Adeus, camarada Jorge Barreto
"Quando a gente perde um amigo, uma parte da nossa vida vai com ele".
Por Wevergton Brito Lima*
Publicado 07/10/2019 10:38 | Editado 04/03/2020 17:03
Jorge Barreto foi um dos meus primeiros amigos no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), no longínquo ano de 1991, quando me filiei, vindo do PCB. Jorge já desempenhava, então, funções na direção estadual do Partido no Rio de Janeiro. Morávamos na mesma região, a chamada grande Tijuca, e junto com outros camaradas dirigíamos o Distrital Tijuca, tendo ele como presidente. Bons tempos, marcados pela militância de base, intensa naquele período.
Mais tarde fomos, durante muitos anos, companheiros de secretariado municipal e estadual. Ele respirava partido e se atirava de corpo e alma às tarefas da revolução e das lutas do povo. Talentoso e dedicado, era um exemplo de quadro revolucionário. Durante mais de duas décadas de militância ao lado de Jorge Barreto nunca vi, em qualquer circunstância, ele colocar considerações pessoais acima dos interesses do Partido.
Foi presidente do Comitê Municipal do Rio de Janeiro e membro do CC. Presidiu, indicado pelo partido, a Fundação Escola de Serviço Público do Estado do Rio de Janeiro/CEPERJ e fez uma gestão excelente.
Infelizmente, neste domingo (7), ele tirou sua própria vida. Tinha apenas 56 anos e enfrentava, já há algum tempo, uma forte crise depressiva. Fora do Rio de Janeiro desde 2015, acompanhei de longe sua luta contra esta doença. Visitei-o uma ou duas vezes quando ia ao Rio. É preciso registrar que ao menos dois camaradas fizeram das tripas coração para ajudar Jorge Barreto a superar a depressão: Rangel e Lucy, que exercem na prática um dos princípios básicos para alguém que se considera comunista: a solidariedade.
Este ano falei com Barreto por telefone algumas vezes e em uma delas cheguei a ter a oportunidade de dizer o quanto o admirava e o quanto ele era importante para todos os seus amigos. Não deixa de ser um consolo. Um triste consolo.
Creio que muita coisa contribuiu para este desfecho trágico, mas entre todos os fatores não tenho dúvidas de que o ambiente político contaminado pela reação e pelo neofascismo, marca destes últimos anos da vida nacional, foi um ingrediente importante que ajudou a piorar o quadro de depressão do querido amigo.
Nesta noite tão triste – só agora me dou conta de que já passa de uma da manhã – recordo do Jorge sorrindo e de todos os momentos alegres que compartilhamos, na luta e nas noites do Rio de Janeiro, em companhia de tantos outros camaradas (Azevedo, Pereira, Douglas, Rangel, Pena, Edmilson, Djalma, Ana Rocha, João Carlos, Mauricinho, Marcos Costa, Roberto Monteiro, Charuto, Hélio Pedrenho…). Fiquemos com esta imagem, do Jorge comunista, combativo, carioca e botafoguense, e que ela nos console e nos dê forças para superar esta fase onde as trevas ainda prevalecem sobre as luzes.
E quando vencermos – e venceremos – será também em homenagem a Jorge Guilherme de Mello Barreto. Adeus, camarada.