Bolsonaro aposta em Datena e Skaf para medir força com Doria em SP
Tratativas do núcleo bolsonarista com o jornalista da Band “estão avançadas”
Publicado 13/12/2019 15:25 | Editado 13/12/2019 16:08
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) trabalha para lançar o apresentador José Luiz Datena, da TV Bandeirantes, como prefeito de São Paulo nas eleições 2020, com seu apoio. Bolsonaro também quer indicar o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Paulo Skaf, ao governo paulista em 2022. As ações tentam enfraquecer o poderio do governador João Doria (PSDB-SP), que quer sair candidato à Presidência e busca fortalecer seu domínio no estado.
Segundo a Folha de S.Paulo, o próprio Skaf já se envolveu nas negociações e conversou com Datena sobre a possibilidade de ele se candidatar. O Estadão, por sua vez, informa que as tratativas do núcleo bolsonarista com o jornalista “estão avançadas e vêm sendo acompanhadas de perto pelo presidente da Fiesp”. Datena segue indefinido. Ele já foi procurado pelo ex-governador Márcio França, do PSB, e pelo deputado federal Marcos Pereira, do Republicanos, que é ligado ao bispo Edir Macedo, da Igreja Universal.
Mas é o nome de Skaf que ganha peso. A indicação do cineasta André Sturm para o cargo de secretário do Audiovisual de Bolsonaro foi mediada pelo empresário, numa demonstração de sua força junto ao presidente. Mais do que se aproximar de Skaf, Jair Bolsonaro tem delegado ao dirigente empresarial papel estratégico na reestruturação da base de apoio ao Palácio do Planalto no Estado.
Além da ponte com empresários – segmento que, segundo as pesquisas, confere a melhor aprovação ao governo federal –, Skaf é visto como um potencial dirigente do Aliança pelo Brasil, partido que os bolsonaristas tentam criar. A ideia é que o presidente da Fiesp assuma o comando do diretório estadual da futura legenda e se cacife como possível candidato ao Palácio dos Bandeirantes em 2022. “Fizemos contato com Skaf e ele simpatiza com a proposta de criação da Aliança”, diz o advogado Luís Felipe Belmonte, anunciado como vice-presidente do futuro partido – o presidente será o próprio Bolsonaro.
Segundo aliados do Planalto, o movimento na direção de Skaf e Datena tem o respaldo da bancada bolsonarista na Câmara e o aval dos filhos do presidente. “Qualquer coisa que Bolsonaro escolher nesse sentido a gente vai ficar muito contente. Confiamos no poder de julgamento do presidente”, afirmou a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).
A ruptura com seu ex-partido, o PSL, fez Bolsonaro perder aliados em São Paulo, como a deputada federal Joice Hasselmann. Além disso, seu filho, o também deputado Eduardo Bolsonaro, foi destituído da presidência do diretório paulista da legenda.
Apoio
O setor empresarial é hoje o que mais apoia o governo. Conforme sondagem divulgada nesta quinta-feira (12) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 60% dos empresários consideram o governo “ótimo” ou “bom”. Em outra pesquisa, encomendada pela entidade ao Ibope, entrevistados aprovaram com altos índices a atual condução da política econômica do governo. Bolsonaro, de quebra, recebeu na quarta (11) o Grande Colar da Ordem do Mérito Industrial da CNI.
Skaf – que liderou campanhas nacionais contra o aumento de impostos e apoiou o golpe contra a então presidenta Dilma Rousseff – ainda resiste a falar sobre sua eventual mudança de legenda. Mas tem dito que é um “incentivador da ideia” de criação da Aliança e acha importante que Bolsonaro tenha um partido. Politicamente, porém, o presidente da Fiesp está cada vez mais isolado no MDB, que se aproximou de Doria.
Em outubro, quando ainda vivia uma crise com o PSL, Bolsonaro se reuniu com Datena em São Paulo acompanhado de Skaf. O presidente divulgou nas redes sociais uma foto ao lado dos dois, tratados como “velhos conhecidos”.
A relação entre Skaf e Bolsonaro começou ainda no governo Dilma, quando um deputado de oposição subiu à tribuna da Câmara para criticar o presidente da Fiesp. Em seguida, Bolsonaro, então deputado federal, pediu a palavra e saiu em defesa de Skaf, que logo telefonou agradecendo o gesto. Antes disso, Skaf já mantinha uma relação estreita com os militares. Ele criou um conselho de Defesa na Fiesp e convidou o general Gabriel Esper, ex-comandante militar do Sudeste, para ser assessor na entidade.
Bolsonaro e Skaf têm se falado com regularidade pelo telefone. O emedebista costuma dizer que se dá “pessoalmente” muito bem com o presidente. Neste ano, os dois se encontraram publicamente oito vezes, entre cerimônias, jantares e audiências. Dez ministros e 15 secretários estiveram 40 vezes na Fiesp em 2019 em eventos oficiais.
Em junho, Skaf promoveu jantar em sua residência para Bolsonaro com 45 empresários de diferentes setores. Em outubro, eles se encontraram na China – Skaf integrou a seleta comitiva que participou da audiência de Bolsonaro com o presidente Xi Jinping. Duas semanas depois, quando ocorreu em Brasília a 11ª Cúpula dos Brics, o líder chinês ofereceu um jantar para Bolsonaro e Skaf foi o único presente que não era do governo.
Com informações da Folha e do Estadão