com cinemas e teatros lotados. Quanto mais esse presidente ataca a cultura, mais a cultura se reforça”, diz Zé Celso. “Inevitavelmente, como a Regina concorda com esse regime tosco e perigoso, ela não está ligada a esse grande movimento. Se aceitar (a indicação à Cultura), ela terá de acabar se submetendo a essa corja. Estou rezando para que não aceite, porque vai se dar mal.”
Na manhã deste sábado, a atriz Regina Duarte elogiou o governo Bolsonaro com uma postagem nas redes sociais. Na mensagem publicada no Instagram, ela reproduziu uma foto do presidente com um balanço de dez meses de mandato. Zé Celso, como é conhecido, contestou item por item da lista e lamentou o fato de a atriz ter se aproximado do “governo nazi-fascista” de Bolsonaro. “A Regina é uma inocente, não está vendo o que está acontecendo. Essa lista é absurda.”
Para Ivam Cabral, fundador e diretor da Cia. de Teatro Os Satyros, a indicação de Duarte para a Secretaria da Cultura não é ideal, mas a opção “menos ruim” do momento. Segundo ele, catástrofe ainda maior seria se o presidente nomeasse um representante da bancada evangélica para a pasta. Para defender a tese do “mal menor”, Cabral chegou a compartilhar no Twitter a hashtag #AceitaRegina.
“Estamos vivendo um momento catastrófico. Diante de declarações do presidente de que, se ela não aceitar, será indicado um evangélico, o nome da Regina parece até ser uma lufada de ar”, afirma Cabral. “A Regina, embora equivocada, é porosa e pode abrir interlocução com produtores e artistas, coisa que o anterior não tinha. Qualquer pessoa que pensasse diferente dele, não chegava perto.”
Regina e Bolsonaro
Convidada para assumir o lugar de Roberto Alvim, Regina Duarte é conhecida por defender o governo. É também amiga da primeira-dama Michelle Bolsonaro e conselheira do Pátria Voluntária, programa de Michelle que incentiva a prática do voluntariado.
A atuação de Regina em defesa do atual governo começou ainda na campanha eleitoral. Durante manifestação pró-Bolsonaro na Avenida Paulista, em outubro de 2018, ela chegou a discursar no carro de som. Perguntada sobre seu apoio, disse: “Estou de corpo, alma e de espírito, para falar de esperança, porque agora tenho um soldado, um cidadão do bem para combater a impunidade”. Também contou que foi a deputada bolsonarista Carla Zambelli, líder do movimento Nas Ruas, quem a aproximou de Bolsonaro. “Foi o anjo da guarda que me levou até o capitão”, disse.
Na mesma época, em outubro de 2018, a atriz causou estupor ao definir o político, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, como “um cara doce, um homem dos anos 50, um jeito masculino, machão”. Segundo ela, a “homofobia de Bolsonaro é da boca para fora”. Regina também o visitou e posou para foto, postada por ele no Twitter.
Em maio de 2019, em entrevista ao Programa do Bial, a atriz fez um jogo de palavras ao comparar sua situação atual com 2002, quando, em uma peça da campanha eleitoral presidencial daquele ano, provocou polêmica ao dizer que “tinha medo do PT” antes da eleição de Lula. “Em 2002, fui chamada da ‘terrorista’ e, hoje, sou chamada de ‘fascista’. Olha que intolerância”, questionou na TV.
Atualmente, a atriz não parece nem um pouco arrependida do apoio que deu a Bolsonaro. Em outubro de 2019, fez um post no Instagram pelos 10 meses de governo. “Em meio a tanto revezes (sic)… parabéns, equipe”. Neste sábado (18), ela deu uma pista de que pode estar perto de aceitar o convite para assumir a secretaria da Cultura ao repostar a mesma imagem com o seguinte texto: “Nunca é demais lembrar o tanto de respeito que esse governo tem pelo seu povo”.
Se Regina Duarte não topar a empreitada, o secretário do Audiovisual, André Sturm, é o favorito para assumir o cargo. Um pastor também estaria cotado. Até a definição do novo secretário, assume interinamente José Paulo Soares Martins. Atual secretário-adjunto da Cultura, ele já havia chefiado a pasta após a exoneração de Henrique Pires, em agosto do ano passado.
Regina não é a primeira atriz a ser convidada para ocupar o comando da Cultura no governo federal. Fernanda Montenegro foi convidada duas vezes, nos governos Sarney (1985) e Itamar Franco (1992), para ser ministra. Recusou os dois convites. Michel Temer convidou Marília Gabriela para ser secretária da Cultura (2016), mas ela também recusou.
Com informações do O Globo
Acho mais um absurdo desse governo mediucre que dia após dia leva o nome do Brasil pra lama com seus excessos , despreparo ,e incapacidade de governar um país como o nosso , gasolina alcool, gás, energia elétrica,carne tudo muito mais caro hoje do que com o temer …e ainda tem bolsominions idiotas como essa senhora que tentam nos mostrar um país que só eles estão vendo Affff.