Sem mulheres, democracia brasileira é “capenga”, diz Manuela D’Ávila
Em visita a Cuiabá (MT), a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) defendeu o estímulo à inclusão de mulheres na política nacional. Entre os 513 parlamentares na Câmara Federal hoje, por exemplo, apenas 77 são mulheres. “A democracia busca representar a população. Se as pessoas não estão representadas, é uma democracia capenga”, declarou Manu, ao participar do Festival Tudo Sobre Mulheres, ao lado das deputadas federais Benedita da Silva (PT-RJ) e Rosa Neide (PT-MT).
Publicado 04/11/2019 13:16
As três dividiram a mesa de debate “Protagonismo Feminino na Política” na sexta-feira (1º/11). “Falar sobre as mulheres é, em primeiríssimo lugar, saber que nós não somos todas iguais. Temos que saber que nós temos diferenças e que temos causas que nos unem”, afirmou Manuela, que foi candidata a vice-presidenta em 2018, na chapa com Fernando Haddad (PT).
Mas a democracia, acrescentou Manu, não se reduz à questão feminina. Em sua opinião, ter mulheres, negros, LGTQI, indígenas, entre outros, incluídos na política não é uma causa da esquerda – mas, sim, uma demanda de quem defende a democracia como sistema político.
As três convidadas do Festival lembram que, no decorrer da História, as mulheres sempre tiveram suas escolhas e desejos apagados. Na correção dessas injustiças históricas, elas ressaltaram a importância de iniciativas como a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), acesso maior à escola pública, o combate ao racismo nas relações de trabalho, além da luta pelos salários iguais.
“É óbvio que mais mulheres na política é muito importante – e mulheres com várias ideias”, disse Manuela. “Nós também pensamos diferente. Precisamos de mulheres que saibam que a luta deve ser por todas as mulheres.”
No festival, a comunista também criticou o autoritarismo do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro e líder do PSL na Câmara. Em entrevista, Eduardo afirmou que o governo pode reeditar o Ato Institucional 5 (AI-5) e retornar com a censura caso a esquerda radicalize a oposição no Brasil. Para Manuela e as deputadas presentes à mesa, Eduardo deve ter o mandato cassado por apologia à tortura.
“Não somos nós que dizemos. Quem diz é a Constituição Federal: fazer apologia à ditadura militar é crime no nosso país”, afirmou Manuela. “A Câmara dos Deputados, na minha interpretação, e os nossos partidos, conjuntamente, vão ao Conselho de Ética pedir a cassação do deputado Eduardo Bolsonaro por não estar cumprindo aquilo que prometeu, ou seja, honrar a Constituição brasileira.”
A comunista disse, ainda, que os brasileiros precisam reagir ao que chamou de “bravatas” apoiadas pelo presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, que diariamente o envolvem em situações constrangedoras, transferindo crises para o governo. “Eduardo Bolsonaro primeiro defendeu o AI-5. Quando confrontado, foi para suas redes fazer apologia à tortura”, disse Manu. “Quando questionamos publicamente a defesa que ele fez ao fechamento do regime democrático, ele dobrou a aposta publicando um vídeo com apologia ao coronel Brilhante Ustra, que todos nós, lúcidos, sabemos que foi o maior torturador que viveu neste país”.
A petista Benedita da Silva reforçou as críticas de Manuela e acrescentou que o clã Bolsonaro costuma criar factoides para desviar o foco de assuntos espinhosos e de cobranças da oposição. “[As declarações] são produzidas para sair do foco daquilo que a nação brasileira toda quer saber, que é exatamente a questão do Queiroz, quem matou a Marielle. E ele deve uma explicação do derramamento de sangue, de óleo”, disse Benedita.