PSL X Bolsonaro e a linguagem de bandidos

Para decifrar o que está acontecendo na briga do Clã Bolsonaro contra parte do PSL é preciso, fazendo uma analogia, entender a linguagem de bandidos. Bandido, pra começo de conversa, em público, nega ser bandido. E se um bandido poderoso decide matar algum antigo aliado no crime ele, em primeiro lugar, para evitar suspeitas e pegar o novo inimigo de surpresa, vai se desdobrar em gentilezas para com a futura vítima. Por Wevergton Brito Lima 

Bolsonar

Não é segredo para ninguém em Brasília que Bolsonaro foi avisado sobre (ou ele mesmo orientou) a investida da Polícia Federal contra o presidente do seu partido, PSL. Investida que aconteceu no dia 15/10.

Corresse tudo de forma sigilosa, poderia ser um “assassinato político” perfeito. Quem iria chorar pelo Bivar?

Sempre ressalvando que faço aqui apenas uma analogia para facilitar o entendimento do leitor já que ninguém mencionado neste texto pode ser diretamente acusado de bandido ou miliciano, pelo menos até que provas sejam apresentadas neste sentido. Voltando à analogia: Acontece que Bolsonaro é o que seria chamado nos morros do Rio de “bandido que dá mole pra Kojak”.

E assim, dias antes do planejado “assassinado político” o boquirroto deixa escapar para um aliado: “afaste-se do Bivar pois ele está queimado”. Pronto, entornou o caldo.

Em uma quadrilha funciona assim: se o chefe número um manda eliminar um outro líder e a operação é bem-sucedida, todo o restante do bando, inclusive ex-aliados do falecido, conformam-se com a situação pois, na linguagem deles, “quem morre é que tá errado”.

Mas se o plano é descoberto previamente, a quadrilha entra em guerra, com uma parte acusando a outra de traição.

E a guerra foi deflagrada. Nesta quinta-feira (17), gravado por um infiltrado do presidente, um aliado do Bivar, “delegado” Waldir, líder do partido do presidente na Câmara (!) disse, pensando que falava a portas fechadas, que Bolsonaro era “vagabundo” e que tinha em seu poder uma gravação que iria “implodir” o presidente.

Era uma declaração com endereço certo: “delegado” Waldir, experiente em guerra de quadrilhas, sabia que havia infiltrado (ou infiltrados) de Bolsonaro na reunião e seu objetivo era revelar ao “inimigo” que iria morrer atirando, talvez até com uma bala de prata.

Não contava o “delegado” Waldir que estava sendo gravado e o vazamento do que disse – que pode diminuir um pouco o efeito do que porventura tenha realmente em mãos mas não anula um possível poder destrutivo – só lhe deixou uma alternativa, colocar panos quentes “não tenho nada contra o presidente”, “falei de cabeça quente”, etc. Este apaziguamento vai ser o tom a partir de agora. Tudo que o que o setor mais poderoso da quadrilha queria era um “assassinato limpo”, e para os dois lados não interessa uma guerra sem quartel onde todos podem terminar mortos. Mas o conflito existe, não está totalmente sobre controle e vai continuar com lances na surdina, tentativas de acordo ou golpes públicos. Nesta guerra não temos em jogo ideologia ou interesses nacionais, são apenas negócios e poder. Em um combate deste tipo tudo pode acontecer. Lembrem-se que Tommaso Buscetta, o famoso líder da Cosa Nostra siciliana, só decidiu romper a omertà depois que o rival, Salvatore Riina, matou dois filhos seus, além do irmão, sobrinho e cunhado. O que lhe restou foi a vingança de entregar o algoz de seus familiares.

Sem algo do tipo, podemos nutrir pouca esperança de que a lei alcance a quadrilha. Lembremos, para recordar apenas um aspecto da blindagem, que o Ministro da Justiça atende pelo nome de Sergio Moro e este fato – gravíssimo – infelizmente, ao contrário do restante do texto, não é uma analogia.

Na verdade, só uma rebelião cívica, dos que nutrem algum amor pelo Brasil, por seu povo e por seu futuro, pode impedir que prospere tal descalabro que assombra o mundo. Rebelião que deve ter, como principal ator, a mobilização popular.