Vassalos
O assassinato do general iraniano Qassem Soleimani por ordem de Trump veio uma vez mais pôr a nu a hipocrisia que reina na comunicação social dominante e a desonestidade intelectual de governantes e instituições, ONU incluída, que se dizem democráticos.
Publicado 16/01/2020 19:36
O assassinato do general iraniano Qassem Soleimani por ordem de Trump veio uma vez mais pôr a nu a hipocrisia que reina na comunicação social dominante e a desonestidade intelectual de governantes e instituições, ONU incluída, que se dizem democráticos. Sempre prontos a intervir em nome da “democracia” ou da variante “direitos humanos”, uns e outros metem a viola no saco quando o prevaricador tem assento na Casa Branca.
Por Anabela Fino para o Avante!, órgão central do PC Português
Pouco importa que Trump aja à revelia dos próprios órgãos de soberania norte-americanos ou viole o direito internacional. Pouco importa que minta, ofenda ou prejudique até os seus putativos aliados. Os sabujos do costume abanam a cauda e assobiam para o lado, e na melhor das hipóteses concedem que “Trump é louco” enquanto vão papagueando que Putin, Xi Jinping ou Maduro são ditadores.
Assim, a notícia de que afinal não havia “provas” de que Qassem Soleimani estaria a planear ataques contra embaixadas norte-americanas, como disse Donald Trump para “justificar” a ordem para matar, passou com a leveza de um vol au vent. Mark Esper, secretário da Defesa dos EUA, foi taxativo ao afirmá-lo numa entrevista ao canal CBS News, mas não fez qualquer diferença.
Também não suscitou reação a ameaça de Trump ao Iraque, após o Parlamento iraquiano ter recomendado ao governo a retirada do país das forças militares estrangeiras, incluindo os 5200 militares americanos. “Imporemos sanções como nunca se viu”, bradou Trump, que segundo a AFP ameaçou Bagdá de bloquear a conta do Iraque no Federal Reserve em Nova Iorque, onde são depositados todos os recursos provenientes das vendas de petróleo. Esta conta, recorda-se, foi aberta em 2003, após a invasão do Iraque pelos EUA e o derrube de Saddam Hussein a pretexto de armas de destruição massiva que não existiam. Sabendo-se que mais de 90% do orçamento do estado iraquiano dependem daquelas receitas, compreende-se o peso da ameaça… a um país supostamente aliado e independente!
De igual forma passou em claro a declaração de Trump em recente entrevista de que as forças americanas vão ficar no Iraque a defender o seu (dos EUA) petróleo. Assim mesmo, sem subterfúgios.
“Condenação” mesmo só mereceu a resposta iraniana ao assassinato do seu dignitário, como prontamente fez saber o senhor Silva (1), que também é Santos, que até aí estava apenas no inconsequente estado de “preocupação” com o terrorismo de Trump. Uma postura ministerial que não destoaria num governo do PSD, como se depreende da opinião de Paulo Rangel, para quem é “fundamental” que Portugal preserve a “relação transatlântica”, apesar de a política externa de Trump pôr “problemas difíceis e de monta à UE e aos aliados tradicionais dos EUA”. Isto tem nome: vassalagem.
Fonte: Avante!
1 – A autora faz referência a Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal (N.E.).