Entidades criticam Bolsonaro por tentar constranger a imprensa.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Cid Benjamin, afirmou que o ataque do presidente Bolsonaro à imprensa se trata de mais uma "demonstração de destempero" do presidente. O jornal Folha de S.Paulo repercutiu o assunto nesta quinta-feira (31) com dirigentes de entidades.
Publicado 31/10/2019 10:56
"É hora de o presidente acabar com essa postura de raiva e represália, que ameaça envenenar o tecido social brasileiro. A liberdade de imprensa é garantida pela Constituição e a relação de qualquer governante com a imprensa deve ser sempre de garantia dessa liberdade, nunca de represália ou perseguição”, disse à Folha, em nota, o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz.
A reação de Bolsonaro à reportagem foi entendida pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) como uma agressão descabida.
“Em uma democracia, o que se espera de um governante é que preste contas de seus atos, e não que ataque a imprensa quando esta revela fatos que desagradem a ele”, disse Daniel Bramatti, presidente da Abraji, por meio de nota.
E prosseguiu: “A mais recente agressão de Jair Bolsonaro a jornalistas e ao jornalismo, reforçada por seus filhos, é descabida. Ao insinuar possível retaliação a um veículo e a jornalistas por contrariedade em relação a uma reportagem, o presidente promove mais um grave ataque à liberdade de imprensa.”
“Estamos diante de mais uma demonstração de destempero do presidente Jair Bolsonaro. Para ele, a única imprensa que serve é a que se alinha incondicionalmente com os absurdos que ele diz ou que esse governo comete.”
Os constantes ataques à imprensa, incluindo ameaças à Folha, já vinham sendo criticados pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) antes mesmo da posse de Bolsonaro, diz a presidente da entidade, Maria José Braga.
“Nós estamos tendo um acirramento de uma posição que não é nova. Ele já demonstrou hostilidade com a imprensa e com os jornalistas. Não nos causa espanto, mas nos causa indignação. Mais uma vez Bolsonaro não se comporta como um presidente, não respeita a liturgia do cargo, usa sua posição para desacreditar a imprensa e disseminar hostilidade entre seus seguidores contra os seus jornalistas. É muito grave”, afirma Braga.
A presidente da Fenaj lembrou que Bolsonaro já ameaçou Glenn Greenwald de prisão apenas por realizar seu trabalho, já admitiu que a medida para acabar com publicação de balanços de empresas em jornais era uma retaliação ao jornal Valor e agora ameaça não renovar a concessão da Globo. As concessões precisam ser avaliadas pelo aspecto técnico, não pode usar a prerrogativa para ameaçar a Globo ou qualquer outro veículo”, disse ela.
Bolsonaro também falou que se a Globo “tivesse o mínimo de decência” não poderia divulgar as informações, já que o processo corre em segredo de Justiça. Porém, o presidente da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), Luiz Adolfo Lino de Souza, explica que não há ilegalidade na reportagem do canal.
“Não existe nenhuma infração. Os repórteres fizeram o trabalho deles. A empresa agiu como deveria agir com o interesse público. Ele é presidente, foi citado e a emissora está apenas reportando um acontecimento que é muito grave para a vida nacional. É perfeitamente possível que o jornalista tenha acesso a esse tipo de material e mantenha o sigilo de sua fonte”, diz Souza. Procurada, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) não se manifestou até a publicação deste texto.