PSL quer afastar Moro de Bolsonaro e lançá-lo à Presidência em 2022
Com a decisão do presidente Jair Bolsonaro de criar seu próprio partido – e depois de tentar em vão atrair nomes como o do governador Wilson Witzel (PSC-RJ) –, o PSL agora sonha em lançar o atual ministro da Justiça, Sergio Moro, à Presidência em 2022. Na opinião de dirigentes do partido, a relação instável que o Planalto estabeleceu com o ex-juiz da Lava Jato abriu brecha para que Moro fosse mais assediado.
Publicado 25/11/2019 10:50
Mesmo sem a influência política de Bolsonaro, o PSL detém um capital importante: a maior fatia dos fundos partidário e eleitoral. No ano que vem, os recursos destinados à sigla podem chegar a R$ 350 milhões. Além disso, apesar de Moro ter índices de popularidade superiores aos de Bolsonaro, ele perdeu força no governo. Depois de chegar à Esplanada com a alcunha de “superministro”, Moro viu suas principais agendas ficarem escanteadas no primeiro ano da gestão Bolsonaro.
“O PSL raiz é o único de fato que defende 100% a agenda do Moro. O governo por diversas vezes boicotou a agenda do ministro, como no caso do Coaf”, diz a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), desalojada do posto de líder do governo no Congresso no auge do racha do partido com Bolsonaro.
A parlamentar rememora episódio de meados de maio, quando o Congresso impôs uma derrota ao ministro da Justiça, tirando o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) de sua pasta e transferindo-o para o Ministério da Economia. O órgão, rebatizado de UIF (Unidade de Inteligência Financeira), era considerado estratégico para Moro em sua pauta de combate à corrupção. À época, Bolsonaro e seus principais aliados do Planalto não fizeram movimentos para evitar o revés.
Agora, diante da ruptura com o PSL, o quadro mudou, e Bolsonaro passou a fazer mais acenos a Moro. A relação distante e conflituosa do chefe do Executivo com o auxiliar deu espaço a afagos públicos. No início do mês, em um evento em São Paulo, o presidente associou sua vitória eleitoral à ação de Moro como juiz da Lava Jato. “Se essa missão dele não fosse bem cumprida, eu também não estaria aqui. Então, em parte, o que acontece na política do Brasil devemos a Sergio Moro”, disse Bolsonaro.
Dias depois, o presidente exaltou em suas redes sociais o pacote anticrime, a menina dos olhos de Moro. Nesse cenário, aliados de Bolsonaro passaram a dizer que ele gostaria de ter o ministro como seu vice na eleição de 2022.
O aceno para a agenda de combate à criminalidade e à corrupção, cara a Moro, também esteve presente no lançamento da Aliança pelo Brasil, na quinta (21), em Brasília. O estatuto do novo partido de Bolsonaro determinou, por exemplo, que seus filiados não poderão ter condenações em segundo grau pela prática de crimes hediondos, de violência contra a mulher, de violência sexual contra crianças e adolescentes, estelionato, corrupção e lavagem de dinheiro.
No evento, o presidente também defendeu que a segurança pública seja reforçada para acompanhar a recuperação da economia. “Não adianta alguém estar muito bem de vida se está preocupado, com medo de sair na rua, com medo de ladrão de celular. Ladrão de celular tem que ir para o pau”, disse Bolsonaro ao anunciar o envio de um projeto ao Congresso para isentar de punição militares e policiais que cometerem excessos durante operações de garantia da lei e da ordem.
Enquanto Bolsonaro trabalha para se reaproximar da agenda de Moro, o movimento do PSL em direção ao ministro da Justiça faz parte da estratégia do comando do partido de se afastar do que classificam como “bolha bolsonarista”. O objetivo agora, dizem os dirigentes, é o de se aproximar de pessoas que estão engajadas na pauta da “direita racional e responsável”.
A apresentação do Aliança pelo Brasil, avalia a cúpula do PSL, mostrou que Bolsonaro não está disposto a ampliar seu olhar. Conforme antigos aliados do presidente, o programa da nova sigla deixou ainda mais evidente que o clã Bolsonaro busca “falar para convertidos”. O novo partido, que terá em seu comando Bolsonaro e seus filhos, foi lançado com forte apelo ao discurso de cunho religioso, à defesa do porte de armas e de repúdio ao socialismo e ao comunismo. Mais anacrônico, impossível.