Huawei sofre impacto das sanções e lança celular sem Google
A empresa criou um fundo de um milhão de dólares para motivar programadores a criarem aplicações especiais para os celulares da marca chinesa.
Karla Pequenino – Público
Publicado 19/09/2019 19:43
Os novos celulares topo de linha da Huawei vão chegar ao mercado sem aplicações do Google pré-instaladas. O Mate 30 e o Mate 30 Pro terão um sistema Android, mas virão sem serviços como o navegador Chrome, os Google Maps e o Gmail – e sem acesso à loja do Google para os instalar. A ausência destas aplicações torna os novos modelos menos atrativos para consumidores nos mercados ocidentais e que representa o primeiro grande impacto das sanções dos EUA na empresa chinesa. O Facebook, Messenger e Instagram também não virão incluídos, embora possam ser descarregados após a compra.
Os aparelhos foram apresentados nesta quinta-feira, em Munique. Os futuros utilizadores terão a oportunidade de instalar novas aplicações a partir da própria loja da Huawei, a Huawei App Gallery (é daqui que poderão descarregar as aplicações do Facebook). A empresa está disponibilizando um fundo de um milhões de dólares para incentivar programadores a criarem novas aplicações para os celulares da marca.
A iniciativa faz parte de uma estratégia para mitigar o impacto da falta de aplicações norte-americanas nos novos aparelhos da marca. Este ano, a Huawei viu-se no meio de uma disputa comercial entre os EUA e China quando o governo Donald Trump incluiu a empresa chinesa numa “lista negra” de entidades às quais as empresas americanas não podem fornecer serviços ou produtos.
“As sanções dos EUA impedem-nos de usar os serviços móveis do Google, obrigando-nos a usar apenas o núcleo de serviços da Huawei”, disse Richard Yu, director executivo para a área de consumo da empresa chinesa, em Munique. Yu esperou duas horas antes de abordar a questão do conflito económico entre a China e os EUA. “Por isso, vamos disponibilizar um kit para ajudar programadores de aplicações a criar melhores aplicações para os serviços de celular da Huawei”, disse Yu. “E vamos disponibilizar um programa de incentivos.”
O bloqueio do Google leva novos aparelhos da Huawei a ficarem barrados da loja de aplicações do Google e das atualizações do sistema operativo Android, que o Google desenvolve. Como alternativa, a Huawei está optando por utilizar uma versão em código aberto do sistema, que está disponível para qualquer pessoa ou empresa, com a esperança de que o recurso a incentivos financeiros motive programadores a desenvolverem aplicações compatíveis com o EMUI 10, a versão do Android da Huawei.
Se o programa não tiver adesão, a falta de acesso a aplicações populares, como o Google Maps e o YouTube, não é um bom presságio para a empresa: em 2017, a Microsoft desistiu de desenvolver o seu sistema operativo para celulares, o Windows Phone, devido à falta de oferta de aplicações para a plataforma. Lançado em 2010, o sistema da Microsoft chegou tarde de mais, com o Android e o iOS a dominar o mercado.
Os celulares da Huawei têm conquistado consumidores. Nos últimos anos, a Huawei é das marcas que mais tem crescido, tendo substituído a Apple no segundo lugar do pódio do maior número de celulares vendidos. A sul-coreana Samsung continua na frente.
No começo da apresentação desta quinta-feira, Richard Yu anunciou que as vendas de smartphones da empresa aumentaram 26% entre Janeiro e Agosto deste ano, face aos mesmos meses do ano passado. E a Europa é um dos mercados onde a marca tem tido sucesso a vender aparelhos topo de linha, particularmente da série Mate e da série P: em 2018, a fabricante enviou 26,3 milhões de smartphones para a região, de acordo com dados da analista IHS Markit.