Elisângela Moura defende a participação política das mulheres
Por ocasião da 6ª Marcha das Margaridas que se realizará entre os dias 13 e 14 de agosto deste ano em Brasília, a Contag entrevistou a presidenta da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Piauí (FETAG-PI) e recentemente empossada deputada estadual (PCdoB) na Assembleia Legislativa do Piauí, Rosângela Moura.
Publicado 02/08/2019 17:01
A marcha é uma grande manifestação de trabalhadoras rurais que acontece desde o ano 2000, sempre na capital federal. Para além de agricultoras familiares, fazem parte das “margaridas”, mulheres “indígenas, quilombolas, ribeirinhas, pescadoras, marisqueiras, raizeiras, quebradeiras de coco babaçu e extrativistas que vêm de todos os ecossistemas do Brasil e da América Latina até Brasília, para apresentar uma plataforma política em defesa da classe trabalhadora, e principalmente das mulheres”, aponta o site da Contag.
Segundo a entidade, até chegarem a Brasília, as mulheres se reúnem em suas bases, Sindicatos, comunidades, associações e assentamentos, para discutir sobre os principais temas que dizem respeito as suas vidas. Um desses temas ou eixo político é a luta “Por Democracia com Igualdade e Fortalecimento da Participação Política das Mulheres”.
Para aprofundar o tema, segue abaixo a entrevista com a liderança sindical e parlamentar piauiense que esteve presente em todas as edições da Marcha das Margaridas.
Por que as Margaridas marcham por Democracia com Igualdade e Fortalecimento da Participação Política das Mulheres?
Estamos vivendo um momento de muita descrença na política devido a todos os fatos que vêm acontecendo (golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, a prisão política do ex-presidente Lula, e a atual implantação de um governo conservador e machista). Diante deste cenário de fragilização da Democracia e retrocessos de direitos, nós, as mulheres do campo, da floresta e das águas, somos convocadas para ocuparmos lugares estratégicos nos cargos do Executivo e do Legislativo, e sermos peças fundamentais para retomarmos os rumos do Brasil.
Muito preconceito?
O preconceito é um enfrentamento constante. A gente percebe o olhar de algumas pessoas se perguntando se isso procede e se é verdade… Mesmo com esses olhares, fui a primeira mulher a ocupar a presidência da FETAG-PI e a primeira deputada estadual agricultora familiar a chegar à Assembleia Legislativa. Estamos nesse espaço para reafirmar o compromisso junto à classe trabalhadora e manifestar a importância da participação das mulheres no parlamento. Portanto, aconselho as mulheres que queiram participar da política que sigam em frente e não desistam.
A luta por democracia está diretamente ligada a luta por igualdade e participação política das mulheres?
Se falamos em Democracia, afirmamos a igualdade e a paridade. Assim, só teremos um Brasil democrático e igual, quando desde o nosso parlamento, tivermos a mesma quantidade de deputados e deputadas, de senadores e senadoras. O que ainda está distante de ser uma realidade. Dos 81 senadores, temos 74 homens e 7 mulheres; Dos 513 deputados federais, 436 são homens e 77 mulheres. O cálculo da desigualdade entre homens e mulheres no Congresso Nacional, apontam que as Margaridas têm um longo caminho na luta por voz e vez.
Apesar das barreiras, há avanços?
A luta das mulheres teve uma grande conquista que se deu no sistema político eleitoral: Com o cumprimento, pelos partidos políticos e legendas, da cota de, no mínimo, 30% de candidatas mulheres aos cargos de deputadas(os) estaduais ou distritais, federais e vereadoras(es), e a destinação de 30% dos recursos do fundo eleitoral para candidaturas de mulheres, aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral, em 2018. Outro avanço se deu dentro do Movimento Sindical de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais (MSTTR), com a aprovação da paridade de gênero nos espaços deliberativos do sistema Contag.
Relembrando a escritora Simone de Beauvoir, acredito que “é pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta”. E a Marcha das Margaridas é exemplo deste trabalho incansável e da força política que nasce da organização das mulheres rurais, como ação fundamental da luta por igualdade, democracia e por melhores condições de participação política.