Os desafios da cidadania no Rio de Janeiro
Por iniciativa da Fundação Maurício Grabois, em parceira com PCdoB, aconteceu nesta quarta-feira, 14, a palestra "Rio: Cidade para todos", promovida no auditório Apolônio de Carvalho, no Museu da República. O encontro reuniu importantes urbanistas e arquitetos da cidade para debater caminhos para um Rio de Janeiro socialmente mais inclusivo.
Publicado 15/08/2019 20:24 | Editado 04/03/2020 17:03
A iniciativa do projeto é promover a discussão e ouvir da sociedade algumas sugestões para construção de um projeto de desenvolvimento municipal e estadual que vise o desenvolvimento da cidadania. De acordo com o mediador Theo Rodrigues, “a ideia é que sejam feitos vários debates ao longo do ano, inclusive sobre outros assuntos, como transporte, direito, cultura. Queremos um programa que possa unir as forcas progressistas”, afirmou.
O evento contou com palestrantes como Tainá de Paula, Mário Brum e Brizola Neto que apresentaram algumas ideias e projetos de políticas públicas cujo objetivo é fortalecer a inclusão social.
Temas como habitação, segurança, educação e saúde foram amplamente discutidos. Principalmente com relação às suas influências socioeconômicas dentro de comunidades e favelas cariocas. Com efeito, os palestrantes também comentaram sobre os problemas que geraram a situação de penúria atual no estado.
Para a urbanista Tainá de Paula, há um importante desafio a ser enfrentado pelo próximo prefeito e governador carioca: “Qual é o ativo da nossa cidade? Como transformar a cidade? Será uma cidade tecnológica, ecologista, em qual ativo iremos apostar?”, questiona a pesquisadora.
Prospectar uma saída para crise econômica no Rio de Janeiro foi um assunto que permeou a fala dos três palestrantes da noite. Tainá apontou que por muitos anos “a favela não esteve inclusa na lógica capitalista da cidade”. Por este motivo, há uma crise hídrica e de saneamento com efeitos devastadores para população. De acordo com ela, para recuperar a economia da cidade é preciso promover a revitalização destes lugares, “a inclusão social das pessoas passa por um desenvolvimento de infraestrutura geral nessas áreas”, afirmou.
Sem perder o fio da meada, Tainá ainda destacou que no Rio de Janeiro existem cerca de 1050 favelas, e “é preciso que se invista cerca de oito bilhões de reais para que possamos resolver o mínimo nesses lugares. Estamos falando de esgoto, lixo, calcada e 21 mil moradias em área de deslizamento”, concluiu a pesquisadora.
A mesma linha de raciocínio foi seguida pelo ex-ministro do trabalho Brizola Neto. Ele considera que é preciso urbanizar as favelas e discutir o orçamento para isso o quanto antes. Para ele, a retomada do crescimento econômico no estado depende da capacidade de seus gestores em garantir o mínimo de condições para os habitantes de favelas. Ele avalia que a inclusão social dessa população não poderá ser apenas econômica, mas, sobretudo, “é preciso incluí-los culturalmente e com as garantias e serviços dos demais cidadãos”, pontuou.
Para Brizola, “desenvolvimento econômico é para garantir expansão das políticas públicas e justiça social. O Rio precisa ter clareza sobre quais vetores irão retomar o desenvolvimento do estado. E a força das comunidades não pode ser esquecida. Será preciso investimento público para atrair empresas. E desenvolvimento da indústria cultural é uma prioridade que também precisa ser analisada”, finalizou.
Neste contexto, o urbanista Mário Brum, em sua fala, fez até uma brincadeira, em tom de seriedade: “Precisamos de um plano Marshall pra tirar o Rio desta situação. É preciso políticas públicas que transformem a cidade em um ambiente menos hostil”. Para ele, os grandes problemas de cidadania no Rio de Janeiro são a violência e a falta de uma política de habitação na cidade. Ele inclusive relembrou alguns dos problemas no programa “Minha Casa, Minha Vida”, e lamentou falta de soluções e políticas públicas nas gestões de Marcelo Crivella e Wilson Witzel.
Entre tantos assuntos abordados pelos palestrantes neste imenso universo sobre o que é preciso ser feito no Rio de Janeiro para que tenhamos uma cidade com uma maior inclusão social, o debate teve saldo positivo. A proposta de ouvir as demandas da população fluminense, e através do diálogo conceber um projeto de governo cujo grande objetivo é a inclusão social, pode ser um dos pontos fortes do campo progressista no próximo pleito.
O dialogo com as bases, afinal, precisava voltar a acontecer. É importante que tenha acontecido no Museu da República. Primeiro por tudo o que este representa para fundação da nossa República. Depois, porque este país é nosso, e cuidar da nossa gente deveria ser a prioridade número um de nossos governantes.