De Olho no Mundo, por Ana Prestes

A cientista política e especialista em relações internacionais, Ana Maria Prestes*, analisa os acontecimentos que se sobressaem no cenário internacional. E nesta segunda-feira (26), o principal assunto em pauta continua sendo as queimadas na Amazônia e as atrapalhadas do presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

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Bolsonaro rejeita ajuda de bolivarianos. As chancelarias da Bolívia e da Venezuela convocaram reunião extraordinária da OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica – formada por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. No entanto, o Grupo de Lima se posicionou contrário à realização da reunião. Evo Morales, da Bolívia, também suspendeu por uma semana a campanha eleitoral do MAS para que o foco total seja no combate aos incêndios e disse aceitar ajuda de qualquer país do mundo.

No NYT Bolsonaro é chamado de líder insignificante.
A capa da versão impressa desta segunda-feira (26) do The New York Times (NYT) traz um texto intitulado “Uma devastação da Amazônia em todo o Brasil”. Uma das passagens mais divulgadas na imprensa brasileira é quando o texto diz que “um tesouro global está à mercê do presidente Jair Bolsonaro, o menor, o mais maçante e o mais insignificante dos líderes”.

G7 sobre Amazônia. A Amazônia terminou por ser um tema predominante da última reunião do G7, segundo relatos encontrados na imprensa. No entanto, Merkel e Macron discordaram do tom. Enquanto Macron segue beligerante e diz coisas do tipo “nós precisamos fazer esse reflorestamento”, Merkel adota um tom mais suave e fala em abertura para o diálogo e a cooperação. A Alemanha entende que uma postura de confronto com Bolsonaro fará o Brasil se fechar em copas ante a qualquer iniciativa. Sob a alegação de estar sofrendo “ataque externo” à sua soberania. Inclusive, foi vazado um vídeo e o próprio Bolsonaro divulgou em seu twitter, de um momento em que Macron, Merkel e Johnson estão conversando e Merkel diz que vai telefonar para Bolsonaro “para não dar a impressão de que estamos contra ele”, ao que Boris Johnson concorda dizendo achar importante. A diferença entre eles também revela a diferença em torno do acordo Mercosul – União Europeia. A efetivação do acordo interessa muito à pauta exportadora alemã, assim como a britânica e espanhola, já Macron encontrou a justificativa perfeita para se posicionar contra o acordo que não interessa aos produtores agrícolas franceses.

Trump e Netanyahu apoiam Bolsonaro na crise ambiental. Após postar o vídeo de Biarritz, Bolsonaro divulgou em sua conta do twitter que recebeu telefonema do primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu e que este, além de reconhecer os esforços do presidente, ofereceu o envio de aeronave com apoio especializado para combater os focos de incêndio na Amazônia, prontamente aceito pelo governo. Outro a elogiar Bolsonaro no mesmo tom pelo twitter foi Donald Trump, disse que havia falado ao telefone com o presidente, que vê com muita expectativa as negociações comerciais com o Brasil e que as relações entre Brasil e EUA possivelmente nunca foram tão boas. Por fim, se colocou a disposição para ajudar a combater os incêndios na Amazônia. O final de semana foi de mobilizações em todo o Brasil e em várias capitais do mundo de movimentos ambientalistas e contrários à política ambiental do governo brasileiro.

Bolsonaro sabia o Dia do Fogo. Enquanto isso, no Brasil, foi identificado um grupo de whatsapp envolvendo mais de 70 pessoas que combinaram de incendiar as margens da BR-163 no dia 10 de agosto e batizaram a data como o “Dia do Fogo”, como demonstração de apoio ao presidente. De acordo com o INPE, através de dados divulgados neste domingo (25), agosto de 2019 registrou mais focos de queimadas na Amazônia que a média dos últimos 21 anos. O aumento em números não parece muito significativo, mas segundo o pesquisador Alberto Setzer, em entrevista ao G1, é preocupante por elevar a média histórica para o mês de agosto e pelo fato de que ainda falta uma semana para o fim do mês. Os alertas sobre novos focos são fornecidos ao INPE por um sistema que leva o nome de DETER. Só nesse ano, os alertas emitidos pelo DETER foram 278% maiores do que no mesmo período (jul/ago) de 2018. O Diretor Geral do INPE, professor Ricardo Galvão, foi demitido no contexto da divulgação desses dados.

Ofensiva israelense. Israel bombardeou neste final de semana o Líbano pela primeira vez em 13 anos. Aliás, não só o Líbano, como a Síria, o Iraque e a Faixa de Gaza. Tudo isso nos últimos três dias. O grupo libanês Hezbollah denunciou o ataque com a primeira agressão de Israel ao Líbano desde a guerra de 2006 e disse que haverá represálias. A ofensiva israelense seria uma pretensamente uma “retaliação” a ações do Irã e do Hezbollah na Síria. Em Gaza segue o cerco que desafia a capacidade de sobrevivência dos palestinos na região. (Colaboração de Marcos Tenório).

Eduardo Bolsonaro estuda História do Brasil Paralelo. Eduardo Bolsonaro postou no twitter neste domingo (25) que está estudando História do Brasil para a sabatina do Senado. Ele citou a revisão de episódios em vídeo de uma produtora acoplada a um centro de formação à distância que leva o nome de Brasil Paralelo. Fui lá dar uma espiadinha no que se trata e encontrei vários amiguinhos do Bolsonaros seguidores do perfil @brasilparalelo, como Olavo de Carvalho, Bia Kicis, Carla Zambelli e outros. A movimentação maior no twitter do grupo foi em 2016 e há vários tutoriais sobre como evitar manipulação comunista e reaprender história, desfazendo a visão do seu professor “doutrinador”, segundo eles. É inegável que vivem mesmo em um Brasil paralelo.

Bolsonaro concorda que sua esposa é mais bonita que a de Macron. Entre as bizarrices do presidente, uma do final de semana foi seu comentário aprovador e sarcástico ao post de um apoiador que fez uma crítica depreciativa à primeira dama francesa, comparando-a esteticamente com a primeira dama brasileira.

Repressão em Biarritz. Do lado de fora do G7, foi grande a repressão policial contra manifestantes, organizados, entre outros, pelos Coletes Amarelos.

Avança acordo com a EFTA. Foram concluídas em Buenos Aires, na sexta (23) as negociações de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio), integrada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. A EFTA tem um PIB de 1,1 trilhão de dólares e cerca de 14 milhões de habitantes. Segundo o Itamaraty, o acordo pode gerar 5,2 bilhões de dólares de incremento do PIB brasileiro em 15 anos.

Itaipu Gate. No Itaipu Gate, é aguardada para amanhã (27) a presença de Hugo Saguier, ex-embaixador do Paraguai no Brasil, em reunião da Comissão Bicameral de Investigação do Congresso paraguaio para dar dados sobre a compra de energia da hidrelétrica de Itaipu. Saguier foi o representante oficial do Paraguai na reunião do dia 24 de maio em que se firmou a polêmica ata que quase redundou no impeachment de Marito. Um dos pontos a ser esclarecido pelo diplomata é se ele realmente recebeu do então presidente da estatal elétrica ANDE, Pedro Ferreira, um documento com os pontos importantes para a empresa a serem mencionados na negociação e se recebeu porque os ignorou.

FMI fiscaliza contas públicas argentinas. Na Argentina, enquanto apoiadores de Macri se manifestavam nas ruas, nos bastidores ocorria uma reunião que segue hoje do governo com técnicos do FMI. Eles estão revisando todas as contas do Estado e também haverá reunião com representantes da Frente de Todos, de Alberto e Cristina. Está previso o desembolso de mais uma parcela de mais de 5 milhões de dólares do acordo para setembro, mas o banco quer verificar se as “metas estão cumpridas”. Na semana passada, economistas da Frente de Todos, haviam alertado sobre sua preocupação com o nível decrescente das reservas internacionais argentinas que desde o último desembolso do FMI foram reduzidas e 9 bilhões de dólares.

Povos indígenas atingidos. Segundo a COICA – Coordenadora das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica, os incêndios na Amazônia brasileira e boliviana podem atingir 340 povos originários, somando cerca de 1,5 milhão de habitantes.

Trump e o Brexit. Trump quer um acordo pós-Brexit com o Reino Unido.